Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Paciência

17/07/2008


No silêncio e na solidão da minha casa, cheguei a desligar o telefone ontem. Não queria ver o jogo, sabia que no final da noite iria dormir magoado, mas as programações que tentei acabaram não dando certo. Vi o jogo e a cada um dos 210938289365834 passes errados do time atleticano sentia uma dor como uma úlcera me atacando. Acabado o jogo, ligo o celular e vejo mais de uma dezena de recados, desabafos, gente querendo que eu escreva isso, que eu fale aquilo. O torcedor atleticano perdeu definitivamente a paciência.

Se fumasse, acenderia um cigarro, iria pro quintal brincar com minha street dog Chung Le e ver a bela lua. Se tivesse cerveja em casa, sentaria na cadeira plástica ao lado dos limoeiros ou pés de laranja lima que tenho em casa e beberia lentamente. Mas coloquei um agasalho, tênis e o celular para ouvir música e fui caminhar. Ainda no portão resolvi voltar e deixar o celular, melhor assim pra pensar na vida.

E pensei. E mesmo sem querer comecei a correr, mesmo que num ritmo lento, mas corri. E pensei. E vi como esses jogadores devem ter passado a noite. No mínimo uma farta refeição em hotel de luxo, camas confortáveis, seus i-pods ligados, partidas de futebol no PS3, celular pra cá, celular pra lá, hoje pegam avião, fazem hidro e segue a vida. O importante é “levantar a cabeça/ pensar no próximo compromisso/ nada está perdido / ainda temos tempo / o torcedor precisa ter paciência/ estamos no início (?) do campeonato” e mais outras bobagens repetidas à exaustão.

Num momento de fúria e não coincidentemente quando me defrontei com uma subida razoável em meu exercício madrugueiro, quis do fundo do meu coração que eles, os jogadores e especialmente o treinador Roberto Fernandes também tivessem insônia. Que eles tivessem vergonha, ficassem putos toda segunda-feira após os constantes vexames que o Atlético tem dado em campo. Que eles saíssem de campo como fiz domingo na Baixada, querendo dormir logo para que aquele pesadelo tivesse fim. Quis mesmo, e confesso minha mesquinharia, que eles sentissem a dor que um torcedor comum sente, a vergonha, essa úlcera que tenho sentido a cada partida em que este bando de descomprometidos envergonha a camisa que só se vestia por amor.

Eu juro que queria mostrar pra eles minha coleção de ingressos, lhes contar das babadas que levei por faltar serviço ou aula, de dependência que peguei e tive que pagar em 1998, pois no ano anterior vivia na Baixada, passeatas, coletando assinaturas, fazendo o diabo para ver se o Atlético se livraria da pena imposta pelo STJD e CBF no ano anterior. Queria que vissem a fila de gente que ficou dois ou mesmo três dias antes dos grandes jogos que fizemos quando a preocupação principal do Atlético era futebol e não perfumaria. Queria que eles sentissem um pouco como é ser atleticano, e principalmente, como é doído ser atleticano com este time vergonhoso e horroroso dentro de campo.

A paciência é uma grande virtude, mas como todo adjetivo, tem seus limites. A paciência do torcedor atleticano, chegou ao limite. Quase uma hora e meia depois chego em casa, depois do banho ainda custo muito a dormir e vou ler mais um pouco “João Saldanha – uma vida em jogo” de André Iki Siqueira. Recomendo.

O JOGO

Jogamos como nunca, perdemos como sempre. Assim meu amigo Lupe desabafou logo após mais uma derrota no campeonato. Derrotas fora de casa são o normal para este time sem brios, sem vergonha na cara, sem gana de vencer, com a marca da derrota implantada na cara. Analisando a tabela é fácil ver a fragilidade do Atlético, só vencemos “cachorro morto”, não conseguimos suplantar nenhum time igual ao nosso, mesmo nível como o Galo Mineiro, os Coxas e a Lusa e times melhores que o nosso (e eles são cerca de uma dezena) é bucha na certa.

Impressionante o número de passes errados do Atlético. É algo colossal! Os passes são dados fracos, telegrafados para o adversário. E isso é o básico do básico do esporte coletivo com bola: o passe! Futebol não se aprende por osmose, mas um bom time ajuda a destacar as virtudes de um jogador. Se o Atlético não tivesse dado bons companheiros para Gabiru, ele seria somente mais um mirrado jovem semi-nutrido que tentava algo no futebol. Se não fossem Cocito, Alex Mineiro, Kléber ao lado do menino Kleberson, ele jamais teria chegado à Seleção e sido destaque, além de campeão do mundo em 2002. Sem um mínimo de qualidade, este time não fará nada mais do que fugir, mais uma vez do rebaixamento num campeonato de nível sofrível como esse.

Por outro lado, a ruindade parece que passa por osmose. Até os exuberantes e unanimidades Antonio Carlos e Valencia vem jogando abaixo da média de umas duas ou três partidas pra cá. O beque, acho que influenciado pelo desesperado Danilo virou adepto do chutão toda hora. Levou dribles fáceis e até seu infalível jogo aéreo está muito ruim. Já o meia colombiano parece mal fisicamente, chega constantemente atrasado tendo que fazer faltas, além de errar muitos passes. O que estaria acontecendo, se até os únicos atletas de sabida qualidade e de confiança da torcida andam falhando demais?

E A SAÍDA ?

Roberto Fernandes deveria ter hombridade e pedir para sair. Seria mais digno, mais honesto de sua parte. Infelizmente era uma aposta, a meu ver acertada mesmo que numa hora em que Ney Franco ainda poderia nos dar alguma resposta, mas que não deu certo, definitivamente! O Atlético ainda é muito grande para a capacidade e as limitações do jovem e promissor treinador. Um time que não tem uma jogada de falta ou escanteio, a não ser aquela cobrança curta que resulta em lateral ou contra ataque pro adversário definitivamente carece de melhor comando técnico. Quanto mais tempo ficarmos à deriva, mais tempo vamos levar para a recuperação.

Além do mais o que diria ele se a direção fizesse a sacanagem que fez com seu antecessor, vendido dois de seus principais atletas e perdido outro por questões judiciais e não trouxesse NENHUM substituto? Dizer que esta roendo o osso é não coadunar com a verdade, pois Roberto Fernandes teve seis rodadas só finais de semana, tendo todos os demais dias para preparar o time, teve a volta de Ferreira, a vinda de mais meia dúzia de jogadores, a recuperação física de alguns e mesmo assim o time tem uma campanha ridícula no nacional. Ele pode não ter um filé mignon na mão, mas Ney Franco temperava muito bem o acém, o setinho que tinha para colocar na brasa.

E para completar coisas que não entendo, inchamos a máquina, trouxemos um agente acusado de “facilitar” passaportes europeus para jogadores brasileiros atuarem na Europa anos atrás para uma função que não existe, um vácuo no futebol atleticano, um sei-lá-o-que na estrutura do rubro-negro. O que de melhor ouvi é que vai fazer mais ou menos o que o Teixeira fazia antes no Atlético. E o que ele fazia mesmo?

Pra terminar, tirem o tal CAparanaense que emporcalha nosso manto sagrado. É de um mal gosto terrível, motivo de chacota Brasil afora e na pior hipótese, dá azar. Façam propaganda do sócio furacão, já que pelo o que pedimos das empresas e pelo o que apresentamos em campo, ninguém parece muito disposto a expor sua marca em nossa camisa.

ARREMATE

“Tem de entender/
Compreender/
Só pode ser voando.”
SEM GRAVIDADE– Otto


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