Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Loco é poco!

22/10/2008


Rafael Lemos estava acabando de escrever o quarto parágrafo da coluna que iria ao ar hoje, quando eu o arranquei da frente do computador e dei-lhe um soco no meio da cara. Pá! Bem no meio da cara. O caboclo caiu igual um saco de batatas. Um saco de batatas de 100 quilos.

Depois foi engraçado ver o sujeito levantar do chão, sem os quatro dentes da frente, com aquele “sorrisão 1001”. Dava pra ver os caninos ensangüentados. “Sorrisão 1001!”, estilo torcedor paranista! Os caninos frouxos pingando sangue. O Rafael não queria ser o Vampiro de Curitiba? Então: virou Vampiro, numa porrada só!

Se tem um troço que eu não tenho é paciência. Educação também nunca foi o meu forte. Fugi da escola na sétima série, depois de traçar a pedagoga. Eu tava na sétima série, mas já tava com 19 anos. Não tinha mais nada pra aprender ali. Tracei a pedagoga e fui pro mundo, pois escola só é bom mesmo pro dono que é quem ganha uma grana. Escola, pra mim, só de Samba.

Falando nisso, esses dias tava descendo a Dr. Muricy quando me deparei com duas paquitas de verde me olhando, me filmando. Me injuriei por dentro e os caras lá, me tirando. Não teve conversa, enquadrei ali mesmo, no ato: “Tão procurando marido, seus viados?”.

Os caras só na réplica: “Conhece a Império, aquela do verde e branco?”. Eu na tréplica: “Império de verde e branco, pra mim, só a Império Serrano, minha escola, curto um samba, o resto eu ignoro”. Falei isso e engatei um samba antigo da Império, aquele de 1969:

“Ô ô ô ô
Liberdade, Senhor,
Passava a noite, vinha dia
O sangue do negro corria
Dia a dia
De lamento em lamento
De agonia em agonia
Ele pedia
O fim da tirania
Lá em Vila Rica
Junto ao Largo da Bica
Local da opressão
A fiel maçonaria
Com sabedoria
Deu sua decisão lá, rá, rá”.

Cantei meu samba-enredo com lágrimas nos olhos, porque às vezes eu me emociono; mas os paquita riram de mim ali, na minha cara, debocharam do meu samba. Aí eu me irritei com eles e caí dentro, porrada a três por quatro, estourei a cara deles e foi com gosto. Sangue vermelho no asfalto preto contrastando com o verde e branco que eles usavam.

Tava desenhado o Atletiba que ninguém gostar de ver e nem de jogar. E na cabeça os versos dos Racionais: “Malandrão: eu? Ninguém é bobo. Se quer guerra, terás; se quer paz, quero em dobro”.

Onde eu ando de camisa aberta à meia-noite, pilantra não passa nem acompanhado do BOPE. Tão me tirando? Não tenho paciência e minha educação é pouca. Fugi da escola na sétima série, mas antes comi a pedagoga. Não aprendi Português, nem Matemática e nem porra nenhuma.

Falando em Matemática, andam dizendo por aí um monte de números: 52 dias pra cair, 74% de chances de cair, tudo papo furado. A Matemática da bola não obedece ao Pitágoras e equação nenhuma é suficientemente exata pra traçar de antemão o que só Deus conhece.

Um monte de Matemáticos do Apocalipse botando banca pra cima do mundo da bola, mas se Matemático conhecesse de bola ficava rico jogando na Europa e não ficava aí agüentando aluno e dono de escola. Tô errado, meu camarada?

Minha conta é simples: 4 jogos dentro da Arena, cada jogo 3 pontos, 4 vez 3 é 12; 12 com 28 dá quarenta. Fora de casa mais 4 partidas, em cada jogo 1 pontinho, pois fora de casa a cuíca sempre ronca mais baixo, 4 vez 1 dá quatro, com mais 40 e estão lá os 44 pontos necessários pro milagre. Então 74% de risco de cair é o cacete! Enquanto na minha conta der Atlético, vagabundo não me convence do contrário.

Agora, já não me bastassem os Matemáticos, me aparecem os Psicólogos! Porra, é um tal de baixa auto-estima daqui, de fator psicológico dali, de trauma acolá. Porra, desde quando jogador de futebol precisa de auto-estima, meu camarada?

Você já tentou imaginar o meu ídolo – Nego Fião – deitadinho no divã, dizendo estar arrependido de ter jogado, durante um Atletiba, o ponta verde Ronaldo gramado afora, quase fosso abaixo lá no Pinga-Mijo?

Você já tentou imaginar o Zé Roberto dizendo pra Psicóloga que a pinga e a zona tavam causando nele estresse pós-traumático? Ou Sicupa, o craque da oito, dizendo que por se chamar Barcímio a auto-estima tava ficando arranhada? Auto-estima? Pára com isso! Quem precisa de auto-estima é miss, jogador de futebol precisa de bola, de raça e de vergonha na cara!

Psicóloga boa mesmo só a Edith Aragão, uma gostosa, namorada do Vampiro do sorrisão 1001. Guria burra! Ficar com o Rafael Lemos podendo ficar comigo! Vá entender mulher, truta! Mulher é uma ciência inexata, meu irmão, não tem lição que faça a gente aprender.

Quer saber, cansei de escrever, vou pro epílogo e o resumo do pagode é o seguinte: acredito em Deus, na Pátria, no Atlético e na Família. O jogo só acaba quando termina e quem desiste de lutar é frouxo. Sabadão estarei lá na Arena da Baixada do lado do Atlético, indo pra cima do Cruzeiro.

Se você quiser me encontrar, não me procure pelo nome. Eu sou anônimo, mas pode me chamar de Atleticano. Louco, eu? "Loco é poco!", sou louco pelo Atlético, paixão maior que o peito e que a alma. Louco, eu? Pelo Atlético. Anônimo, mas pode me chamar de Atleticano!




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