Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Pára, Fleury!

07/10/2008


Deu na Furacao.com: “Com as dificuldades aumentando e uma tabela complicada, o presidente do Conselho Gestor Rubro-Negro, João Augusto Fleury da Rocha, falou a respeito da situação do Atlético à Gazeta do Povo on-line em matéria assinada pelo jornalista Thiago de Araújo”. Segue a matéria em seus principais trechos.

“O Atlético jogará o calendário que ele tiver de jogar, independente de Série A ou B. Creio que sairemos desta situação, mas não acho que atuar na Segunda Divisão seja algo vergonhoso. Veja quantos times grandes caíram nos últimos anos, se reformularam e voltaram. O Palmeiras e o Grêmio, que estão liderando, são dois exemplos. Então não podemos ser passionais, nos desesperarmos. É preciso ter calma neste momento”, disse Fleury, em entrevista a Gazeta do Povo on-line.

Apesar da situação crítica na tabela e dos protestos da torcida, o presidente do Conselho Gestor ponderou que a situação do Atlético é comum no futebol. “Nós não pecamos em nada, procuramos contratar da melhor forma possível, mas algumas peças não deram a respostas em campo. Isto é comum no futebol, não só no Brasil. Nem sempre é possível acertar em todas as contratações, mas não mudaremos o planejamento que já temos para 2009”, afirmou.

Na matéria, o dirigente Rubro-Negro ponderou que nenhum rival poderá tirar sarro da situação do Atlético. “Quem aqui poderá tirar sarro se cairmos? Uma das equipes de Curitiba está na Série B e a outra subiu neste ano, após dois anos lá. Ninguém pode falar absolutamente nada na cidade, nenhum atleticano precisa se envergonhar diante disto”, alfinetou o presidente, afastado do cargo desde setembro”. (http://www.furacao.com/materia.php?cod=27394).

A entrevista merece longas considerações. Passo a fazê-las.

Dr. Fleury é um cidadão exemplar, excelente advogado, pai de Família e um Atleticano de quatro costados. Já escrevi isso e ratifico para que não pensem que há de minha parte contra ele algum tipo de problema pessoal.

Não há problemas, nem ressentimentos e nem ódios entre mim e o Fleury; ao contrário. Fleury esteve em casa dos meus pais, em 1990, ocasião em que pudemos conversar, longamente, sobre as coisas do Atlético. Fleury é um bom sujeito, um homem cordial.

Ocorre que, por incrível que pareça, Fleury, quando toma o microfone nas mãos para falar sobre o Atlético, tem sido de uma infelicidade jamais vista.

Em 2004, após derrota em casa diante do Figueirense, deitou falação contra a Torcida Atleticana e nos chamou de vagabundo pra baixo.

Noutra ocasião, chamou-nos de falácia. Mais tarde, disse que as saídas de Clayton e Ferreira não fariam a menor diferença para a sequencia (já sem o trema) da Copa do Brasil e para a conquista do Estadual 2008.

Segundo Fleury, só pessoas ignorantes seriam capazes de alegar que as saídas do Clayton e do Ferreira seriam determinantes para o insucesso do Atlético naquelas competições. Na época, eu fui contra a saída dos dois atletas e disse que as saídas iriam, sim, comprometer nosso sucesso nas duas competições do primeiro semestre.

Ao dizer isso, e seguindo a lógica do Fleury, vesti a carapuça vermelha conferida a todo saci da ignorância futebolística. Ocorre que, no final das contas, acabamos levando fumo nas duas competições e foi-se ralo abaixo nosso primeiro semestre.

Agora Fleury concede entrevista à Gazeta e amplia, na minha ótica, seu cartel de infelicidades ditas ao microfone. “O Atlético jogará o calendário que ele tiver de jogar, independente de Série A ou B”. Como é que é, Fleury? O senhor está querendo convencer a galera de que Série A e B são quase a mesma coisa e que, no fundo no fundo, só mudam as letras?

Aí, não, né! Parece-me que jogar um calendário de Série A seja coisa muito mais importante, interessante, adequada e valiosa do que cumprir a pedregosa tabela da Série B! Ou o senhor vai querer nos convencer que, no fundo no fundo, a Arena foi edificada no intuito de sediar jogos da SEGUNDONA? Não, né?

“Creio que sairemos desta situação”. Certo, certo. Mas desculpe perguntar: o senhor crê numa saída com base no futebol que a gente anda jogando desde 2006 e notadamente neste segundo semestre de 2008, ou sua crença vem de algo metafísico e religioso, tipo uma visão onírica que o senhor tenha tido, mais ou menos como sonhar ver o Alan Bahia dando um passe de trivela pro arremate fatal, certeiro, fulminante e salvador do acutíssimo Pedro Oldoni contra as redes do Botafogo, dentro do Engenhão, ou contra o Flu dentro da Arena?

Sei lá, Fleury, crenças – muitas vezes – não bastam. Eu mesmo acreditei em tanta coisa que nunca se realizou. Falaram que 2006 ia ser o ano do futebol no Atlético, depois ficou pra 2007, depois pra 2008 e agora a gente nem sabe mesmo pra quando vai ser o nosso futebol (e nem como vai ser, né?).

Crenças, desprovidas de bases sólidas, são crenças ou apenas crendices, Fleury? Sonhos, incompatíveis com a realidade que vemos em campo e fora dele, tornam-se o combustível de alimentar a Esperança ou apenas o combustível queimado na longa e indefinida Espera, Fleury? Esperamos há tanto tempo o “ano do futebol no Atlético” que muitos já cansaram de ter esperança e isso mata a gente, Fleury!

“Não acho que atuar na Segunda Divisão seja algo vergonhoso”. Sabe, Fleury, eu também não acho vergonhoso, mas acho um baita retrocesso na vida de um time grande como o Atlético Paranaense. Fleury, a gente que esteve numa final de Libertadores, há 3 anos, agora tem de se convencer que SEGUNDONA não é vergonha?

Mas o que é que a gente gritou pros verdes, depois da queda coxa, em 2005? Fleury, a gente gritou pros verdes, a plenos pulmões: VERGONHA! TIME SEM-VERGONHA! Fleury, depois de 13 temporadas na Elite do futebol brasileiro, disputar a SEGUNDONA? Sei lá, Fleury, é difícil concordar com você, amigo! SEGUNDONA, na cabeça da gente, era coisa que tinha sido superada na vida do Atlético lá em 1995 quando voltamos à Série A, lugar de onde nunca poderemos sair, pois nosso lugar é entre os grandes, por destino, por vocação, por História!

“É preciso ter calma neste momento”. Fleury, ter calma? Neste momento? Quem há de ter calma, amigo? Fleury, neste momento, é preciso ter ALMA! Alma, Fleury, pois a calma já se perdeu há tempos, como não poderia ser diferente.

“Nós não pecamos em nada, procuramos contratar da melhor forma possível, mas algumas peças não deram a respostas em campo. Isto é comum no futebol, não só no Brasil. Nem sempre é possível acertar em todas as contratações, mas não mudaremos o planejamento que já temos para 2009”.

Fleury, negociar o Clayton e o Ferreira durante as disputas do Estadual e da Copa do Brasil não foi pecado? Dispensar o Ney Franco, que entende de bola, trazer o Roberto Fernandes e ainda depois trazer o escalafobético Mário Sérgio não foi pecado? Então foi o quê? Amadorismo? Erro primário? Desconhecimento de bola?

Fleury, Danilo e Pedro Oldoni estão à altura do Clube Atlético Paranaense? Mantê-los é pecado, perda de tempo ou superstição? Fleury, o planejamento para 2009 vai ser inspirado no último triênio ou a gente pode sonhar com um Atlético do triênio de ouro 1999-2000-2001? Se já temos um planejamento para 2009, cabe a pergunta: foi feito com vistas à Série A ou à Série B, Fleury?

Fleury, você conta com a adesão dos 20.000 sócios-furacão para 2009 ou já admite a possibilidade de que metade deles – ou mais - nem sequer vai admitir a hipótese de renovar seus planos?

Fleury, nem sempre é possível acertar, concordo; mas errar, da forma que a gente vem errando, desde janeiro de 2006, isso, realmente, não é mais possível e você há de concordar comigo. Ou não?

“Nenhum rival poderá tirar sarro da situação do Atlético. Quem aqui poderá tirar sarro se cairmos? Uma das equipes de Curitiba está na Série B e a outra subiu neste ano, após dois anos lá. Ninguém pode falar absolutamente nada na cidade, nenhum atleticano precisa se envergonhar diante disto”, alfinetou o presidente, afastado do cargo desde setembro”.

Fleury, a gente chegou a rivalizar, de cabeça erguida, com São Paulo, Santos e Grêmio. Agora estaremos ao alcance dos deboches dos verdes e dos multicoloridos paranistas. É verdade que pode não chegar a ser vergonha, mas que é um retrocesso escandaloso, ah, isso é! Creio que sairemos desta situação, mas minha crença anda cada dia menor, como a imitar o triste apequenamento do futebol atleticano.


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