Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Titanic

08/10/2008


Ele foi feito para ser “inafundável”. A mais perfeita obra de engenharia e mecânica até então feita pelo homem. “Nem Deus afunda o Titanic”, provocavam seus mentores e diziam na publicidade sobre o maior transatlântico construído pelo homem em 1911. De tão bem pensado e estruturado ele foi feito para navegar eternamente, fruto dos sonhos sem fim dos homens que o idealizaram.

Seu luxo e ostentação o tornavam algo fora do comum. Imensos salões, todo o conforto para as classes especiais, cozinha internacional de primeira linha, toda a comodidade possível e imaginária aos abastados. Enquanto isso, milhares de pobres cruzavam o Atlântico em busca do Eldorado, confinados nos porões de tão portentosa máquina mas nem por isso deixavam de fazer sua festa, de serem alegres e sonharem com um futuro melhor.

Misturando ficção e realidade, o filme homônimo gravado em 1997 e que fez o jovem Leonardo di Caprio saltar para o estrelato mostrou a bela história de amor entre a endinheirada garota da alta sociedade britânica, rica e entediada, com tudo mas sem nada de verdade e o jovem plebeu, artista, pintor, sensível e que mostrava a ela que dinheiro decididamente não é tudo, não é o valor absoluto da vida, não compra a felicidade. Mostrou a ela o amor verdadeiro, mostrou a alegria dos seus com suas humildes festas no porão do navio, contrastando com o tédio das risadas falsas e forçadas dos ricaços nos lindos salões do Titanic.

Tarde de uma das noites da viagem inaugural, por absoluto desleixo e excesso de confiança somente na máquina pelo homem criada houve o acidente que se tornou fatal. Um iceberg à frente, demora em uma tomada de decisão, a falha do seu Almirante que não estava no comando naquele momento, a inevitável colisão e a hemorragia que tomou a casa das máquinas em um pouco mais de duas horas pôs fim ao sonho megalomaníaco do Titanic. Houve ainda a negligência dos comandantes ao demorar na correta informação sobre a gravidade do incidente, além do desleixo em se saber que havia menos botes e coletes salva-vidas do que o número de passageiros a bordo. Poucos se salvaram, muitos inocentes morreram sem ao menos terem idéia do que efetivamente acontecia, uma catástrofe se abateu sobre o gélido mar Atlântico, mas o Almirante, mesmo sabedor que tinha sua boa parcela de culpa no ocorrido não abandonou o navio que naufragava. Ficou, assim como os atônitos violinistas do Titanic tocando a última música de suas vidas, não se mexeram, sabiam não poder evitar aquela morte que se prenunciava, mas faziam sua parte, desfalecendo com lirismo, com poesia.

Mesmo numa situação caótica como essa, o Comandante do nau não abandonou a embarcação, naufragando com ela e quem sabe acreditando que um milagre os salvaria. Nem o Comandante do Titanic abandonou o barco, porque outros comandantes o fariam quando ainda se pode lutar contra um destino que parece, infelizmente, cada vez mais certo?

ARREMATE

Qualquer semelhança com um time de futebol que se estruturou e a partir dessa linda e sempre ovacionada estrutura deixou claro que lutaria sempre para brilhar, para nunca mais naufragar, um clube que ostenta luxo, riqueza e beleza exterior, mas que esconde problemas e sujeira em seus porões, um time de futebol que se mostra rico mas é entediante, mas que mesmo assim conta com entusiasmados que fazem festa mesmo na desgraça, um clube que parece naufragar e levar junto consigo o pobre povo do porão, representado por quase 20 mil sócios, um clube cujo comando na hora H, diferente do Almirante do Titanic joga a toalha ou simplesmente some, não é mera coincidência.

Enquanto houver um barquinho para nós meros e simples torcedores do Clube Atlético Paranaense remarmos, estaremos lutando com força para salvar o time que amamos. Ao Comandante que olhou bombordo, estibordo e se jogou na proa, boa viagem; nós vamos continuar lutando!


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