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Rafael Lemos
Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.
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Ah, fiquei maluco!
04/08/2008
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O Corpo Clínico do Hospital Psiquiátrico Pinel Afonso Botelho vem, a pedido do Sr. Marçal Justen Neto, Diretor do site Furacao.com, e em respeito aos milhares de leitores do site, esclarecer que desde o último domingo, dia 03/08/08, o Sr. Rafael Fonseca Lemos, o colunista mais bonito deste site, encontra-se internado em nosso Hospital, na ala de pacientes afetados pelo Transtorno Psicótico Transitório.
Esse transtorno é uma psicose de início repentino e duração curta (um mês) em que o paciente fica incapacitado de realizar suas funções sociais e profissionais. Como se trata de um quadro psicótico, na maioria das vezes o paciente nega estar doente; pode até admitir que algo não vai bem, que tem algum problema, mas de forma alguma admite que o problema é mental.
Muitos desses surtos são acompanhados de eventos estressantes fortes, tais como: perda de pessoa querida, do emprego, mudança de cidade ou ambiente social, forte ferimento físico, acidente com seqüelas ou um 3 a 0 que não estava nos planos; e ainda, eventos positivos como o nascimento de um filho, o casamento ou o falecimento da sogra.
O período que se observa em média entre a ocorrência do evento e o início da psicose é de duas semanas, se bem que no caso do nosso amigo Rafael a psicose veio a galope, logo que o juiz apitou o final do jogo no último domingo.
A completa recuperação pode levar de dois a três meses, sendo que a pior fase dura menos de um mês. O tempo mínimo de duração desse transtorno é de 48 horas.
Durante o transtorno, o comportamento do paciente torna-se desorganizado. Ele não acaba o que começa e o que faz, muitas vezes, não tem sentido. Veste-se inadequadamente, não atende aos apelos dos familiares, recusa-se em colaborar com o que é preciso. O sono, como em todos os transtornos psicóticos, fica diminuído. O senso de perigo pode ser perdido e o paciente pode deixar o fogão da cozinha aceso, a porta da rua aberta e pode permitir, até mesmo, que crianças brinquem com facas afiadas, etc.
Alguns pacientes tornam-se repetitivos nos gestos ou nas palavras. Surgem personagens inexistentes das fantasias delirantes ou das alucinações auditivas com que o paciente se relaciona. Às vezes rituais com cunho religioso são entoados ou criados pelos pacientes. Diversas outras manifestações podem surgir, os quadros psicóticos costumam ser muito variados, só algumas foram citadas aqui.
Desde ontem, o Rafael se tornou notadamente desorganizado. Lava seu prato no chuveiro, enxuga-o com o lençol e guarda depois no guarda-roupa. Descasca cuidadosamente a banana da sobremesa, come a casca e amassa a banana na testa, sempre cantando músicas da Banda Calypso, especialmente o seguinte refrão: “A lua me traiu, acreditei que era pra valer, a lua me traiu, fiquei sozinho e louco por você”.
Rafael tem se vestido inadequadamente e, ontem mesmo, após o jogo, trajava um macacão jeans e uma camiseta de listras coloridas, ao melhor estilo Tiririca. Alguns pacientes relataram que, em dado momento, Rafael começou a cantar:
“Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Ele é baitola, mas é meu amigo
Ele pode ter defeitos, mas é meu amigo”.
Rafael não dormiu e já não colabora em nada, não atende aos apelos dos familiares e não chega perto do fogão de sua casa de jeito nenhum.
Apresenta quadro de repetição que envolve gestos e palavras. Rafael repete, sem parar: “Bota o Ziquita que ele vira, bota o Ziquita que ele vira, bota o Ziquita que ele vira”.
Depois de repetir isso, mostra com a mão direita aberta o número 3. Depois bate na mão direita com a mão esquerda e volta a repetir: “Bota o Ziquita que ele vira”...
Durante a madrugada, Rafael gritou: “O Ziquita virou, o Ziquita virou”, num claro episódio de alucinação auditiva, mas ele vai melhorar.
Semana que vem, ele já deve estar escrevendo de novo, vocês podem acreditar. Agora, fazer o Rafael chegar perto do fogão outra vez, ah, isso vai demorar um pouco mais, mas ele vai melhorar, ele vai melhorar...
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