Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Realidade virtual

12/06/2008


Jamais negarei a força do Corinthians, não só como instituição mas principalmente por sua fanática e numerosa torcida. Não à toa é comum se ouvir que no Corinthians é a torcida que possui um time e não um time que possui uma torcida. Pudera pois nem CT e estádio possui o popular clube do Parque São Jorge, tendo na galera seu maior patrimônio.

Já vi jogo do alvinegro no Morumbi, já vi clássico paulista também, jogos aqui no Pinheirão, Couto Pereira e na Baixada e também confronto contra eles lá no Pacaembu. Não há o que se discutir sobre a vibração e paixão desta torcida. Mas a transmissão de ontem, querendo induzir o espectador a pensar que pouco mais de dois mil corinthianos estavam calando 30 e tantos mil torcedores do Leão foi forçada demais!

Microfones direcionados para a torcida do Timão, uma transmissão feita de estúdio como denunciava Falcão quando comentava que “ lá em Recife o jogo parece estar quente” e que se comprovou nos comentários pra lá de tendenciosos da dupla Cléber Machado e Arnaldo Cesar (faça o que eu digo, não faça o que eu fiz) Coelho no Jornal da Globo pós partida. Um clima de velório com a vitória mais que merecida do clube pernambucano, uma narração que explorou ao máximo o suposto pênalti não dado sobre Acosta no final da partida, mas que solenemente ignorou a claríssima penalidade sobre o avante do Sport que depois foi ainda chutado quando estava deitado.

Um show! Um show de horrores. Parecia que brasileiros, no caso corinthianos, enfrentavam as agruras, os desafios, o anti jogo, a sacanagem e catimba fora de casa de argentinos num clássico de Libertadores ao pisarem na Ilha do Retiro contra o valente Sport. Esperar o que de uma emissora que já editou debate e tirou de Lula uma boa oportunidade em 1989 nas eleições presidenciais ou mesmo que ignorou um movimento que começou aqui em Curitiba, na Boca Maldita e se espalhou pelo Brasil todo, unindo rivais históricos no mesmo palanque e não pôde mais esconder a verdade quando mais de um milhão de pessoas estiveram no Vale do Anhangabaú na capital paulista pedindo as Diretas Já?

A vitória do Sport Clube do Recife foi muito mais do que sobre o violento time corinthiano. Foi uma vitória da verdade, da humildade, de um time que tem como zaga Igor e Durval, dois beques que nunca se firmaram no Furacão mas que sentem agora o doce sabor da vitória e merecem sim nosso aplauso, foi a vitória não só de um time, mas sim de um povo, vitória da cultura popular, terra da literatura de cordel, de Chico Sciense de saudosa memória, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, do forró, do maracatu, da arquitetura holandesa contra uma realidade virtual, fruto do mercantilismo dos detentores do poder no Brasil.

As Sport meus respeitos e parabéns pela brilhante conquista.

E O NOSSO RUBRO-NEGRO?

Fruto de um debate ano passado após mais uma frustrante eliminação dentro de casa pela Copa do Brasil (e que infelizmente se repetiu este ano), chegamos, eu e o amigo Juliano Ribas a seguinte conclusão: Copa do Brasil não se planeja. Mal se sabe quem é o próximo adversário, nem como o time estará mentalmente no momento, por também estar jogando os estaduais, nem se o jogo é em casa ou fora. Uma noite infeliz, um erro de arbitragem e lá se foi uma conquista que poderia ser certa. E não há tempo para correção, bobeou, tchau! Lógico, quanto melhor o time, maiores as chances, mas como explicar então que Internacional e Palmeiras ficaram pelo caminho, justo no caminho do Sport Recife?

Dentre os vários erros cometidos pelo futebol atleticano nos últimos anos, o maior talvez tenha sido tratar não só como prioridade como é a Copa do Brasil, mas principalmente por não ter se preparado tanto técnica como mentalmente para ela. E principalmente não estar preparado também para o revés, pois invariavelmente o Furacão caiu em depressão após as eliminações vexatórias que teve, gerando conseqüências pelo restante do ano.

E se Claiton e Ferreira estivessem aqui, seríamos nós que estaríamos comemorando hoje? Como saber? É provável, mas não certeiro.

ARREMATE

“A beleza rédia prosa da dor/
E o seu umbigo ainda em flor.”
PRATO DE FLORES, Nação Zumbi


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