Silvio Rauth Filho

Silvio Rauth Filho, 50 anos, descobriu sua paixão pelo Atlético em um dia de 1983, quando assistiu, com mais 65 mil pessoas ao seu lado, ao massacre de um certo time que tinha um tal de Zico. Deste então, seu amor vem crescendo. Exerce a profissão de jornalista desde 1995 e, desde 1996, trabalha no Jornal do Estado. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2009.

 

 

Trauma

18/07/2008


É o primeiro dia de trabalho da sua vida. Você sempre esperou aquele momento. Foram quatro anos na faculdade e, depois, mais dois anos em programas de treinamento. Finalmente você entra para o mundo profissional.

Nos primeiros momentos, o nervosismo e a ansiedade tomam conta. É normal. Seus colegas e seus superiores te apóiam, sabem que é assim mesmo.

Mas tem gente que não perdoa. Logo no seu primeiro pequeno erro, uma avalanche de vaias encobre seu ouvido. Você tenta não se abater e ergue a cabeça.

“Foram seis anos de preparação!” “Eu sei que posso!” “Não vou falhar agora!” Tudo isso passa por sua cabeça.

Você se recupera e consegue acertar aqui e ali. Mas na segunda falha, o mundo desaba. A vaia, agora, é o menor dos problemas. As armas dos insatisfeitos passam a ser os xingamentos, as ofensas. “Você não presta pra nada!” “Vai embora!” “Muda de profissão!” “A cigana te enganou, seu mané!”

A história acima parece ficção, mas não é. Essas linhas traçam o caminho dos jogadores revelados pelo Atlético nos últimos anos. Quem tem ido à Arena, sabe que a torcida nunca foi tão intransigente com os pratas-da-casa.

Não quero criticar aqueles que vaiam o time, os jogadores, o técnico. Mas somente pedir uma reflexão. Será que derramar nossas frustrações em cima desses meninos vai resolver alguma coisa? Não seria mais óbvio deixar a pressão e a cobrança para os profissionais?

Aliás, os funcionários do Atlético contratados para essa função (supervisionar e exigir bom desempenho dos atletas) são os mais bem remunerados do clube. Será que nós – leigos e mal pagos – entendemos mais desse ofício que esses especialistas?

Não tenho as respostas. Nem quero criticar os mal humorados da Arena.

Eu também sonho em ver um prata-da-casa com a habilidade do Jadson, a versatilidade do Fernandinho, a garra do Paulo Rink e os dribles do Dagoberto. Enquanto ele não aparece, tento incentivar as qualidades de Rhodolfo, de Alan Bahia, de Douglas Maia, de Renan, de Gabriel Pimba, de Vinícius, de Pedro Oldoni e de Choco.

O Atlético depende desses garotos para fazer um bom campeonato brasileiro. Com a ajuda da torcida, tudo será mais fácil. Se a Arena jogar contra, mais uma safra do CT do Caju será traumatizada. E o time correrá graves riscos na competição.

“A palavra fere, dói. Dita no calor de mágoas ou ira, penetra como flecha envenenada.” Frei Betto


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