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Fernanda Romagnoli
Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.
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Só o Bolinha é atleticano
05/08/2008
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Depois daquele “jogo” de domingo as pessoas do meu relacionamento até relevariam se eu me portasse como aqueles torcedores que despejam suas mágoas futebolísticas em cima dos outros. Não é o meu caso, especialmente hoje.
Mesmo depois de ter visto a pior apresentação do Atlético que já tive o desprazer de presenciar, devo confessar que tive uma dose de morfina no meu psicológico. Isto porque depois de muitos anos voltei a me sentir representada na diretoria do clube com a declaração do Petraglia, logo após o jogo. Pelo menos na primeira parte ele expressou a dor de ver nosso time, nossa honra, enfim, todos nós sermos pisoteados por um time bem limitado feito o alvinegro carioca.
Lógico que a cena do tipo “ele está entendendo exatamente o que eu sinto” se desfez com certa rapidez quando os delírios voltaram. Coisas do tipo “este não é nosso projeto” e “a segunda divisão nem passa pela nossa cabeça” tiraram a beleza daquele momento surreal, quando a arrogância estava perdendo para a genialidade humilde.
Confesso que me canso muito rapidamente quando a fábula delirante de que está tudo bem, somos os mais modernos, os mais financeiramente responsáveis (eufemismos... argh), os mais blá, blá, blá é contada, postada, publicada, enfim, divulgada. Se a segunda divisão não passa pela cabeça de ninguém do escritório, peço atenção ao chão de fábrica, pois temos um gargalo de produção. Do jeito que está, estamos na fila para comprar o ingresso do show de horrores da série B.
Tudo bem vai. Neste ano aconteceram coisas no back office do furacão que, caso não tivessem ocorrido, eu posso até apostar que estaríamos bem piores. Alguém domou a fera e o fez perceber que brigando com a torcida, encarecendo pacotes e provocando a ira de todos não nos levaria a lugar algum. Tivemos um progresso substancial pelo qual sou grata. Tivemos contratações, progressos na construção, revisão do plano de sócios, etc. Creio, portanto, que dessa vez não temos muito do que reclamar.
Mas como nem tudo poderia ser perfeito foi um erro a contratação do Givanildo “Jr” (ou Casemiro “Pior” numa troca de versão). Cheguei a ter saudade das épocas de perrengue em termos de estádio, grana e essas coisas que agora fazem parte da fábula “made in paradise” do Atlético. E quer saber? Eu acho que foi só esse o erro, porque eu assumo minha honesta opinião sobre este elenco que está aí: ele não é ruim. Talvez não seja tão bom quanto devem pensar de si mesmos, mas pra ruim falta muito.
A defesa é meu xodó. Batem cabeças muito menos que os caros que costumam atacar e que parecem se pelar de medo de fazer gol. O Danilo, por exemplo, é o cara mais feijão com arroz do mundo, o que é bom (dá sustança), o problema é que ele não tem time de bola e acaba se tornando tosco às vezes. Eu já gostava do Vinicius, mas o Galato é bom hein? Ruim mesmo é se fiar o tempo todo no goleiro. Afinal, futebol é esporte coletivo, então um cara não vai resolver sozinho, certo? Errado. O Nei não pensa assim. Sabe um cara que não tem o menor problema com auto-estima? É o Nei! Depois que ele fez gol olímpico então. Ó. Presta atenção menino! Força de vontade não te faz um craque. Você é novo, é bom, mas não é tãããooo bom, ainda. Isso vale para o Aquino... Passa a bola cara! Depois do jogo você pode levar ela pra casa se quiser.
A-L-A-N Bahia! Você merece até o início de outro parágrafo. Eu o admiro pela sua volta por cima, mas acho que você, como quebrador de bola oficial da defesa (sem ofensa) e de chutes potentes no ataque, tem a obrigação de devolver com um interesse acima da média o respeito que recebe da torcida. Tenho olhado pra você em campo, ou pelo menos o que deveria ser você, não o reconheço. Sei que o retranqueiro do cara que estava aí te puxou pra trás, mas você sabe onde é o seu lugar, é decisivo quando joga pra valer. E por falar em gente que o Rob prejudicou, eu quero dizer que nunca deixei de acreditar no único craque deste time: o Ferreira. Você esteve preso num esquema ruim (se é que existia um esquema), mas não pode usar isso como desculpa. Eu gosto do seu futebol persistente, no qual não existe bola perdida. Recupere isso urgentemente, por favor.
Poderia falar do elenco todo. Já vimos quase todos jogarem. Cada um com sua peculiaridade ou defeito latente. Posso continuar tentando mexer com os brios de cada um numa tentativa barata de motivá-los por vias contrárias, afim de que eles calem minha boca no próximo jogo. Seria ótimo se acontecesse. No entanto, preciso me lembrar de algumas verdades:
O MCP é atleticano, talvez não como desejado, mas é de fato um dos maiores. O Fleury é um atleticano, blasé como um tricolor paulista, mas é atleticano. Já o responsável pelo futebol do clube não é atleticano. O técnico não é atleticano. Os jogadores são do “meusalárioabsurdoemdia futebol clube” e, portanto, não são atleticanos.
É. Não podemos nos enganar. Dos que entram em campo só o Bolinha é atleticano. Cabe a nós continuar gritando por raça. E pelo Bolinha também.
Numa dessas acabamos ganhando um pouco de atleticanismo dos jogadores, pelo menos em noventa minutos semanais. Acho que não é pedir muito.
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