Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

1987: o ano que não acabou

30/07/2008


O portal Terra veiculou há pouco a notícia que adiante transcrevo, na íntegra:

"A procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) vai oferecer denúncia contra o zagueiro Rafinha, do Toledo-PR, que declarou após o jogo com o Marcílio Dias-SC, no último domingo, que os jogadores teriam feito um acordo para que a partida terminasse empatada e, assim, as duas equipes conseguissem a classificação à segunda fase da Série C do Campeonato Brasileiro.

Com o empate sem gols, Toledo e Marcílio Dias chegaram aos nove pontos e ficaram com as duas vagas do Grupo 15. Inter de Santa Maria-RS, com oito pontos, e Engenheiro Beltrão-PR, com seis, ficaram fora da segunda fase. Os dois clubes classificados estão agora no Grupo 24, ao lado de Caxias-RS e Brasil-RS.

"Inicialmente, vamos oferecer denúncia contra o atleta, contra a pessoa física, que é o que prevê o artigo 275 (no Código Brasileiro de Justiça Desportiva) com a eliminação, punição exclusiva à pessoa física e não jurídica, neste caso. Vamos ver se outras pessoas físicas estão envolvidas nisso também", explicou o procurador do STJD, Paulo Schmitt.

"Através do parágrafo único, vamos requerer a possibilidade de anulação desta ou das duas partidas do mesmo grupo e a suspensão dos grupos que se formaram a partir destes dois classificados. A suspensão se dá até que se julgue o feito", disse Schmitt.

O artigo 275 diz respeito a "proceder de forma atentatória à dignidade do desporto, com o fim de alterar resultado de competição", com pena prevista de eliminação. Já o parágrafo único prevê que "se do procedimento resultar a alteração pretendida, o órgão judicante anulará a partida, prova ou equivalente".

O procurador oferecerá a denúncia na próxima quarta-feira, mas ainda depende de o presidente do STJD, Rubens Aprobatto Machado, acatar suas alegações. "Ele que define isso amanhã (quarta-feira). Se vai suspender as rodadas ou não, é com o presidente", acrescentou o procurador.

Além das denúncias, Paulo Schmitt ainda vai avaliar toda a partida para ver se cabe outras denúncias em relação às equipes. "Além disso, tem outras análises de outras coisas, atraso do jogo pelos clubes no início e reinício do jogo. Vamos analisar toda a partida. Mas amanhã (quarta) já farei a denúncia", afirmou.

Na súmula da partida, o árbitro relatou que houve atraso de nove minutos na partida. No primeiro tempo, a demora de três minutos, foi em virtude da execução do Hino Nacional. Já no reinício do jogo, os atletas do Marcilio Dias voltaram a campo com uniformes brancos, mesma cor usada pelo Toledo, o que retardou o começo da partida em seis minutos, pela troca de roupa do elenco.

A suspeita de combinação de resultado surgiu após o zagueiro Rafinha declarar a uma rádio de Toledo, ao final da partida, que as duas equipes teriam feito um acordo para o jogo acabar empatado e assim os dois clubes passarem à fase seguinte.

"Para a torcida isso não é bonito, mas a gente sabe que se não faz isso acontece ao contrário e eles iam fazer isso com a gente. Então a gente tem que fazer isso daí. Lógico que é feio, mas a gente tem que pensar no nosso futuro, a competição mais para frente. É coisa do futebol se a gente não faz, eles iam faz com a gente, mas acontece, é bola para frente, a gente é o primeiro do grupo. É coisa do futebol que vai acontecer, não é a primeira vez nem a última que vai acontecer", disse o zagueiro".

Dada a notícia, espero, sinceramente, como Advogado e torcedor, que todos os envolvidos nesse escândalo sejam rigorosamente julgados e punidos com as penas máximas que estejam previstas em Lei.

Quero ver aplicada a eles a punição máxima para que não ocorra o absurdo que aconteceu aqui no futebol do Paraná, no ano de 1987, quando o Atlético teve o título roubado pelo Pinheiros e seus asseclas.

Para quem não conhece a sujeirada toda ocorrida em 1987, narro os fatos, sem tirar nem pôr:

O Paranaense de 1987 começou festivo, com a volta do Torneio Início, disputado no dia 31 de janeiro e vencido pelo Atlético Paranaense.

De acordo com a fórmula, a competição teria dois turnos e um hexagonal final, de onde sairia o campeão.

A temporada, porém, foi marcada por um dos maiores escândalos da história do futebol paranaense.

A marmelada aconteceu na última rodada do hexagonal. Pinheiros e Atlético eram os únicos com chances de serem campeões.

O Pinheiros jogava com o Cascavel, fora de casa, e o Atlético enfrentava o Londrina. Para ser campeão, o Rubro-Negro precisava vencer o Londrina e contar com uma derrota do Pinheiros.

Sob desconfiança dos pinheirenses, Rosaldo Goes dos Santos é escalado para apitar o jogo em Cascavel. Logo no início da partida expulsou o pinheirense Róberson. Segundo relato do juiz na súmula, o jogador teria dito: "Não adianta você roubar pois o jogo já está acertado com o Cascavel".

Aos 30 minutos, Rosaldo expulsou outro jogador do Pinheiros, Marinho, por ofensas ao bandeirinha.

Quando o árbitro marcou um pênalti, contra o Pinheiros, o inacreditável aconteceu. Dirigentes do Cascavel invadiram o campo para protestar contra a marcação.

O encarregado da cobrança foi o jogador Marquinhos, autêntico mau caráter, que, dolosamente, chutou para fora a penalidade, sob aplausos da torcida.

Segundo relatos de jornalistas e jogadores, o batedor teria sido intimado pelo presidente do Cascavel, Edgard Bueno, a não converter o pênalti.

A partida terminou 0 a 0 e o Pinheiros conquistou o título estadual de 1987, sob o manto da suspeição, da injustiça e da indecência.

Dois dias depois, Edgard Bueno foi acusado pelo dirigente do Cascavel, Ivo Roncaglio, de ter vendido o jogo para o Pinheiros.

Segundo a denúncia, feita num programa de televisão, Bueno teria exibido um cheque emitido pelo Pinheiros, dois dias antes da partida.

O dirigente não negou a existência do cheque, mas alegou que o dinheiro era o pagamento pelo passe do jogador Silvio, negociado com o Pinheiros.

O Atlético, sentindo-se prejudicado, ingressou com uma ação na Justiça Desportiva, pedindo a apuração dos acontecimentos.

O Tribunal, porém, ao julgar a ação, não viu, PASMEM OS SENHORES, nenhuma irregularidade e ninguém foi punido.

Um ano mais tarde, o Atlético deu o troco no extinto Pinheiros, dentro das quatro linhas, vencendo o Estadual de 1988, com inteira justiça (aliás, hoje a conquista completa 20 anos).

Apesar de o troco ter sido dado, exemplarmente, na bola, ficou, para sempre, uma mancha indelével na História do futebol do Paraná: o campeonato estadual de 1987 foi roubado, como ficou provado, apesar de o Tribunal não ter visto, PASMEM OS SENHORES, nenhuma irregularidade.

Que o escândalo envolvendo o Toledo e o Marcílio Dias seja submetido às Leis do Brasil e que todos os envolvidos sejam rigorosamente punidos, sem dó, para que a gente não tenha de ver reeditado o escândalo que sujou o nome do esporte e que sujou a História do futebol do Paraná.

Por conta da Injustiça perpetrada em 1987, uma Taça que deveria estar na Baixada, há 21 anos, jaz, com seu brilho embaçado, numa galeria de troféus que não tem a grandeza, nem a legitimidade, de acolhê-la.

A Taça do Campeonato Paranaense de 1987 é, como se sabe, Atleticana, de fato; e ela só não é também de Direito pois um Tribunal não quis aplicar a Lei, pois um Tribunal não quis - por medo, conivência ou covardia - fazer Justiça.

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P.S.: Ao meu Amigo Fábio Sottomaior, que completa hoje 18 anos de idade, vai daqui o meu fraterno abraço e os meus parabéns. Que Deus abençoe você, Guri!


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