Dary Júnior

Dary Pereira de Souza Júnior, 53 anos, é pantaneiro de Corumbá, está no jornalismo desde 1987 e canta na banda Terminal Guadalupe. Era flamenguista, mas virou a casaca de tanto ir à Arena da Baixada – e sempre paga ingresso. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2005.

 

 

Filosofia de corneta

22/08/2003


"O maior drible que Ricardinho deu foi na diretoria do Atlético". A frase é do jornalista Adaílton de Barros Bittencourt Filho, o Gereba. Meu companheiro de arquibancada definiu bem. O tal atacante faz uma firula ou outra, mas produz pouco. Ele simboliza o time, medíocre.

Pode soar - e soa - ofensivo. Por mais que o treinador Mário Sérgio apele para retiros e recursos psicológicos, não há motivação que faça uma equipe tecnicamente limitada tornar-se vitoriosa. Só vi isso uma vez: em 1982, quando a Itália venceu a Copa da Espanha.

Cá entre nós, o Atlético não é a Itália. Aquela seleção tinha jogadores medianos, como Conti, Scirea, Gentile. No gol, um veterano de 40 anos, Zoff. No ataque, um centroavante desacreditado que estourou logo contra o Brasil, Paolo Rossi. Foi quando o esforço superou o talento.

Não temos mais craques - e já faz tempo. Kelly, Lucas, Kléberson (o de antes da Copa da Ásia), Fabiano, Souza, ídolos da história recente do clube, dão saudade. Restaram promessas, como Diego, Dagoberto e Ilan, e voltou uma esperança, Alex Mineiro.

Há problemas em todos os setores da equipe. O principal, na minha modesta condição de corneteiro, é o de posicionamento. A zaga vacila, o meio-campo cria pouco, Ilan ainda não achou seu espaço com a chegada de Alex Mineiro.

Já foi pior, é verdade. Um certo Lê conseguiu enganar Vadão e jogou uma partida. Tão pífio foi seu desempenho em campo que um torcedor folclórico do Atlético, Cezinha Pinto Murcho, pediu a entrada de Lobatón - e ele entrou, acredite se quiser.

Enrolei você até aqui para dizer que discordo de meu querido amigo e colunista Serginho, o Tavares, para quem o time é bom e a torcida deveria reclamar menos. Discordo em parte. Nossa equipe é fraca, sim. Só não dá para cobrar muito. Evitar o rebaixamento está de bom tamanho.

Ou seja: aquele debate proposto pela Furacao.com sobre o que deve ser prioridade para 2003 nunca foi tão conveniente. Estruturar o clube (ampliar o Centro de Treinamento e concluir a Arena da Baixada) ou montar um supertime? Sou pelo planejamento.

Que ninguém se iluda. A estruturação dá resultado. Veja o caso do Cruzeiro. Desde que passou a lidar com planejamento de médio e longo prazo, o time só acumula títulos. Nos últimos anos, a torcida jamais ficou na seca, ainda que não tenha conquistado o Brasileirão.

Os dirigentes do Cruzeiro também são hábeis no negócio. Vendem bem os craques revelados em casa ou comprados por pouco. Para o lugar deles, traz jogadores no mesmo nível. Ou seja: a qualidade do grupo não cai. Definitivamente, não é o nosso caso.

Tem dúvida? Compare quem chegou com quem foi embora. Se a análise for rigorosa, vamos constatar que só Diego, Ilan e Dagoberto são substitutos à altura de Flávio, Kléber e Lucas. Os outros, com todo o respeito, têm muito caminho a seguir. E o caminho, repito, é fugir da segunda divisão.


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