Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Manual do Imperialismo Paulista

08/06/2008


De tempos em tempos, um time longe do eixo Rio-SP põe a cabeça para fora e ousa desafiar o establishment do futebol brasileiro. Mas o preço a pagar geralmente é caro. Logo, com o apoio até da imprensa e de jornalistas preconceituosos, o time começa a ser perseguido dentro e fora das quatro linhas. A mais nova vítima é o Sport, que se atreveu a eliminar o incensado Palmeiras de Luxemburgo e desafiar o "Timão" na Copa do Brasil.

Funciona da seguinte forma. Em um primeiro momento, o time aparece com um bom futebol, ganha algumas partidas importantes, recebe elogios de jornalistas - que em geral nunca viram os jogos da referida equipe - e certa admiração dos torcedores adversários dos times eliminados.

Mas a lua-de-mel vai acabando à medida que o time chega mais longe e ameaça os queridos paulistas. Se o time for do Sul, logo surgem os adjetivos de sempre: violento e retranqueiro. E o técnico é truculento, a menos que ele depois venha treinar um time de São Paulo, como fizeram Felipão e Mano Menezes. Caso o time seja do Nordeste, o preconceito vem mais forte. De repente os estádios se tornam "alçapões", e surgem frases como a "CBF tem que tomar alguma atitude", e "lá em cima é complicado".

Vejamos o caso do Sport. A imprensa esportiva está colocando a confusão que houve no jogo do Náutico contra o Botafogo no mesmo balaio da final da Copa do Brasil. De repente, Recife, uma cidade belíssima e culturalmente tão ou mais rica que São Paulo, se tornou uma terra de bárbaros e a polícia de lá virou a pior do Brasil, como se aqui e no resto do País só houvesse polidos gerdarmes suíços.

A maioria das críticas embute um preconceito latente em certa parte da mídia paulistana, retrógrada e ultrapassada. Outro dia mesmo vi um espetáculo dantesco de um radialista falando barbaridades de um time de fora de São Paulo (não vou falar o nome o imbecil para não dar ibope, mas vocês sabem quem é). O tom era tão raivoso que dificilmente um torcedor organizado faria melhor - no caso, pior. Veja bem, tudo isso usando a carteirinha de jornalista e radialista.

Saí da imprensa esportiva há cinco anos, em boa parte por causa disso. E só tem piorado desde então. Hoje muita gente se sente no livre direito de falar qualquer bobagem, tendo a profissão de jornalista como passe livre para destilar preconceito e estimular o clima de guerra e violência, como se já não vivêssemos em um mundo suficientemente desgraçado.


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