Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Descanse em paz, Fluminense!

03/07/2008


Novembro de 1996.

O Atlético estava vivendo uma nova era, de empolgação e otimismo. Era o destaque absoluto do campeonato brasileiro de 1996, com uma campanha irrepreensível, de um time que do caos, tornou-se favorito ao título nacional. Era uma questão de tempo, tínhamos convicção, e aquele gosto amargo do terceiro lugar em 1983 definitivamente seria trocado pela sensação do título brasileiro da primeira divisão. Mas a nossa trajetória foi interrompida. Psicologicamente, fomos derrotados e nosso equilíbrio emocional foi destruído em novembro de 1996.

Ali, no ringue das laranjeiras, um time chamado Fluminense, comandado por sua massa de predadores torcedores tricolores, matou a nossa trajetória vitoriosa e ateou fogo em nossas bandeiras, nossas faixas e nossos sonhos. Em novembro de 1996, o Fluminense chutou, esmurrou, esmagou e apedrejou tudo o que havia de vermelho e preto em sua frente. Por pouco não perdemos a alma do nosso time, o goleiro Ricardo Pinto, que seria o carro-chefe do título do Atlético naquele ano. O nosso número 1 voltou para Curitiba com traumatismo craniano, tendo que se submeter a uma cirurgia no Hospital Cajuru para a retirada de um coágulo, para livrá-lo da morte.

Naquela tarde de 1996, os atleticanos espalhados pelo Brasil e pelo mundo choraram a “covardia das laranjeiras”, mas uniram-se, como nunca, em uma corrente de orações, pedindo aos céus pela vida do nosso goleiro, do nosso ídolo e do nosso amigo Ricardo Pinto. Nossas preces foram ouvidas, mas as cicatrizes daquele inferno vivido no Rio de Janeiro, em 1996, jamais foram apagadas. A partir de novembro de 1996, não conseguimos mais olhar o Fluminense e sua torcida sem o ódio nos olhos. O Fluminense foi o clube que destruiu uma possível conquista do Atlético e que quase matou Ricardo Pinto, à base de pau, pedra e fogo.

Viradas de mesa

Dois clubes foram os piores, entre os 24 que disputaram a primeira divisão em 1996. Bragantino e Fluminense foram rebaixados à segunda divisão do campeonato brasileiro e mereciam disputar a Série B em 1997.

Uma ação, movida pelo Ministério Público Federal, condenou o Fluminense e o outro clube ao pagamento de reparação moral de 2% da receita arrecadada no campeonato brasileiro de 1996, decisão baseada no escândalo das arbitragens, que retirou o futebol dos gramados e fez com que o mais cobiçado esporte nacional fosse decidido nos tribunais. O Fluminense, por intermédio da CBF, foi então reconduzido à primeira divisão do campeonato brasileiro, e mesmo sendo um dos dois piores times de 1996, jogaria a Série A em 1997.

E jogou. E perdeu. E caiu. Em campo, foi em 1997 novamente rebaixado à segunda divisão do campeonato brasileiro. E foi rebaixado para a terceira divisão do campeonato brasileiro de 1998...

Nada mais salvaria o Fluminense, clube de covardes, que bem como seus torcedores, só decidiam as coisas fora da linha da bola. Até que um milagre aconteceu, e a Copa João Havelange chegou no ano 2000 para reconduzir, “mais uma vez”, o Fluminense à primeira divisão do futebol nacional. O tricolor das laranjeiras, do Rio de Janeiro e de pessoas tão famosas, nada ganhava no campo, e passou a viver de decisões judiciais, de viradas de mesa e de invenções da CBF. Pobre Fluminense!

02 de julho de 2008

Decisão da Copa Libertadores da América. O Fluminense, após levar um banho de bola da Liga Deportiva Universitária no Equador, decidiria o titulo da Libertadores na cidade do Rio de Janeiro. O Maracanã virou palco de uma grande festa, mas estava escrito que o maior estádio do Brasil ficaria escuro e triste no início da madrugada do dia 3 de julho.

Grande parte da nação brasileira torcia e fazia figas para a conquista do Fluminense, mas a grande maioria da nossa nação, a nação atleticana, ainda com a dor das pauladas, pedradas e fogos de 1996, simplesmente tinha a certeza absoluta de que, finalmente, a justiça do futebol iria prevalecer. Não era possível que um clube que desrespeitara tanto o seu próximo, que se mantera durante anos nas costas dos tribunais e da CBF, fosse o melhor da América. Não, não era possível.

“Mas como você não vai torcer para o Fluminense do Washington? Mas como você não vai torcer para o Fluminense do nosso ídolo Diego?” – diriam muitos, principalmente os que desconhecem a história. Pois eu admiro muito as figuras de Washington e Diego, mas jamais torceria pela conquista de qualquer um deles com a camisa tricolor. Aqui, foram dois gigantes, mas no Fluminense, são dois jogadores, apenas dois jogadores, muito admirados por nós, é verdade, mas apenas dois jogadores de futebol.

E o Fluminense, conduzido pelo nada humilde homem de 5 mil mulheres, perdeu do jeitinho que tinha que perder. Com a taça na mão, o time das laranjeiras foi covarde, teve medo de atacar na prorrogação e viu o Maracanã obedecer o pedido de silêncio do melhor jogador da Libertadores, Guerrón.

O Fluminense, com a cara do bom, porém arrogante Renato Gaúcho, perdeu a graça e o título. O tricolor das laranjeiras não foi o melhor da América, pois no mundo do futebol, também existe justiça.

E vejam só como é o destino: o último chute da decisão foi justamente do ex-atleticano Washington. Mas que graça teria o Fluminense apenas não ser campeão? De fato, não teria nenhuma graça, e o tiro final, desta vez sem pauladas, pedradas ou fogos, foi do Washington. O mesmo Washington que sobreviveu no CT do Caju, que ganhou um coração novo quando foi acolhido pela gente atleticana, o mesmo Washington que perdeu um gol incrível no início do jogo, o mesmo Washington que sofreu pênalti claro que não foi assinalado pelo árbitro do jogo. Ele mesmo, Washington, chutou a última chance do Fluminense, e como num ato de justiça, vingou a nação atleticana de tudo o que de pior o Fluminense proporcionou durante anos ao futebol nacional.

E foi constatado, em plena decisão da Copa Libertadores da América, em pleno Maracanã, que o Fluminense sofreu o maior traumatismo craniano da sua história.

Descanse em paz, Fluminense!


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