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Juarez Villela Filho
Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.
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Uma noite dessas estava em casa e passou no SBT um filme cujo enredo é meio manjado, porém interessante. Protagonizado pelo brilhante Samuel L. Jackson no papel de um professor ginasial do subúrbio de Los Angeles numa escola com jovens rebeldes, mães adolescentes, miséria e abandono aparentes, muros pichados e cuja única grande alegria era o time de basquete masculino. Aqueles garotos, na maioria negros, outros descendentes de latinos, enfim figuras marginalizadas e bestializadas à margem da sociedade tinham no esporte sua única alegria, sua única motivação.
Samuel que fora aluno daquela escola fechou o ginásio enquanto seus comandados não tirassem notas acima de 7 e tivessem no mínimo 90% de presença nas aulas. Não cumprida a exigência, permaneceu com o ginásio fechado causando comoção dos vizinhos, pais e parentes dos alunos e até mesmo da direção da escola. Por que fazer aquilo? Por que limitar o gênio criativo dos meninos na única atividade que tinham prazer e faziam bem feito? O professor manteve-se impassível, mostrando que o basquete não era tudo, que deveria ser um meio para algo melhor e não o fim para aqueles jovens.
Passado mais algum tempo, os líderes resolvem mostrar resultado ao professor que argumenta simplesmente que alguns deles não tinham a nota mínima que ele exigia:
- “Mas eu tirei conceitos A ou B em todas as matérias” – afirmava indignado o capitão.
- “Sim, e você pega a bola e joga sozinho? Ou você faz parte de um time? Todos tem que ter média acima de 7 e mais de 90% de presença, senão nada feito”.
- “ Mas senhor, olhe para nós, só temos o basquete, nada mais nos resta...”
- “Por isso mesmo que quero que estudem, pois o basquete não é tudo. Dos meus colegas de classe somente eu continuei os estudos e me formei. Mais da metade ou já morreu ou está presa, é isso que querem para o futuro de vocês?”
Segue o filme com os atletas se ajudando, obtendo boas notas, voltando aos treinos e chegando as finais do estadual de basquete da categoria, quando perdem para uma escola de ricos de São Francisco. Ficou o exemplo as superação, da força de vontade, da luta diária e do futuro garantido a todos, terminando o filme com a indicação do que cada um daqueles atletas seguiu, uns jornalistas, um advogado, outros técnicos de informática, de eletrônica e tudo mais.
Lembrei do filme ao ver nosso time em campo sábado. Mas há uma diferença enorme e crucial entre os garotos do professor Samuel Jackson e os comandados de Geninho. Independente dos problemas, dos dramas pessoais, da individualidade de cada um daqueles homens ou moleques, o time de basquete americano tinha algo que nós não temos: talento. Deixados os problemas de lado, os meninos negros e pobres tinham uma qualidade fora do comum e não à toa chegaram até a final do torneio, mesmo sem estrutura e tendo ficado sem treinar por meses devido ao “castigo” que lhes foi imposto. O time atleticano é ruim de doer e isso me parecia tão claro que o apontava como um dos seis piores times do Brasil ainda em maio, sendo duramente criticado por alguns por isso. Aí está o resultado que fala por si só.
Ao ver duas das esperanças atleticanas, dois ícones de uma geração vitoriosa do rubro-negro tendo que sair de campo contundidos ainda na primeira etapa pensei nisso. Pensei em Julio Cesar, vice artilheiro da segundona de Portugal e sua contusão misteriosa. Pensei em Rafael Moura, o sujeito que fez menos de meia dúzia de gols no últimos 18 meses mesmo sendo atacante. Lembrei de Joãozinho com seus quase 10 kg a mais que o aceitável para um atleta profissional, bem como de Kelly e Alberto, ambos já com mais de 30 anos, este sem jogar constantemente há muito tempo e o outro vindo de cirurgias e um bom tempo parado. Vejo em campo também o guerreiro Gustavo, se rastejando, mas não desistindo nunca e um time formado essencialmente por “renegados”, por atletas que não estavam sendo aproveitados, por restos, por rejeitados em seus clubes.
Ter um ou outro nessas condições é aceitável até. Denis Marques veio para cá com litígio na justiça sob seu contrato, teve até que ficar um período suspenso, mas era exceção num time bem montado. Até mesmo Galatto, nosso único brilhante jogador no campeonato chegou aqui “de graça” porque o Grêmio não o queria mais. Ter alguns jogadores que venham se recuperar física e clinicamente aqui, ou um e outro que estejam sem contrato ou com litígio é uma exceção aceitável; inaceitável é fazer da exceção a regra, como esse horroroso time de 2008, fruto dos sucessivos erros desde 2006.
De tanto insistir no erro, paga agora o Atlético Paranaense e sua gigantesca e maravilhosa torcida o preço do improviso, da política do barato que sai caro. E olhem, com todos esses erros cometidos, se ao menos se trouxesse alguém decente, Geninho mesmo que fosse no lugar de Roberto Fernandes ou mesmo se ele viesse poucas rodadas antes, no lugar de Mário Sérgio, teríamos de 4 a 5 pontos a mais hoje que nos dariam um respiro.
Enquanto houver esperança estarei lá apoiando e cantando para meu time do coração vencer. Mas o enredo de juntar fracassados, renegados, verdadeiros losers e fazer deles um time campeão não dá certo nem em enredo hollywoodiano. Porque até lá há de se ter um mínimo de talento e qualidade.
Se não temos cacife para ter trazido Iarley hoje no Goiás, se não temos condições de chegar na Ferroviária, nossa “parceira” e trazer Renato hoje na Ponte Preta, se os então encostados no Corinthians Dinelson vão para o coxa e Lima para o Figueirense e se não chegamos num time como o alvinegro de Santa Catarina e trouxemos um Cleiton Xavier, e ao mesmo tempo não temos condições de competir com as rendas, com o espaço na mídia, com a verba de TV do São Paulo, do Palmeiras, se não temos a torcida do Flamengo e suas fontes de renda e nem os quase 100 mil sócios do Internacional, vivemos num estranho limbo do futebol brasileiro, nem cá, nem lá, no meio do nada.
PARABÉNS
O que seria de Batman se não fosse o carismático Pinguim, um dos mais inteligentes e perspicazes personagens da história? E o Super Homem, que combate seu ex-amigo Lex Luthor, seria o mesmo sem ele? E se os Jedis e depois a Aliança Rebelde combatessem somente os clones e não o maior vilão de todos os tempos, o maléfico Darth Vader?
O que seria de nós atleticanos se não fossem os coxas? A vida, assim como quando imita a arte, seria sem graça.
Meus cumprimentos ao clube mais antigo do Estado, atual campeão estadual e que faz uma bela, porque não surpreendente campanha este ano. Trato-os como adversários, nunca como inimigos até por ter alguns de meus bons amigos defensores das cores do alviverde (que estranhamente é chamado de verdão, visto ter camisa branca, calção preto, meias cinzas...)
Longa vida ao Coritiba Foot Ball Club, nosso eterno rival.
ARREMATE
”Todos acham que eu falo demais /
E que eu ando bebendo demais/
Que essa vida agitada /
Não serve pra nada.” DEMAIS, Tom Jobim e Aloysio de Oliveira
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