Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Obrigado, Petraglia

11/08/2008


Lembro que estava na casa do amigo e também colaborador e colunista deste site Marcel Costa e junto de seu pai, o professor Luizão vi o time entrar em campo, pouco menos de dois anos atrás para enfrentar o poderoso River Plate pela Sulamericana. Era a realização de um sonho. Não estava no campo colocado sobre a mesa da cozinha jogando botão, território em que o meu Atlético era feito de escudos recortados da revista Placar já que nem se fabricavam botões com o nosso emblema, território esse em que o Furacão era quase imbatível; era um jogo de verdade no Monumental de Nuñez, lá onde a seleção argentina manda seus jogos que o meu Atlético estava jogando uma partida oficial contra um dos clubes mais poderosos do planeta.

Sim, era o time de Ariel Ortega, onde começou a brilhar Gabriel Batistuta e onde Passarela e Francescoli fizeram história! Nos meus sonhos isso era literalmente um sonho, mas coube ainda ao pequeno avante mercenário fazer o gol da vitória, me cobrindo de uma alegria infantil naquela noite. O poderoso e milionário River Plate sucumbia à força do Furacão! Este jogo que pode não ter valido nada para os argentinos era prova viva, clara e inequívoca do sucesso do que foi plantado por Mario Celso Petraglia desde 1995, nos tirando do ostracismo da segunda divisão para junto dos maiores clubes do mundo. Obrigado, Petraglia!

Acompanhei a era mais vitoriosa de toda a história do Clube Atlético Paranaense, não coincidentemente após a Era Petraglia. Nosso primeiro e até agora único tri estadual, o título brasileiro da 1ª e 2ª divisões, a conquista da Seletiva da Libertadores e sim, nossa participação em três edições deste que é um dos maiores torneios de clubes do mundo, tendo inclusive uma participação épica chegando ao vice-campeonato! Tudo isso aconteceu de verdade, para um time ainda médio, ainda mais localizado na periferia do mapa do futebol brasileiro. Não bastasse isso, colocamos jogadores na Seleção Brasileira e o mais incrível, um titular na seleção do penta, tendo ainda Kleberson sido um dos melhores jogadores do torneio. Por tudo isso, meu muito obrigado, Petraglia.

Não sou tão velho que me venha a lembrança do Atlético das meias rasgadas e camisas rotas, mas lembro sim da “Jabiraca”, da Baixada de tijolinhos e mato aparente nas arquibancadas e que quando conseguíamos algumas vitórias mais expressivas íamos ao êxtase. “Exterminador de cariocas” estampava a capa da Tribuna do Paraná após o Atlético ter vencido em seqüencia o America no Pinheirão (sim, os vermelhos do Rio de Janeiro já jogaram, e bem, a 1ª divisão nacional), depois o Botafogo em pleno Maracanã e depois o Fluminense numa época em que eram nossos fregueses e jogavam nas Laranjeiras. Mesmo que vagamente, na minha cabeça vem a imagem de meus primeiros ídolos, Renato Sá e o carismático Marola, conversando com torcedores após vencermos um Atletiba, algo que não ocorria há uns 3 anos na época e foi motivo de muita comemoração.

Oséas e Paulo Rink, junto dos poloneses e de Ricardo Pinto nos fizeram sonhar. Foi depois de Petraglia ter assumido o clube, sem nunca esquecer que teve a ajuda de muitos outros atleticanos que faziam parte do projeto, que tivemos respeito nacional, vencemos o então invicto Palmeiras de Luxemburgo, Djalminha e Viola e viramos sensação, sendo um clube simpático, meio que um segundo clube de torcedores de vários outros clubes maiores. Antes disso, uma gangorra de subir e descer de divisão, com a torcida se contentando em buscar refugos do Galo, então o verdadeiro Atlético que era o Mineiro no aeroporto, ou como se esquecer da carreta que trouxe Éder Lopes e Vivinho para assinarem contrato? Vencíamos e liderávamos o Brasileiro nas 4 ou 5 primeiras rodadas e encerrávamos o Globo Esporte de segunda-feira, mesmo sabendo que a queda começaria logo. Mas não éramos menos apaixonados e vibrantes por causa disso, de jeito nenhum. Assim como agora, a mediocridade em campo não afetava nosso amor, nossos cantos e a festa que somente o torcedor do Clube Atlético Paranaense sabe fazer.

Fomos chamados de “sem terra” durante muito tempo e Petraglia foi lá e como ele mesmo disse sem saber que era impossível, foi lá e tornou possível , erguendo, na raça mesmo, o estádio que é tido como o melhor, mais confortável, seguro e moderno do país, a majestosa Arena da Baixada. Mesmo sem ter os recursos que os clubes de massa no Brasil e sua conseqüente exposição espontânea na mídia dão, o Atlético cavou seu lugar entre os maiores, já não é tão simpático, na verdade não é nada simpático hoje em dia, mas paga o preço de ser vanguardista e quebrador de paradigmas. Petraglia, sem nunca esquecer que foi o capitão da nau, foi o líder mas não o único que fez o que temos hoje, ergueu o estádio, construiu o mais moderno CT do sul do mundo e isso não pode ser apagado e nem esquecido da história. Por tudo isso, meu muito obrigado Petraglia.

Ele nos fez sonhar, ele nos deu a chance de sonhar. A história do Atlético é feita de dificuldades, de jejum de títulos, de sacrifícios, de sonhos, mas os melhores sonhos que tivemos foram com ele no comando, nunca isolado como infelizmente ocorre há algum tempo, mas sempre com ele por perto. Estive em São Caetano em 2001, vi ao vivo e em cores a maravilhosa campanha de 2004 quando disputamos ponto a ponto o campeonato contra o Santos, o time de Pelé, o time da vila mais famosa do mundo que eu sonhava conhecer e que ajudei a calar no ano seguinte quando os eliminamos da Libertadores em que um vice campeonato mostrou o Atlético Paranaense para o mundo. E isso, vamos reconhecer, não é pouco! Para um time do tamanho do Atlético, é muito.

Houve uma revolução, uma evolução e hoje estamos em pleno processo de involução. Crescemos talvez demais em pouco tempo, mas voltamos à rotina de como era antes, luta na metade de baixo da tabela, jejum, algumas alegrias, rotina de decepções. Vencer fora é uma luta inglória e a capacidade técnica do elenco nem é questionada, tamanha a clareza da fragilidade do time. Contratamos no atacado, lembrando as famosas frases que ouvia na rádio na década de 80 “chegou mais um caminhão do Farinhaque na Baixada. Vieram 4 jogadores do Matsubara, 3 do XV de Piracicaba e mais 2 jovens valores que estavam arrebentando no futebol rondonense segundou soubemos”. Mas nem por isso a gente é menos atleticano, menos felizes ou deixávamos de nossa festa como fazemos hoje em dia.

Tivemos nosso momento na história e graças muito ao trabalho de Mario Celso Petraglia. Podemos sofrer, temer pelo rebaixamento como acontecia anos atrás, mas hoje temos um patrimônio sólido e finanças que, caso necessário, nos dão crédito para gastar um pouco mais, qualificar verdadeiramente não só o elenco como a comissão técnica e escapar mais uma vez do pesadelo da série B. Tudo isso graças a gestão competente dessa direção. Lógico que eu preferia que tivessem gasto melhor e mais racionalmente desde o começo para disputar títulos, continuar o sonho dourado de vitórias, de glórias, de invencibilidade em casa e que quando fossemos jogar fora tivéssemos alguma esperança de ao menos empatar. Mas na vida a gente não pode querer tudo, ninguém tem tudo na vida e não vou deixar de ser doente pelo clube, ser sócio, viajar, comprar camisa e apoiar o time porque os resultados não aparecem.

Apoiar quando está tudo bem é fácil, ajudar o clube, estar ao lado dele, lotar o estádio jogo a jogo e cantar mesmo vendo uma equipe bizarra e mal dirigida em campo é coisa que somente o atleticano consegue. Não se pode desanimar, temos um longo e infelizmente sofrido returno para jogar e teremos ainda a chance de quem sabe vencer um dos clubes mais fortes e conhecidos da América, o São Paulo pela Sulamericana. O sonho, o sonho que Petraglia nos fez sonhar não pode acabar. O dia em que deixarmos de sonhar, o encanto acaba.

Obrigado, Petraglia, por tudo que nos fez sonhar. Cheguei a acreditar que ele seria eterno como meu amor pelo Atlético.

ARREMATE

“E quanto mais eu mergulho /
Mais se aprofunda esse Rio.”
CALMARIA – Zé Ramalho


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