Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

As palábolas do sábio e honolável mestle Xin Xaco

02/07/2008


Nascido na Província chinesa de Pala-Com-Isso, treze anos antes de ser assentado o primeiro tijolo naquela que seria a maior muralha chinesa de toda China, mestle Xin Xaco completou no mês passado mil e vinte anos, se bem que sem o LG fica meio difícil de a gente acreditar no honolável Matusalém comedor de miojo.

Tão controversa quanto a história do nascimento do mestle é sua fuga da Província de Pala-Com-Isso, isso lá pelo ano de 1947, época em que Garrincha, o atleta de Pau Grande, ainda era apenas um Dente-de-Leite de pênis não mais do que mediano.

O fato é que mestle Xin Xaco se pirulitou da China e veio aqui para o Brasil atrás do lucro, pois de prejuízo o moço tava até as tampas. Chegando aqui, lavou prato, e não gostou; fritou pastéis, e não curtiu a parada; daí foi tentar a sorte como modelo.

Ocorre que o sujeito era tão magro e comprido que a única função dele no mundo féxion foi trocar lâmpada de passarela e emprestar sua quilométrica gravata vermelha para que dela fizessem um tapete vipe para receber os convidados numa das noites da “Guabirotuba Féxion Week”, evento que não emplacou mais do que a primeira edição.

Desempregado, estrangeiro em terra estrangeira, mestle Xin Xaco, depois de detida meditação, asseverou, de si para si: “Agola fudeu-se tudo! Tô mais lascado que bambu em fábrica de palito de dentes. Tô mais perdido que palanista na Sélie B, mais desespelado que banguela diante da espiga de milho!”.

E justamente quando o mestle já se preparava para o próximo passo - que no caso seria dado de cima da Ponte Preta, ali no Rebouças, e só acabaria quando a cabeça do sábio se abrisse “em três metades” no asfalto da João Negrão - é que apareceu, assim do nada, o sábio árabe Leafar Somel, conhecido nas altas rodas da sociedade curitibana como “Turco Safado”.

Conversa vai, conversa vem, Leafar Somel convenceu o bom chinês – que na real não era bom coisa nenhuma – a abrir uma tenda oriental na qual prestaria consultas na base do “pergunta que eu respondo”, tudo lastreado na milenar sabedoria chinesa. Era tiro e queda e se tinha funcionado no filme do Senhor Miague era difícil que na vida real desse errado.

A clientela inicial seria presente do Sultão da Água Verde, Leafar Somel, ao bom amigo oriental, mestle Xin Xaco. Presente é o modo de dizer, afinal a coisa ia girar no fifiti-fifiti, afinal Templo é dinheiro e a tenda não deixava de ser um Templo, posto que até isenção tributária parece que rolava por lá.

Foram tantos os serviços prestados que a Tenda do mestle Xin Xaco ganhou prestígio mundial. Inclusive o nome da Tenda foi parar na Muralha da China – por meio do contrato de neiming ráitis – passando o colossal muro a se chamar “A Grande Muralha Xin Xaco”, nomenclatura que gerou muito protesto por lá a ponto de os chineses descerem a ripa no Tibete só para desestressar os ânimos.

E por conta de toda essa fama, o povão aqui de Curitiba, município-sede da Tenda, passou a se consultar com o mestle numa variedade de assuntos antes só vista nos programas do Reinaldo Bessa, este uma espécie de Amauri Jr. só que com menos champagne e com sardinha no lugar do caviar.

Da teoria à prática, eis aqui o relato fiel de algumas consultas.

I – Torcedor paranista chega ao templo e pergunta ao mestle se neste ano a coisa vai:

- Mestle Xin Xaco, neste ano a coisa vai?
- Fala dileito, filho da puta, o que é a “coisa”? E o que é “a coisa vai”?
- Mestle, a “coisa” é o Paraná Clube e “a coisa vai” significa “o Paraná volta para a Série A?”

Mestle Xin Xaco coçou a longa barba, olhou para cima, olhou para o paranista, coçou a barba, olhou para cima e fez isso durante vinte minutos, sem que a resposta aparecesse. O paranista, já irritado e com toda razão, interpelou:

- Afinal, mestle, este ano a coisa vai?

- Não. Este ano a coisa não vai! – disse o mestle com voz decidida.

- E precisava levar quase meia hora pra me dizer que neste ano a coisa não vai?

- Plecisava, pois palanista tem que ter muita paciência pla esperar a coisa ir! Antes de 2020 não vai! E se for volta! E se voltar não vai! “Quem dá grandes passadas não avança”. Entendeu?

- Brilhante, mestle! O senhor me ensinou a importância da paciência, a virtude da espera e a sabedoria de a gente manter a fé.

- Isso mesmo. Agola deposita qualentinha ali naquela caixinha que eu não pego em dinheilo, coisa feia e matelialista. Qualentinha, ouviu, palanista? Não vai dar o balão no mestle que senão você dorme palanista e acorda anjo da guarda lá no Palaíso!

II - Torcedor coxa-branca pergunta o real valor de um título de campeão paranaense e, via de conseqüência, a importância de se ter 30 e tantos deles dentro da sacola:

- Mestle Xin Xaco, quanto vale um título de Campeão Paranaense?
- Depende: Campeão paranaense de truco ou de pegar mulé?
- Não, mestle! Campeão paranaense de futebol, seu safadinho!
- Fala dileito, filho da puta! Safadinho é a puta que te pariu, seu viado! – e o mestle falou isso já se preparando pra aplicar no coxa-branca um hiza, um cacato e uma porrada, à brasileira, bem no meio da cara.

O coxa-branca insistiu:

- Mestle Xin Xaco, quanto vale um título de Campeão Paranaense de futebol?
- Honolável camalada verde, um título desses é uma merda, um grande pacote de merda! Se você tem 30 e tantos desses, então você tem muita merda pla contar, mas, paladoxalmente, toda essa merda não significa merda nenhuma no mundo do futebol. “Se caíres sete vezes, levanta-te oito”.
- Brilhante, mestle! Essa é uma frase da Sabedoria Chinesa?
- Não. Isso é plaga mesmo, pois eu quelo que o coxa caia mais umas sete vezes para a Sélie B do blasileilão!
- O senhor me ensinou a importância de ver a realidade, de não me deixar levar por ilusões, de não acreditar em falsas conquistas!
- Isso mesmo. Agola deposita cenzinho ali naquela caixinha que eu não pego em dinheilo, coisa feia e matelialista. Cenzinho, ouviu, filhote de Gionédis? Não vai dar o nó no mestle que senão você dorme coxa-blanca e acorda lá no Inferno, no meio das caveilas fumegantes! Sacou, coisa feia?

III – Torcedor Atleticano chega ao templo e pergunta se o Kelly vai emplacar neste Campeonato Brasileiro de 2008:

- Mestle, o Kelly vai?
- O que você acha, camalada Rublo-Neglo?
- Tenho dúvidas!
- Xin Xaco também tá meio desconfiado!
- Sério? Mas o senhor não é um sábio? Um mestre? Ainda assim fica desconfiado?
- Fico, por que o espanto, porra?
- Ah, pensei que como mestre o senhor tivesse toda e qualquer resposta para as questões do mundo!
- Tenho o cacete! Tem coisas que só o Tempo pode responder!
- Isso quer dizer que eu devo esperar o tempo passar pra obter a resposta, mestle?
- Não! Isso quer dizer que eu não tenho a resposta, mas o Tempo tem.

E dito isso, mestle Xin Xaco gritou:

- Tempo! Oh, Tempo! Vem aqui, seu viado, que tem cliente pra você!

Dado o grito, veio lá de dentro da Tenda o sábio árabe Leafar Somel, conhecido nas altas rodas da sociedade curitibana como “Turco Safado”, vestindo uma roupa de Sultão e se apresentando ao aflito torcedor Atleticano nos seguintes termos:

- Muito prazer. Eu sou o Tempo e só eu te darei todas as respostas! “O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o necessário". Agora debosita bra nóis cenzinho no caixa que meu mensalidade do sócio-Furacão tá mais atrasada que misturação de mulher grávida!

Moral da História: O negócio é dar tempo ao tempo!


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