Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Jogando a toalha

04/09/2008


No boxe, no MMA, nas lutas em geral, há a tradição de jogar a toalha para interromper um combate. O corner do lutador tem esta prerrogativa, indicando a desistência do combate. Normalmente, é feito para preservar a saúde do atleta. Lembro quando Hélio Gracie, em ato de extrema honra, autorizou que a toalha fosse jogada durante o intervalo de uma luta em que a lenda Royce Gracie havia resistido, por cerca de meia-hora, a um bravíssimo Kazushi Sakuraba, pelo Pride Grand Prix de 2000. O próprio japonês veria seu segundo atirar a toalha durante o castigo que sofreu pelo brasileiro Ricardo Arona, anos depois.

Às vezes, no entanto, a toalha é atirada por total falta de condições do lutador de reagir no combate. Quando o combatente está absolutamente entregue, o corner atira a toalha não só para preservar sua integridade física, mas para poupá-lo de uma humilhação maior. Uma "eutanásia", digamos assim.

É o que o Atlético devia fazer. Se possível fosse, deveria abandonar o Brasileiro e iniciar a preparação para a segunda divisão em 2009. Seu torcedor não merece mais tanta humilhação. Os golpes que o atleticano vem levando de seu time são muito mais dolorosos que as joelhadas que Wanderlei Silva desferiu contra o nariz de Quinton Jackson. A humilhação de tomar duas goleadas de 4x0 em duas semanas, sem o menor sinal de reação, é forte demais.

Seria bonito dizer que devemos lutar, que "sou atleticano e não desisto nunca", 300 de Esparta, coisas do gênero, mas a verdade é que a nós, torcedores, não cabe mais nada. Fizemos tudo o que era possível, e sem dúvidas continuaremos fazendo. Mas estes jogadores não farão nada. Estão muito longe até mesmo de lutar por uma morte digna, como os espartanos. Morrerão "ao natural", como se sua honra, sua profissão, de nada valessem. Um time que é goleado novamente e não mostra o mínimo sinal de indignação, de inconformismo, de vontade de lutar, não merece lamentações.

Sim, já fomos um time de série B para baixo. Sim, já vivemos uma situação em que usávamos meias-furadas e treinávamos no campo da Vidraçaria Cometa. Sim, nossa história já foi bem mais negra. Mas não tenho notícias de termos tido um time tão passivo, tão apático, tão alheio a tudo que representa a camisa do Atlético.

Jamais jogarei a toalha pelo Atlético. Mas por vocês, bando de fanfarrões que vestem a camisa do Atlético, eu já joguei faz tempo. Nego-me a permanecer respirando por aparelhos, agonizando, enquanto os bacanas esnobam a camisa do Clube que amo desde criança. O mínimo que nossa diretoria deveria fazer é dar outra camisa para este time atuar. Inteira preta, em sinal de luto, inteira branca, sei lá, mas que não levasse o emblema do Clube Atlético Paranaense.

Tudo que consigo almejar nesse momento é que em 2009 eu não seja submetido à sacanagem de torcer por estes mesmos atletas (vou me furtar de escrever qualquer adjetivo). Que venha a segundona, mas com um time digno. Só isso.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.