Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Inspiração x Desilusão

18/06/2008


Meu grande amigo Juarez Vilella me cobra para escrever. De fato, tenho enviado poucas colunas ultimamente. O acúmulo de trabalho e a correria na vida pessoal têm me impedido de escrever com mais freqüência.

Mas a verdade é que não é só isso. Falta mesmo inspiração. E essa falta de inspiração decorre de uma desilusão com o futebol, que vem crescendo dia após dia, jogo após jogo. Hoje é tão fácil ver que futebol virou um negócio, que nos sentimos cada vez mais afastados do esporte.

Vejamos a Seleção. Entra hoje em campo contra a Argentina, com suas estrelas. Com o menino Anderson e suas trancinhas, cheio de marra. Vejo jogadores chegando ao aeroporto com seus brinquinhos brilhantes, roupas e óculos de grife, Ipods e outros eletrônicos. Todos querem mostrar seu valor - literalmente, valor este que pode aumentar em negócios futuros no mecado da bola. Vejo um treinador que quer vencer com o único intuito de buscar sua redenção pessoal, para chegar na entrevista coletiva e mandar a imprensa à merda. Sem falar, claro, na construção de sua carreira de técnico, que está no início. E aí, do outro lado, vejo os argentinos com um patriotismo invejável e que, jogando bem ou mal, dão sangue pela equipe que defendem.

No Atlético, as notícias são só os negócios. O que posso comentar? As perspectivas do clube no Brasileirão? Lutar por uma vaga na Sulamericana? Na verdade, resta comentar sobre negócios: a não contratação de Kelly, a chegada de um ou outro reforço, ou a única notícia realmente animadora em termos de futebol, que foi a volta de Ferreira.

Enfim, são negócios demais para quem aprendeu a ver o futebol com paixão. Pra quem sempre torceu irracionalmente, desde a Baixada antiga, passando pelo Pinheirão, até o confortável estádio que temos atualmente. Hoje, até mesmo nosso sentimento irracional esbarra nas certezas de um futebol eminentemente mercantilista. Como vou, por exemplo, alimentar esperanças de ver o recém-contratado Júlio César como ídolo se, ao final do ano, sei que ele embarcará para o Qatar ou outro país que detenha petro-dólares?

O mesmo amigo Juarez, no ano passado, me apresentou ao rugby, um esporte sensacional. Uma atividade que preza imensamente por valores como garra e espírito de equipe, onde seria inimaginável o individualismo e o mercantilismo que vemos no futebol.

É claro que essa minha desilusão com o futebol irá pro saco assim que minha paixão, o Atlético, me tirar do sofá, ou seja, quando apresentar um time empolgante e conseguir engatar uma campanha que me dê, ao menos, esperança de sonhar com conquistas. Por enquanto, minha inspiração prossegue hibernando, dormente, como eu mesmo adormeci ao ver Portuguesa x Atlético no último sábado.


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