Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Revisão de conceitos

11/08/2008


Confesso que ultimamente me faltam palavras para escrever sobre o péssimo momento do Atlético, ou sobre o péssimo time do Atlético. Um Atlético simplesmente perfeito em praticamente tudo, da porta do CT até a porta da Arena, mas que em campo tem sido com freqüência um Atlético fraco, medíocre, trágico. Um Atlético sem alma, sem vergonha e sem objetivos.

Afinal, onde está o nosso Atlético? O que de tão grave se esconde por trás de um clube que se projeta como o maior do Brasil?

A verdade é que estamos de saco cheio. Estamos de saco cheio da falta de comando, da falta de qualidade técnica. Estamos de saco cheio das mesmas justificativas, de que fulano é novo, beltrano é inexperiente, de que o elenco é imaturo. Estamos de saco cheio de ouvir essa mesma ladainha criada pelo “fenomenal” Roberto Fernandes, um dos mais elegantes “tiros no escuro” que o Atlético conseguiu dar nessa década de 2000. Estamos de saco cheio de glamour, de pompas, paetês, brilhos e promessas.

Futebol que é bom: nada!

O mais engraçado de tudo é que jogador jovem não serve para tirar o Atlético do caos, jogador jovem é considerado inexperiente e imaturo, mas os maiores orgulhos do Atlético são os torneios brilhantemente conquistados pelo mundo afora. Crueldade com esses meninos que jogam um futebol de primeira, mas que são covardemente massacrados pelo próprio clube quando chegam ao time profissional. São queimados e tidos como “tapa buracos” enquanto não se resolvem as misteriosas contusões dos velhos de guerra. Ora, qual menino estará motivado ao ouvir: “vá lá, só tem você mesmo”?

Como diz meu sogro e amigo Osmar – então que acabem com o futebol profissional e vamos viver de futebol de base. Algo lógico, pelo menos temos conquistas, alegrias e podemos ter a oportunidade de assistir futebol de verdade, sem corpo mole, sem medo de atacar, sem discurso barato, sem equívocos e com qualidade técnica.

A verdade é que o clube não está conseguindo administrar o futebol profissional. Pior ainda, não abre mão dos seus orgulhos para abrir a porta aos velhos e guerreiros atleticanos, para que comandem o futebol do Atlético. Enquanto isso não acontecer, vamos patinar, correr atrás do rabo e não ganharemos mais nada!

O mundo do Clube Atlético Paranaense virou uma realidade virtual, sem espaço para a “verdade”. O que há de tão mentiroso no futebol profissional do Atlético? Se tudo fosse tão belo e tão bonito, como a estrutura belíssima que não ganha nada dentro de campo, Paulo Brofman não teria admitido que existem divergências dentro do DM, nem Maculan usaria a palavra “traição” em seu desligamento do clube.

Abro a revista “Nosso Furacão” e de cara, no editorial, me deparo com o lindo texto “A Comunicação”, em que o primeiro parágrafo diz: “O maior mal que aflige as organizações é a falta de comunicação ou a má comunicação” – e o último parágrafo diz: “Utilizar adequadamente o apoio que a Comunicação pode nos dar é questão de obrigação e não só de inteligência”. Afinal, existe comunicação no futebol profissional do Atlético?

Talvez hoje mesmo eu receba críticas com relação a essa coluna, sendo convidado a abrir minhas questões e minhas dúvidas diretamente ao “site do nosso clube”, como se este espaço fosse apenas ilustrativo e contrário à realidade do Atlético. Talvez eu receba mais uma vez a dura mensagem de que “não pense você que é fácil fazer futebol”, ou “venha cá que te mostro como se faz futebol”. Talvez também eu receba exemplos de como o meu time evoluiu nos últimos dez ou doze anos, e ainda é capaz de alguém me perguntar se eu prefiro o Atlético de quinze ou vinte anos atrás.

Tudo bem, já estou me acostumando com blá, blá, blá, mas jamais vou me acostumar com discursos baratos, virtuais ou mesmo pedidos de desculpas ao guerreiro, incansável e valente torcedor atleticano. Este sim é campeão por carregar, jogo a jogo, o Atlético nas costas. É preciso trocar o pedido de desculpas por atitude.

Chega de lamentações e de fazer com que o orgulho e o poder estejam acima do próprio clube. Queremos bola na rede e futebol de qualidade. Mais do que nunca, é hora de revisão de conceitos. Para isso, talvez seja melhor ficar mais tempo em silêncio.


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