Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

A gente precisa acertar

03/10/2008


Na última terça-feira, após 12 horas de trabalho, não tive ânimo para ir à Baixada acompanhar Atlético X Chivas. Como sabia que o jogo ia passar na tevê a cabo, resolvi ficar em casa, no melhor estilo “Ô, da Poltrona”.

Descaso? Não. Era, na verdade, a certeza de obter a classificação para a próxima fase da Sul-Americana, pois se o time reserva, no México, tinha arrancado o empate, parecia-me lógico que, dentro de casa e com o time titular, o Atlético liquidaria o Chivas em dois ou três goles.

Não foi, infelizmente, o que aconteceu, e não vou me alongar na história do jogo, pois esta já foi chorada em prosa, em verso e em profusão. Deixo de lado a história da partida para falar de suas personagens.

É possível que minhas palavras não agradem boa parte do elenco que, naquela oportunidade, fez do gramado da Arena o palco de uma atuação cômica, circense, quase uma ópera-bufa.

Paciência se não gostarem da minha coluna. Estaremos empatados, pois também não gosto do futebol que vocês andam apresentando (futebol, aqui, é o modo de dizer, posto que futebol mesmo vocês não apresentam há tempos).

Porém minha crítica não vale para todos, porque na terça-feira – em meio ao amontoado que foi o time do Atlético – salvou-se o Rafael Moura. Salvou-se o Rafael Moura e, se dentre os demais houvesse outro Rafael Moura, teria se salvado também o Atlético.

Mas não havia e por isso morremos todos. Morremos de raiva, de desespero, de desencanto, de decepção, de tristeza – seja lá qual tenha sido a causa mortis, morremos. Morrer é verbo intransitivo, dispensa os objetos, porém aceita adjuntos de tempo, de lugar, de modo, etc.

No Paranaense, morremos NO DIA 4 DE MAIO DE 2008. Na Copa do Brasil morremos DENTRO DA ARENA. Na Sul-Americana, morremos DE NOVO, DENTRO DA ARENA E SEM JOGAR ABSOLUTAMENTE NADA!

Porém minha crítica não vale para todos, porque na terça-feira – em meio ao arremedo que foi o time do Atlético – salvou-se o Rafael Moura. E só! E salvou-se pelo trabalho, como deve acontecer com todo homem de bem. E salvou-se pela luta, pela entrega, pelo empenho.

Não houve bola perdida para ele; não houve nem um instante sequer de abatimento. Correu, gritou, xingou, chutou a bola perdida na placa e marcou duas vezes. Ao final da partida, parecia haver dois Atléticos.

Um era o Atlético aguerrido do Rafael Moura, que, mesmo perdendo, não aceita a derrota como coisa normal, pois tem a vocação e o desejo da vitória.

Outro era o Atlético dos demais, que, mesmo vencendo, como na partida contra a Lusa, não perde aquele ar burocrático, aquele jeito de quem faz apenas a obrigação e olhe lá.

O Atlético do Rafael Moura não se conforma. O outro Atlético empata e acha bom, pois um pontinho é sempre um pontinho no final das contas: é um Atlético conformado, cabisbaixo, alquebrado e anêmico. É o anti-Atlético, é a negação da nossa Raça e da nossa História. É um Atlético que não reconhecemos; sobretudo, é um Atlético dentro do qual nós não nos reconhecemos.

E foi esse contraste que levou o Rafael Moura a vociferar contra alguns companheiros, como mostra o trecho adiante transcrito, publicado neste site:

“Agora, foi a vez do atacante Rafael Moura vir a público e pedir mais atitude dos jogadores. “Ainda tem jogadores que podem dar um algo mais”, declarou. “Vamos lavar roupa e vamos lavar muito bem, porque a gente precisa”, afirmou.

Após o Atletiba, o jogador já havia chamado a atenção de companheiros. Na ocasião, disse que Ferreira poderia render mais e que Valencia não deveria assumir sozinho a culpa pelo resultado.

Durante o jogo com o Chivas, Rafael Moura bateu-boca, dentro de campo, com dois colegas. “Não foi só com o Alan (Bahia), discuti rispidamente com o Ferreira também”, confessou. “Ali não tem como pedir por favor, dá licença, ou qualquer coisa nesse sentido. A conversa tem que ser essa. A gente precisa acertar”.

O atacante contou que convocará uma reunião entre jogadores para discutir os problemas do grupo. “Tem que ver quem pode render de outra maneira, jogando em outra função. Tem que ver quem acha que está sendo sacrificado”, comentou. “Não é conversa de cobrança, de briga ou de porrada, como em outros clubes”.

Rafael Moura ressaltou que só a união entre os jogadores vai salvar o Atlético. “Eu dependo do meu companheiro do lado e ele depende de mim”, argumentou. “Seria muito ruim o Atlético cair. Ainda dá tempo de ter essa conversa e tirar o Atlético dessa situação”, afirmou.

Para ele, o grupo tem condições de fugir do rebaixamento. “O Atlético é criticado por todo mundo, mas tem jogadores que já venceram em grandes equipes”, comentou”.

Pois bem, faço das palavras do Rafael Moura as minhas palavras e sei que todo Atleticano que se preze faz o mesmo, neste momento, pois o Rafael tem mostrado em campo tudo aquilo que a torcida quer: Raça, Disposição, Trabalho, Coragem, Força e Fé.

Espero, sinceramente, que o Rafael Moura não sofra nenhum tipo de retaliação dentro e fora do Atlético, pois ele teve a Coragem e a Hombridade de cobrar mais futebol de certos jogadores que, como a gente tem visto, não estão dando ao Atlético nem futebol, nem trabalho e nem respeito.

Sei que alguém que se rebela publicamente contra seus companheiros, exigindo deles algo mais, acaba sendo alvo fácil para os ataques mais covardes e sorrateiros. Imagino que alguns atletas estejam até hostilizando o Rafael Moura por conta de suas declarações. Se estiverem agindo assim, estarão agindo errado, pois o Rafael adquiriu, dentro do campo, a moral de fazer as cobranças que fez.

No entanto, os jogadores citados - e espinafrados pelo Rafael – perderam, dentro do campo, também, o resto da moral que tinham, uma vez que não estão fazendo nada em prol das coisas do Atlético.

Ferreirinha, achou ruim? Volte a jogar bola que a gente te elogia, “caboco”! Pedro Oldoni, fez beicinho? Faça gols que a gente te aplaude, “baby”! Alan Bahia, achou a crítica um porre? Quer que façamos uma paradinha nela? Jogue bola, “malandragem”, que a gente faz até um sambinha em tua homenagem!

Rafael Moura, força pra você, guri! Você tem a força e a fúria necessárias para fazer do nosso Atlético, uma vez mais, um Furacão! E aos demais atletas Rubro-Negros, personagens fundamentais para nossa permanência na Elite, vai daqui o conselho: é preciso ter humildade para ouvir as críticas e grandeza para transformar derrotas em vitórias.

Acredito na grandeza de vocês e não quero crer que vocês vão se perder em atitudes subalternas, como eventuais retaliações. Há momentos difíceis na vida onde não dá para pedir por favor, dá licença, ou qualquer coisa nesse sentido. A conversa tem que ser essa, dura e objetiva. Afinal, a gente precisa acertar.

P.S.:

1. Leiam a coluna do Poeta e Amigo velho de guerra Flávio Jacobsen, publicada ontem no site oficial do Atlético. O texto "Um Atlético vogal" é de uma beleza inacreditável e indescritível:

http://www.atleticoparanaense.com/colunas/texto.php?lista_valor=449;

2. Dr. Ricardo Barrionuevo, pela amizade, por fazer da Medicina um Instrumento colocado a serviço do Bem e do Próximo e pela Humanização da Medicina promovida por você nos gestos mais simples e cotidianos, vai daqui o meu abraço e a minha eterna gratidão;

3. Ao Amigo e Escritor Silvano Silva, meus agradecimentos pelos livros que me foram presenteados, todos eles com fraternas e ternas dedicatórias a mim e a Edith. É preciso ter alma de menino para escrever sobre a Infância; é preciso ter coração de Homem para entender o coração dos Homens e Mulheres já crescidos, mas que ainda se encantam pela vida, como nos tempos de criança!


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