Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Sandálias da humildade

05/09/2008


Não foram poucas as vezes que nós exigimos, juntos, o afastamento de Mario Celso Petraglia do departamento de futebol do Atlético. Aliás, exigimos há algum tempo que fosse inclusive “criado” um departamento que desse ao futebol do Atlético uma atenção maior. Em meio ao universo de negociações e toda a pompa que conduz o Atlético há mais ou menos três anos, o clube esqueceu que vive e viverá apenas de “futebol”.

Por vezes fui criticado, algumas vezes duramente criticado, chamado ao clube para acompanhar de perto “como se faz futebol”. Não fui, pois há muito tempo o Atlético preocupa-se com outros valores, e deixou de lado o aspecto “futebol”. E quem deixa de lado um trabalho importante a ser realizado, não sabe praticá-lo, muito menos ensiná-lo. Há algum tempo não existe futebol no Atlético.

Portanto, Petraglia não se afastou do departamento de futebol do Atlético. Ele se afastou de um momento, de uma situação, delegando poderes a alguém que, ao contrário dele agora, dará a cara pra bater. De uma forma ou de outra, a condução do clube será a mesma, e o discurso dos dirigentes mudará apenas de personagem. Só há uma pessoa que possa modificar a história: o próprio presidente Mário Celso Petraglia. Ou seja, o próprio autor. E a melhor e mais prudente atitude não seria anunciar o seu afastamento do futebol, e sim trazer novamente ao comando de futebol do Atlético os velhos e bons atleticanos que de fato entendem do assunto. Sim, para se “fazer futebol” é essencial que se tenha conhecimento do chão em que se pisa.

Mas isso talvez fosse muito além do orgulho de Petraglia. Ele teria que se despir, e vestir, de uma vez por todas, as sandálias da humildade.

Trazer Geninho, o eterno ídolo atleticano, é um passo. Apenas um passo para se atingir a humildade. Acertou, na minha opinião, mas errou ao manter Edinho na direção do futebol. Assim como foi dispensado Mário Sérgio, Edinho também deveria ter sido, praticando-se aí uma verdadeira “limpeza” no futebol do Atlético, somando-se as dispensas de quem já provou que não merece vestir a camisa rubro-negra, como Danilo, Márcio Azevedo, Anderson Aquino, Rodriguinho, Antonio Carlos e Alex Fraga. São fracos, e os que fracos não são, possuem a liderança negativa que está acabando com o Atlético dentro de campo.

O Atlético, quando o árbitro da partida apitou o fim de jogo em Goiânia, deveria ter se preparado para uma revolução. Havia chegado a hora de se lavar a roupa suja, de se esclarecer a podridão que anda habitando o CT do Caju, de trocar o silêncio pelas verdades, que já não são ditas há muito tempo. Tudo o que se faz é passar a mão na cabeça do torcedor e dizer em alto e bom tom: “e o que já foi feito até agora? Não vale nada?” Perdeu-se, após o jogo em Goiânia, a oportunidade de recomeçar. A partir de agora, injustamente, a nossa única esperança em um recomeço passou a atender pelo nome de Geninho, o eterno Geninho.

Um baita risco. Por outro lado, Geninho não veio assim, através de um simples convite ou um simples telefonema. Ao saber do estado caótico do Atlético, acredito que Geninho tenha aceitado o desafio diante de algumas condições, o que sinceramente nos dá um novo alento e uma esperança de que existe uma luz no fim do túnel. Geninho não é burro, e se chegar ao clube com carta branca e com autonomia para tocar o time, vai sim tirar o Atlético desse caos em que o time se encontra.

Já era evidente que o Atlético não vinha perdendo jogos para o Goiás, Palmeiras, Atlético Mineiro ou São Paulo. O Atlético perdeu jogos para ele mesmo. Perdeu muito mais do que pontos. Perdeu o rumo, perdeu o compromisso, perdeu a dignidade e perdeu o respeito. Perdeu, acima de tudo, a auto-estima de um clube vencedor. Só não perdeu o que já não se têm há muito tempo: o comando do futebol.

Novos tempos? Talvez. Espero, profundamente, que ainda tenhamos tempo para poder pensar grande. Espero, do fundo do coração, que os discursos e textos “fáceis”, que a timemania acumulada, as ilusões, as invenções e os fantasmas sejam mandados todos ao fogo do inferno. Espero que se dê mais importância ao Futebol do Furacão do que à medíocre marca Caparanaense, estampada em letras horríveis e garrafais no uniforme mais lindo do mundo. Espero que uma nova cultura seja instalada, e que sejam afastados todos os safados que não produzem mais o mínimo de futebol dentro de campo. Espero que meros centavos de moedas jamais sejam maiores que a nossa paixão.

Por fim, espero sinceramente que as “Sandálias da humildade” ainda estejam encostadas ao lado da porta de Mário Celso Petraglia. Ainda dá tempo, e num singelo movimento, o autor pode vesti-las a qualquer momento.

** Dedico esta coluna ao amigo Antonio Fernando Braganholo, que de tão aflito, tão preocupado e tão indignado, parece estar quase sem esperanças. Parece piada, mas Braganholo é apenas mais um entre tantos e tantos atleticanos que já não sabem mais se o nosso Atlético ainda existe.


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