Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Tabu o caramba

30/10/2008


Torcedores. Se pensarmos em tabu, logo concebemos que "racionalmente" é muito difícil ganhar do Vasco em casa, certo? Errado, pelo menos uma vez devo concordar com uma frase atribuída ao Nelson Rodrigues que diz mais ou menos isso: "Torcedor é torcedor, não é inteligente". É isso! Não precisamos exercitar nossa inteligência tentando racionalizar tudo. Até porque, se a gente ficar preso à estatística, contabilizando "o mais isso" ou o "menos aquilo" a gente realmente desanima. Agora é hora de acreditar e mesmo a distância, torcer. Tabu? Não sei o que é isso. Mas esse texto não é só pra nós, torcedores, são para os atleticanos que estarão em campo hoje. Sempre quis fazer uma preleção porque não há mais paixão do que dentro do coração de um torcedor. Nela eu diria:

Vocês fazem o que todo menino diz que vai fazer quando crescer. Vocês jogam na melhor estrutura de futebol do país. Melhor, vocês fazem algo que lhes dá prazer e ainda ganham por isso. E não tem nada de cobrança nesta constatação. Apenas a lembrança de que é realmente uma bênção poder acordar para fazer o que gosta, num lugar bacana, com condição de exercer aquilo que escolheu fazer em boa parte da sua vida e ainda receber um bom dinheiro no final do mês, em dia, para compensar todos os esforços.

Eu sei o quanto machuca essas fases difíceis no trabalho. Amo o que faço, mas muitas vezes eu acordei sabendo que seria um dia daqueles; me revoltei com uma determinação “de cima”; fiquei fula quando alguém não reconheceu meu esforço. Quantas vezes achei que o mundo estava conspirando contra mim? Quantas vezes achei que meus colegas não pensavam em nada além de seus próprios umbigos, quantas vezes (bem menos do que as reais) me dei conta de ter feito uma bobagem daquelas? Inúmeras. Muitas mesmo. Mas de todas essas vezes, de tantas razões frustrantes diferentes, aprendi algo. Quando tudo isso que relatei não aconteceu, ou aconteceu ao contrário. Quando um cliente reconheceu meus esforços, quando fui gratificada por excelência no que fiz, tudo isso fez cada percalço valer a pena.

Todo mundo tem sua dificuldade. A grande mudança, a virada, a grande quebra dos tabus acontece internamente. Ninguém entrou na arena no último sábado tendo a certeza que ganharíamos do terceiro melhor time do campeonato. Mas alguma coisa aconteceu dentro de vocês. Algo aconteceu para que o Pedro, por exemplo, voltasse para marcar, para cobrir lateral, para cruzar, pra ficar na área mesmo com todas as limitações técnicas que ele sabe que tem. Lutou o tempo inteiro. Foi integro, manteve seu caráter inalterado. Isso aconteceu com outros jogadores, e por isso, só por isso nos ganhamos.

John Wooden, ex-técnico do UCLA Bruins, foi uma dessas pessoas que provocam mudanças internas para mudar o exterior. Pra quem nunca ouviu falar dele, uma apresentação breve: Em suas 12 ultimas temporadas do basquete universitário dos EUA, ele “só” ganhou 10! Foi a primeira pessoa a entrar no hall da fama como jogador e como técnico. Enfim, um vencedor nato. E sabem o que ele dizia: que o importante não era vencer. Vencer era só uma das conseqüências de fazer o melhor que se pode. Uma de suas frases mais célebres é “Não deixe as coisas que você não pode fazer atrapalharem as coisas que você pode fazer”.

O tabu não existe, vocês já o quebraram quando decidiram ganhar este jogo.


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