Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Atlético: ainda morro disso!

05/09/2008


Estou doente, desde quarta-feira à noite, e não pensem que é força de expressão ou recurso estilístico. Estou doente de fato e de direito. Otite grave nos dois ouvidos e faringite "exuberante", conforme as palavras do doutor.

A febre chegou a 39,8 graus, mas baixou por conta da medicação que comprei a peso de ouro (quase 200 contos de remédios. Como se já não me bastasse tanto prejuízo futebolístico ainda apareceu essa encrenca otorrinolaringologística. Criançada, não usem essa palavra aí, pois nem sei se ela existe. Pode ser apenas delírio causado pela febre).

Pois então, o médico falou que tudo foi causado por bactéria e por mudança brusca na temperatura da cidade, até porque a umidade relativa do ar baixou a níveis críticos e só podia dar nisso mesmo.

Ele disse isso tudo, passou a receita, mas a culpa foi do Atlético, porque depois daqueles 4 a 0 meu organismo tampou os ouvidos, de propósito, em autodefesa, para que eu fosse poupado de ouvir os gritos histéricos do Edinho Nazareth e mais as desculpas de toda sorte para os permanentes azares do elenco.

Fui dormir com a certeza de que o Atlético havia se tornado a própria materialização - ou a institucionalização - do Samba do Crioulo Doido, de autoria, se não me engano, do Sérgio Porto.

Aliás, muito se fala do tal Samba, mas a letra que é boa mesmo poucos conhecem e não me custa transcrever aqui parte da obra. Vai lá:

"Foi em Diamantina, onde nasceu JK, que a princesa Leopoldina arresolveu se casá, mas Chica da Silva tinha outros pretendentes e obrigou a princesa a se casar com Tiradentes, Lá iá lá iá lá ia, o bode que deu vou te contar! Lá iá lá iá lá iá, o bode que deu vou te contar! Joaquim José, que também é da Silva Xavier, queria ser dono do mundo e se elegeu Pedro II".

Como se lê no parágrafo anterior, o Samba do Crioulo Doido é uma bagunça de cima a baixo e, perdoem-me os mais sensíveis, nosso Atlético desde janeiro de 2006 não tem sido outra coisa, posto que nos tornamos um Clube onde tudo parece estar fora de ordem, não obstante a melhor das intenções de todos, é evidente.

Não vou aqui me alongar nos acontecimentos desastrosos ocorridos desde janeiro de 2006 e tampouco vou procurar culpados para este ou aquele ato.

Erros e acertos fazem parte da vida, a gente aprende com eles e o que nos resta é ter humildade e sabedoria suficientes para seguirmos adiante, de cabeça erguida.

Beleza. Não vou falar dos erros do passado, mas não posso me furtar de comentar o presente. Neste ano, houve Ney Franco, depois Roberto Fernandes, daí Mário Sérgio e agora, felizmente, Geninho.

Ney Franco é bom treinador e só não foi campeão estadual em cima dos verdes porque lhe tiraram duas peças fundamentais e aí nem Telê Santana, se estivesse entre nós, faria melhor. Ney Franco é bom e se um dia tiver de voltar será bem recebido. Conhece do riscado e tem provado isso.

Roberto Fernandes não é do ramo, não sabe nada e não vai emplacar em time nenhum. Vai ser o sucessor do Givanildo pelos sertões do Nordeste, terra de gente valente, e pelo norte, lá pelas bandas de Manaus, onde mora meu camarada Marcelo Brasil, a quem mando daqui um abraço.

Mário Sérgio Pontes de Paiva! Bom, neste só os ingênuos acreditaram. O homem - tido e havido pelos inocentes como o pai do time campeão brasileiro de 2001 - assumiu o Atlético com ares de que faria acontecer o milagre da reabilitação.

Com cara de "xá co beque", o aparvalhado Mário Sérgio fez mais uma das suas, não nos levou a lugar nenhum e saiu com a naturalidade de quem estava por aqui só de passagem mesmo.

Descompromissado, foi cuidar doutros afazeres, já que é homem que se desdobra nas funções de técnico, comentarista, manager (não sei se a grafia é esta), etc., etc., etc. Foi. Foi tarde. E que não volte!

Por fim, chegou o fabuloso Geninho, este a dispensar qualquer comentário. Sabe tudo de futebol e é bom caráter.

Em 2001, pegou as peças soltas que o genioso Mário Sérgio tinha atirado ao chão, num de seus recorrentes acessos de fúria e de fuga, e fez com elas um time campeão, aliás fez um timaço, no 3-5-2, fez um Atlético genial, fez um trabalho de Geninho. Com o perdão do trocadilho, acho que a coisa se resume bem assim: Mário Sérgio é genioso; Geninho é genial! Tá escrito e acho que é isso mesmo.

Só que as peças que neste ano da Graça de 2008 Mário Sérgio abandonou no gramado não têm a qualidade que tinham as peças de 2001, reconheçamos, infelizmente.

E aqui é que aparecem as inevitáveis questões:

1. Geninho salvará o Atlético como fez em 2001?

2. Geninho será apenas uma resposta tardia às exigências da Galera Atleticana? (Arriscando-se a queimar o filme quase que numa reprise da trajetória de Vadão. Lembrem-se que o Vadão tinha se dado bem na Seletiva de 99 e no título Estadual de 2000, era aclamado como herói Atleticano, mas retornou - sem ter em mãos grandes elencos - e se queimou com a Galera).

3. Há qualidade técnica em nosso elenco a ser explorada pelo experimentado Geninho?

4. Conseguirá Geninho ensinar futebol para quem não sabe? (Não vou citar nomes para não botar lenha na fogueira, mas os nomes nem precisam ser - mais - citados).

5. Geninho solicitou reforços de peso. Está certo, haverá reforços, mas se meditarmos bem, se fossem jogadores de peso mesmo, daqueles que fazem a diferença dentro de campo, estariam à solta no mercado a esta altura do campeonato?

6. Em 2001, a arrancada se deu dentro da Arena contra a Lusa. Mesmo adversário, no mesmo palco. Será só coincidência?

As respostas - todas elas - virão até dezembro quando estará respondida, também e principalmente, a grande questão que tem nos tirado o sono: o Atlético fica na Elite para 2009 ou cai?

Sejam quais forem as respostas que virão no futuro breve, já existem conosco grandes certezas: ninguém aqui vai deixar de ser Atleticano; ninguém aqui vai baixar a cabeça diante dos adversários; ninguém aqui vai deixar de amar este Atlético que nos deixa doentes, como estou desde a última quarta-feira.

Ninguém aqui vai perder a Fé e o Fanatismo, marcas de um povo que não teme a própria morte.

O médico atestou que minha doença - otite dupla e faringite exuberante - foi causada por bactérias, dentre outros fatores coadjuvantes, mas eu sei que foi causada por amor, pelo amor imenso que eu tenho - e que a gente tem - pelo Atlético.

P.S.:

1. O Samba do Crioulo doido: música lançada em 1968 pelo Quarteto em Cy, fez grande sucesso em todo o Brasil, por retratar, com fina ironia e humor, as confusões que os compositores das Escolas de Samba faziam querendo contar fatos da História do Brasil em suas composições para o carnaval.

2. Mostra pra eles, Geninho, o que é o Atlético. Boa sorte e saiba que estamos com você, pois você será sempre na nossa História um cara simplesmente Genial.


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