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Fernanda Romagnoli
Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.
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“Há algo de podre no reino da Dinamarca”
04/09/2008
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Foi o que escreveu Shakespeare em sua obra, Hamlet. Adaptações feitas; não conseguimos entender o que acontece, pois em meio a provável podridão há também mistério. A “nossa Dinamarca” é quase impenetrável, cheia de contrastes que confundem, enfim, “mais coisas do que sonha nossa vã filosofia”.
Não existem mais elogios ou incentivo. O que sobraria seriam palavras de conforto, mas nem isso eles merecem. Desculpem-me a dureza, que não é minha e sim dos fatos, mas não há o que se reconhecer de bom. Esforço? Não sei em qual planeta vivem os sujeitos que enxergaram esforço no elenco rubro-negro deste ano. Quem tem visto os jogos com olho de torcedor pode falar do esforço que não existiu. E é por isso que causa estranheza. Não era pra ser excelente, mas também não era para ser essa lástima de time. Há algo de podre em tudo isso.
Gente demais e por muito tempo no departamento médico. Gente de menos em posições necessárias há tanto tempo para o nosso time, como por exemplos os laterais. Atacantes que não parecem jogadores, quem dirá goleadores. Volantes? Fora o de carro, não se sabe o que é isso no Atlético Parananense. Sem falar em técnicos: Nenhum deles, nem o Nei, tinham o perfil do nosso clube, da nossa alma. Junte-se a tudo isso a famosa “maré psicológica”... Pronto: estamos parecidos com o segundo time deste estado quando, salvo engano, perdeu oito rodadas seguidas e caiu. Destino que parece aproximar-se de nós.
Saindo do campo, honestamente, fico injuriada com a inércia. Mais preocupação com coisas periféricas ao futebol em campo: excessivo marketing da marca antes da “prestação do serviço”, briga com jogadores (não to falando do mau caráter do bambizinho), coletivas desastrosas para não dizer nada com coisa nenhuma e o fato de termos mais sócios e não termos o retorno disso. Isso tudo só nos puxa para baixo. Aliás, sou só eu que estou fazendo essa conta? Duvido. Há um ano, o rei da “nossa Dinamarca” disse que só com os sócios poderíamos crescer. Depois de crescermos o triplo de sócios do ano passado perguntamos em quê nós crescemos. Até o momento, só na pressão sanguínea e no stress!
Precisamos parar com desculpas, pois para cada uma delas existe uma resposta:
“O mercado não está bom”, dizem. Não está bom pra ninguém! Para os que estão no alto, no meio e na parte baixa da tabela.
“Não vamos investir uma barbaridade para ter um jogador de qualidade”, repetem incansavelmente. Por que não? Só o Claiton e o Alex Mineiro carregaram um time nas costas!
“Não existem mais jogadores disponíveis”, lançam. Engraçado, o que fazem os times que não têm nossa bela estrutura, lá em cima da tabela? Será que é porque o nosso clube passou a ser evitado por todos, até os jogadores? A verdade dói, mas tem gente com time C muito melhor que nosso time principal.
“Nosso projeto, no longo prazo, é mais importante” Que projeto Deus do céu ??? Qual é o maior projeto de um time de futebol? Cair para a segunda divisão? Ficar sem títulos?
Há muito pouco tempo foi alardeado aos quatro ventos que o Atlético Paranaense estava se livrando dos empresários abutres. Bem, se isto aconteceu para que tivéssemos esse time medíocre, então não somos tão bons administradores do futebol-empresa quanto gostamos de dizer. Não podemos só servir como “academia matsubariana” para os atletas. Tampouco depósito de jogadores em fim de carreira ou sem perspectivas de retorno (em campo, é bom que se diga, pois grana é conseqüência). Será mesmo que não existe um lateral ou um atacante que realmente preste pra nós neste país de proporções continentais? É aí que reside a maior hipótese de podridão: quem ganha com os jogadores que temos hoje? Certamente não é o time. Certamente não é de hoje.
E os jogadores? Tudo bem o psicológico estar abalado, mas será que eles estão tendo a noção do que estão fazendo com suas carreiras? Será que eles acham que tudo bem cair? Duvido. No entanto, parecem não dar a mínima em campo. Você não vê mais jogador do Atlético gostando de jogar, da sua profissão, daquilo que é pago para fazer. Se eu trabalhasse como o Alan Bahia tem jogado, seria a primeira da lista de um provável corte de custos.
Não sei ao certo as respostas de todas estas questões, mas o que sei é que o caminho pra segunda divisão é esse e estamos nele. Parece que, do portão pra dentro, ninguém acordou ainda para essa evidência. Ou se acordou, estão desnorteados. Estamos nos sentindo peças de um joguete cujo objetivo é tentar negar a crise de identidade pela qual passamos há 4 anos.
E até que as coisas sejam respondidas em campo, “o resto é silêncio”, como diria Shakespeare em sua obra, Hamlet.
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