Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Esperança II

20/10/2008


Alan Bahia recebe um passe primoroso de Geilson, fica cara a cara com o goleiro do Internacional e chuta... pra fora! Após rever o replay do lance e pela câmera atrás do gol e perceber que em momento algum nosso “artilheiro” olha para o goleiro ou para a meta e chuta, falo com meu amigo Lupe que no próximo ataque o Colorado fará seu gol.

Boca maldita! Alex mostra porque é diferenciado e no meio de vários defensores atleticanos dá um passe que encontra Nilmar para fazer o gol que abriu o placar. Castigo. Mas castigo mais que merecido, pois assim como no lance do golaço do camisa 10 do Internacional na segunda etapa, fica provado porque um Nilmar ganha seus R$ 120 mil por mês e porque um Alan Bahia da vida não merece ganhar (se é que o ganha) seus R$ 20 mil mensalmente. A diferença de qualidade de mais ou menos 15 dos 20 times da 1ª divisão brasileira para esse Atlético aí é abismal!

E com Geninho, ao menos em algumas partidas o Atlético em campo é algo ao menos um pouco parecido com um time de futebol profissional, não um bando que se reúne pouco antes do prélio e se conhece somente pelo número da camisa. Se a disciplina tática que nos fez segurar o Grêmio em casa, empatar merecendo ter vencido o bom time Coxa fora de casa e perder de pouco, chegando a ter domínio territorial no Beira Rio diante do Inter for mantida, podemos sim ainda ter esperanças. Na pior hipótese, já sabemos que a vaca foi pro brejo, que pior do que está é quase impossível, então nos resta torcer. Enquanto matematicamente for possível, temos que ter esperança.

Exemplos práticos existem. O Paraná Clube é a maior prova. Verdadeiro Don Juan da zona de rebaixamento, o time das diversas vilas e várias camisas fez de tudo para cair durante quatro anos seguidos, flertou diuturnamente com a segundona escapando com verdadeiros milagres e combinações de resultados. Depois cresceu, foi para uma Libertadores inclusive e sucumbiu no ano que menos se esperava. O próprio Internacional, beliscou a série B várias vezes, se reestruturou, mudou a direção (algo que urge em nosso combalido Atlético), deu a volta por cima sendo inclusive campeão do mundo poucos anos depois. O que bastou a estes times foi acreditar até o final, ter como um mantra na cabeça que é possível, que não se pode entregar-se enquanto houver chance.

E pela primeira vez no campeonato, levamos um gol e não brochamos. Pela primeira vez no ano o time leva um gol, levanta a cabeça e tenta. E levou outro gol, justo no momento em que parecia que iria empatar e lutou para conseguir um gol mesmo com um a menos e depois se jogou loucamente ao ataque para tentar empatar. Perdeu como perderia e como ainda vai perder, por ser um time fraco tecnicamente em frangalhos fisicamente. Mas lutou e isso sim nos dá esperança.

Esperança de que milagres aconteçam. Empatar em casa com o Cruzeiro já é lucro e o pensamento daqui pra frente deve ser exatamente este: o que vier é lucro. Acho improvável, mas não impossível que o time faça exatamente nas derradeiras oito partidas o que não fez desde maio. Parafraseando o amigo Henrique, é como ” largar na melhor balada da cidade, com grana no bolso o verdadeiro Peganingue, o cara que sempre passa em branco com a mulherada e dizer pra ele: `vai lá e pega cinco minas hoje´. Improvável que aconteça...”

Mas vai que o cara consegue? Vai que nosso ridículo ataque resolva fazer gols, que nossos volantes aprendam a marcar de perto, que Ferreira volte ao menos a tentar e que Netinho faça gols de falta que não tem feito? Vai que nosso DM se torne vazio a Geninho ao menos tenha opções para montar um time que, assim como fez no Beira Rio, lute até o fim, que não faça com que a gente sinta vergonha de ser atleticano como tem ocorrido nos últimos três sucessivos anos de abandono do futebol de um clube eminentemente de futebol como é o Clube Atlético Paranaense. Que eles não matem a última que deve morrer, a esperança. Que possamos ter a doce ilusão ao menos de escapar da degola, que eles não matem o que ainda nos resta de dignidade.

E assim, como o doente terminal que teve todo o tempo e dinheiro possíveis para tratamento mas insistiu durante anos que não tinha nada, que estava bem, que ninguém deveria se preocupar, o Atlético chegou na UTI e com poucas chances. Mas ainda com chances! E todos os torcedores dispostos a doar seus órgãos, a dar seu sangue, a entregar parte de si próprio, de cantar, gritar, espernear e tentar até o último pingo de suor possível fazer este doente sair da UTI (e depois sim, com médicos mais capacitados e menos teimosos na concepção de um tratamento sabidamente errado) levá-lo para o quarto e depois lhe dar alta, pois é vida que segue e mesmo respirando por aparelhos esse doente é o amor de nossa vida.

Quem ainda tiver, e não julgo quem acha que não dá mais ou simplesmente quem perdeu completamente a paciência e as esperanças, que esteja ao nosso lado, incentivando e sem cobranças neste sábado diante do forte Cruzeiro com o pensamento do que o que vier é lucro. Enquanto houver esperança, enquanto houver matematicamente que sejam chances de escapar, enquanto depender somente da gente, enquanto nossos jogadores mostrarem dedicação e empenho dentro de campo a verdadeira torcida que nunca abandona, a que não vai somente na boa, na fase que dá tudo certo, estará disposta a ajudar o Furacão. Depois do campeonato é outra história.

ARREMATE

”Mas pra que? /
Pra que tanto céu?/
Pra que tanto mar? Pra que?/
De que serve esta onda que quebra?/
E o vento da tarde? De que serve a tarde? /
Inútil paisagem”
INÚTIL PAISAGEM, Antonio Carlos Jobim, em “homenagem” ao CT do Caju e ao cientificismo que era empregado pelo “gênio” russo.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.