Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Mentalidade

17/09/2008


A grandeza do Grêmio Portoalegrense é inconteste. Seus infindáveis títulos regionais, a fama de time “copeiro” e o topete de estar quase sempre em igualdade na competição com os times do eixo, além dos títulos internacionais (mesmo que eles não gostem deste nome) o fazem um dos maiores time do Brasil. Passei vários finais de ano, meu aniversário e Natal incluso, no interior do Rio Grande do Sul, em Soledade, terra de homem feio e mulheres lindas. Lá, como em praticamente toda cidade gaúcha, não se discute se tu és judeu ou palestino, se tu és cristão ou protestante, se tu és direita ou se és comunista, nem se tu gosta mais de carne bem ou mal passada: tu tens que ser colorado ou tricolor. Não importa a idade, credo, cor, sexo, tu tens que torcer para Internacional ou Grêmio. Na infância tive alguns diálogos assim:

“- Mas Juareizinho, pra quem que tu torce?
- Pro Atlético.
- Que Atlético?
- Esse aqui ó, Atlético Paranaense.
- mostrando a camisa parecida com a do Flamengo
- Tá tudo bem, mas aqui, pra quem que tu torce?
- Pra ninguém!
- Mas como ninguém guri? Tu tens que torcer pro Colorado ou pro Grêmio, não tem como!
- Eu só torço pro Atlético, gosto do Marolla, do Carlinhos, conhecem?
- Bah guri, tu não entende nada mesmo....”


Essa identidade, essa identificação com nossas próprias coisas nunca tivemos muito fortemente. Talvez pelo Paraná não ter sido colonizado por poucos povos, como alemães e italianos fizeram nos pampas, mas sim por uma diversidade incrível destes dois povos europeus, mais holandeses, poloneses e ucranianos em especial, mas muitos espanhóis, portugueses e asiáticos em especial japoneses na região norte do Estado. E isso também se reflete na pouca torcida dos times paranaenses pela terra das Araucárias afora.

Por outro lado tanto Grêmio como o Inter fizeram sua parte na história para serem do tamanho que são hoje. O que o Atlético tenta desde o início do século, ser vanguarda, enfrentar os grandes do Rio e de São Paulo que contam com uma mídia espontânea gigantesca, estão no centro nervoso do país, são as capitais culturais e financeiras da nação, os gaúchos já o fizeram nas décadas de 70 e 80, terminando seus grandes estádios, conquistando títulos de relevância e, em especial se mantendo entre os primeiros do Brasil durante um bom tempo.

Não dá é em pouco tempo o Atlético, já comparado diversas vezes pela própria direção, com o Internacional com seus quase 100 mil sócios, um clube centenário, tri campeão Brasileiro, campeão de Copa do Brasil e que recentemente venceu uma Libertadores e um Mundial se o Colorado é do tamanho que é, se consegue captar mais recursos e é um gigante, muito se deve ao fato de que dentro de campo o Inter já fez sua parte, o que facilita a obtenção de mais dinheiros, conquistar mais torcedores, ganhar mais títulos e assim sucessivamente.

Toco neste ponto de indentidade por ver a desmobilização paranaense para a vinda da Copa do Mundo para Curitiba. A mais civilizada, a capital que detém alguns dos melhores índices de desenvolvimento humano, de satisfação da população, uma cidade que têm sim os problemas que qualquer metrópole do mundo possui, mas que sempre teve soluções bastante inteligentes para driblar esse problemas, a que detém inclusive o melhor e mais moderno estádio (ainda que incompleto) do país, pode ficar de fora da maior festa do futebol mundial por picuinhas, por desinteresse, pela falta de visão.

No Rio Grande do Sul, a capital Porto Alegre sugeriu o estádio do Beira Rio como sede, estádio esse que já vem passando por modernizações, mas sofrerá grandes mudanças para estar apto a receber uma Copa do Mundo e tem como principal foco o fato de estar no concreto e não no papel. Maquete, desenho na tela do computador e croquis abertos sobre a mesa qualquer um consegue fazer, erguer um estádio é outra história. Por politicagem, por falta de sentimento de paranismo, por inveja, por falta de jabá talvez, não vemos mobilização dos grandes meios de comunicação para que Curitiba mostre que é capaz de sediar um evento dessa maginitude.

Agora especula-se que o Coritiba, até que enfim terá um estádio condizente com sua tradição e o tamanho de sua torcida que merece sim mais conforto, menos infiltrações e que faça verdadeiramente seu estádio balançar e não que ocorra o contrário: ela ser balançada pelo concreto trepidante. E fala-se que este moderno e novo estádio é que seria a sede da Copa do Mundo de 2014, tendo Curitiba sido escolhida. Ótimo, justo se for a melhor solução, mas por que não termos esse apoio que hoje em dia é concreto no Joaquim Américo e não um papel ou maquete como o do rival?

Não apoiar a vinda da Copa para nossa cidade é de um pensamento tacanho, pequeno e incongruente sem tamanho. Atletas, delegações e especialmente torcedores de vários países vão ficar no hotel do paranista, no shopping do coxa branca, vão consumir no restaurante do alviverde, vão usar o táxi do torcedor do tricolor, vão visitar sim os outros estádios de futebol e com certeza usarão a estrutura de centro de treinamentos ou mesmo os campos de jogos dos demais times da cidade. Não pensar na melhora da rede hoteleira, de transportes (quem sabe daí o metrô não sai do papel?), de comunicação, no incremento de renda sobre a alimentação e hospedagem, onde até eu e um grupo de amigos já pensamos em montar uma pousada, um albergue para torcedores de países latino americanos que queiram gastar pouco, é de uma burrice tremenda.

A questão é de mentalidade. Lógico que seria uma honra receber jogos de tamanha importância na Baixada, acho uma boa idéia e com certeza lucrativa para todos, em especial ao Atlético. Mas fazer campanha veementemente contra, apoiando inclusive uma candidatura tida como rival, como é a da bela Florianópolis, é falta de civismo, do princípio da razoabilidade e principalmente de inteligência. Mas, cada um com sua mentalidade!

ARREMATE

“Vai meu coração, ouve a razão/
Usa só sinceridade/
Quem semeia vento, diz a razão/
Colhe sempre tempestade”
INSENSATEZ – Vinicius de Moraes


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