Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Chega de saudade

01/10/2008


“Vai minha tristeza
e diz a ela que
sem ela não pode ser

Diz-lhe numa prece
que ela regresse,
porque eu não posso mais sofrer”


A música de Tom Jobim em parceria com o imortal Vinicius de Moraes foi imortalizada pela voz e violão de João Gilberto é tida como o primeiro registro fonográfico da Bossa Nova, gênero musical conhecido como o jazz tupiniquim e que comemora seu cinquentenário em 2008. Falando em João Gilberto, meu humor após mais uma derrota e eliminação em casa deve se assemelhar ao desse senhor, ele um gênio da música, eu um mero torcedor atleticano.

Não quero mais sentir saudade de Kléber e Alex Mineiro, artilheiro e vice do Brasileiro deste ano. Somados os dois (Kléber 19, Alex 16) fizeram quase uma dezena de gols a mais que todo o time atleticano! Chega de saudade deles, de Washington, que ainda faz seus gols, ou de ver Jadson, Fernandinho e outros mais fazendo gols e levantando canecos onde estão e aqui vivermos de ilusão, de decepção atrás de decepção.

Este time do Atlético pode não ser pior tecnicamente que times que tinham o já veterano Miranda, o carismático Marola, o perdedor de gols Manguinha ou o lento Wilson Prudêncio. Craque mesmo era só o Carlinhos, assim como foi Renato Sá, meu primeiro ídolo e Nivaldo, este muito melhor com a bola nos pés do que com as palavras hoje em dia. Mas todos estes jogadores, por pior que fossem as condições, a falta de estrutura, a falta de perspectiva que vivia o Atlético foram campeões por aqui! Coisa que este elenco não fez e nem o fará! Não quero mais sentir saudade de uma época que sei não voltar mais.

Ferreira é um camisa 10 como foi João Carlos Cavalo, mas este não fugia do jogo quando a coisa esquentava. Se Ricardo Blumenau nunca emplacou, marcou seu nome na história ao fazer o gol que deu a vitória contra o Flamengo na reinaguração da Baixada em 1994, não perdendo gols bizarros como o fraquissimo e eterna promessa Anderson Aquino. Se Jadir ou Fião eram zagueiros de parcos recursos técnicos, tinham ao menos dignidade de correr com o adversário até o final e não desistiam no meio do caminho como faz constantemente Danilo. Os times mais antigos poderiam até ser ruins, tanto ou um pouco mais ou menos que este de hoje em dia (na verdade desde 2006) mas tinham jogadores com vergonha na cara, limitados porém guerreiros como hoje em dia somente Galatto, Netinho, Valencia, Pedro e Rafael.

Não dá mais para ficar somente tendo saudades de um Atlético que se modernizou, é empreendedor, estruturado e que adora se vangloriar de ter as finanças em dia. É preciso que o Atlético se volte para a frente, para o futuro e as eleições de dezembro próximo vão desenhar o rubro-negro dos próximos anos: um clube de negócios, financeiramente estável e com futebol burocrático e cujos resultados são incertos, ou um clube enfervecente, inflamado, com jogadores de capacidade e com foco em títulos, não somente em equilíbrio contábil e financeiro.

A hora é mais do que nunca de união, mas me pergunto o que mais pode o torcedor rubro-negro fazer para ajudar o clube a sair dessa situação? Por muito menos torcedores coxas foram recepcionar e acabaram apanhando dos próprios jogadores no aeroporto anos atrás; palmeirenses, hoje líderes do campeonato pixaram os muros do Palestra porque o time não vencia fora de casa (olhem nosso retrospecto como visitante: 1 empate/ 1 vitória / restante derrotas); vascaínos invadiram a concentração ameaçando jogadores, tendo inclusive Morais pedido para ser negociado e hoje está no Corinthians; flamenguistas (no grupo dos classificados para a Libertadores) invadem treino, soltam rojões e bombas amedontrando os jogadores; torcida do Figueirense invade treino, solta rojões sobre os jogadores e os insulta exigindo resultados (o time nem figurou entre os últimos ainda). E o que faz o torcedor atleticano: chega a marca de 20 mil sócios mesmo com um time ridículo dentro de campo!

Chega de saudades de um tempo que ficou para trás. O Atlético precisa começar a definir o que quer do futuro, ser um clube empresarial ou um time de futebol, cuja única verdade absoluta é a vitória. Adap/Galo, Paraná e Coritiba pelo estadual, Volta Redonda, Fluminense e Corinthians Alagoano pela Copa do Brasil e Pachuca na partida de ida e agora Chivas mais uma vez dentro de nossa própria casa pela Sul Americana precisam saber que um dia existiu sim um clube temido, amado pelos seus, respeitado pelos demais e chamado pelo forte nome de Furacão. Essa é uma marca que tem que tornar a ser constante, não pode ficar somente na saudade.

Pelo fim da era do apequenamento, pela limpa no elenco, desligamento imediato dos descomprometidos, dos “avoados”, daqueles que não merecem vestir essa camisa (ou voltar a vestí-la como Rodriguinho depois de tê-la jogado ao chão dentro de campo), pela volta de um tempo em que nós atleticanos nos sentíamos representados por atleticanos dentro de campo e em especial no comando do clube. Chega de saudade das coisas boas, que elas voltem a acontecer dentro de campo.

ARREMATE

Sugestão: Chega de Saudade – a história e as histórias da Bossa Nova, de Ruy Castro. Livro grosso, mas de fácil leitura e apaixonante do começo ao fim, como toda boa obra de Tom & Vinicius.


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