Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Menos conversa e mais futebol!

20/06/2008


Amigos, faltam uns 37 dias para este que vos escreve completar 33 anos de idade, sendo que desses 33 anos quase 27 foram, e são, dedicados ao Atlético. Vida boa. Obrigado, Senhor! Quase 33 anos! E feita a exclamação, permito-me algumas divagações.

O homem quando chega aos 33 anos pode ser tudo; só não pode ser inocente. Eu já não sou inocente há muito tempo, mas reconheço que as inocências são muitas e elas vão se perdendo aos poucos, à medida que a gente vai vivendo.

Na infância, a gente perde a inocência – ou parte dela, ou uma delas - quando o pai chega pra gente e diz, sem dó, que o Papai Noel não existe e que todos aqueles brinquedos foram comprados por ele mesmo – o Pai Nosso de cada dia.

A gente, estarrecido, ouve a notícia e vai perguntar pra mãe se é mesmo verdade ou se o pai está querendo levar o mérito às custas do Bom Velhinho. A mãe fica naquela dúvida: confirmar a versão do marido, afinal é mesmo a pura verdade; ou queimar o filme do esposo, dizendo: “Teu pai é um maluco! Tá vendo como eu sofro na mão desse desgraçado?! Ele fala mal até do Papai Noel! Um monstro!”.

Mas a mãe dá a bordoada final na inocência ao afirmar que o Papai Noel realmente não existe e ainda acrescenta: “Meu filho, Papai Noel não existe, Coelhinho da Páscoa não existe e casamento perfeito também não existe!” e você fica ali meio sem assunto afinal de contas era só pra saber da existência ou não do Papai Noel. O resto veio meio que no desabafo da velha. Tadinha!

Na adolescência, a gente perde a inocência quando, enfim, acontece a “primeira noite de amor”. Às vezes, a primeira noite de amor acontece de tarde, sacramentando a sonhada primeira vez, embora seja – no mínimo - a sexagésima terceira vez da moça, com um guri de 15 anos, atleticano, de aparelho nos dentes, péssimo aluno de Química, Física, Matemática, Biologia e aluno de respeitado colégio Marista.

Adultos, perdemos a inocência ao constatar que aplicar a Lei nem sempre é fazer Justiça. Perdemos a inocência ao perceber que nem toda verdade pode ser dita; ao testemunhar que são mais fortes aqueles que sabem mentir; que o Pão cresce, e não é dividido; ao ouvir palavras sagradas: Deus, Família, Igualdade, Liberdade, Democracia, Direito, Trabalho, Soberania se tornarem vocabulário corrente – e recorrente - no discurso fácil dos bandidos.

Adultos e na condição de torcedores, perdemos a inocência ao ouvir tantas juras falsas de amor: “Amo o Atlético! Visto a Camisa do Atlético por – e com – Amor! É minha segunda pele! É minha Alma! Amo esta Torcida maravilhosa! Vou lutar, honrar, dignificar, engrandecer, fazer valer as tradições, jogar com raça, jogar como joguei noutros tempos, jogar como em tempo algum, irei além, irei me superar! Só saio daqui campeão. Não sairei nunca! Etc.”.

Amigos, faltam uns 37 dias para este que vos escreve completar 33 anos de idade, sendo que desses 33 anos quase 27 foram, e são, dedicados ao Atlético. Vida boa. Obrigado, Senhor! Quase 33 anos! O homem quando chega aos 33 anos pode ser tudo; só não pode ser inocente. Eu já não sou inocente há muito tempo, por isso declaro, publicamente, que esse papinho furado de boleiro não me convence mais.

Quem teve de carregar o peso de malas como Dagoberto, Aloísio, Marcos Aurélio e, mais recentemente, Claiton sabe muito bem que não dá pra cair no "canto da sereia" dos caras que trocam de Camisas como a gente troca de cuecas.

Reconheço-me antipático ao escrever tudo isso, mas, como no samba do Chico: “Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito exijo respeito, não sou mais um sonhador. Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor e dou risada do grande amor”.

Julio dos Santos e Rafael Moura, sejam bem-vindos ao Clube Atlético Paranaense! O Clube Atlético Paranaense é muito amado, verdadeira e profundamente, por nós – torcedores de corpo e alma; e é o Clube que vocês passam a ter a obrigação de honrar e de engrandecer, ainda mais, dentro e fora de campo.

Não me venham com palavrório tolo do tipo “O torcedor pode esperar muita raça, tenho muito garra e tenho certeza que vou fazer um excelente trabalho”, pois isso é o que a gente espera de todo jogador que veste o nosso Manto Sagrado. Julio dos Santos, boa sorte! Seja bem-vindo!

Não me venham com frescuradas autopromocionais do tipo “chegou o He-Man” que isso já encheu o saco de todo torcedor sério e minimamente inteligente. Pra mostrar que tem a força, prezado amigo irmão da She-Ra, vai ter de jogar muito mais bola do que nos tempos do Lorient. O He-Man se virava bem com o Esqueleto, mas aqui, seu Rafael Moura, a Caveira é mais forte e robusta. É preciso ter a força, caboclo! Boa sorte. Seja bem-vindo!

Por fim, cabem as perguntas: Diretoria, como foram fechadas essas recentes contratações? Quem fez a indicação técnica? Quem nos dá o aval de que, dentro de campo, esses nomes farão a necessária diferença? São mesmo reforços ou vêm encher as já obliteradas fileiras?

No futebol – como na vida – chega um ponto em que não há mais espaço para a inocência!


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