Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Deus me fará Justiça

05/06/2008


No clássico “O Conde de Monte Cristo” escrito por Alexandre Dumas, narra-se a história do jovem navegador Edmond Dantes que vítima da inveja e da armação de seus próximos se vê preso sem ao menos saber do que está sendo acusado. Ainda analfabeto, Dantes olha um escrito na parede da prisão localizada numa distante ilha sem saber que está ali o que lhe dará forças para lutar até o final contra seus inimigos, não logo após fazê-los sofrer tanto como sofreria ainda nos 13 anos de sua injusta reclusão: “Deus me fará Justiça”.

Comecei a acompanhar futebol na metade da década de 80 e ainda me lembro de ouvir em todo Atletiba a torcida alviverde gritando para nós: SEM TERRA! Baixada abandonada, com o mato lhe tomando as arquibancadas que insistiam em ser cuidadas por membros da Fanáticos enfim, um cenário de Hiroshima pós bomba atômica. O gélido e longínquo Pinheirão nos tirava a paciência e maltratava até mais do que os gritos da torcida rival.

Coxas nos viram transformar o acanhado mas sempre quente Joaquim Américo na majestosa Arena da Baixada. Nos viram bordar, como manda o figurino primeiro uma estrela prateada, depois a dourada e chegar entre os maiores da América lhes causando espanto e medo. Neste tempo, jejuaram por longos anos, caíram mais de uma vez para a segundona e hoje não param de comentar sobre a conclusão da Baixada, que terá que ser deixada de ser chamada de “meio estádio”, como se assim o fosse. Por outro lado sabem das infiltrações, ferros aparentes, fios desencapados e do perigoso treme-treme de seu outrora “monumental” campo de jogo.

E o time das diversas camisas e várias fusões? Tem a ousadia de também chamar a Arena de “meio estádio” como se o seu fosse algo melhor que um puxadinho remendado que sequer tem arquibancadas no gol dos fundos. O time que era o Estado do Paraná na Libertadores 2007 e comemorava sua primeira vitória no Caldeirão do Diabo como um título é agora o Estado do Paraná na segunda divisão, entre os classificados para a terceira hoje em dia.

Ontem dois casos emblemáticos. O Corinthians das suspeitas parcerias, possível lavagem de dinheiro e do título mais do que suspeito de 2005 na segunda divisão, decidindo contra o bravo, porém assustado Sport Recife a Copa do Brasil e conseqüente vaga na Libertadores 2009. E por esta competição, o bom e milionário Fluminense eliminando de forma épica o carrasco Boca Juniors numa partida emocionante.

O mesmo Fluminense, cujo estádio em precárias condições não pode receber jogos de futebol, principalmente depois da covardia impetrada contra nosso goleiro Ricardo Pinto em 1996. O mesmo clube em que seus dirigentes brindaram com champagne a punição injustamente imposta pelos tribunais de exceção contra o nosso Furacão no ano seguinte. O clube das Laranjeiras em que o hoje treinador (bom treinador diga-se) Renato Gaúcho, sabedor que enquanto CBF e STJD estiverem sediados no Rio de Janeiro a cariocada pode pintar e bordar, apostou em rede nacional que se o time caísse aquele ano, sairia nu na praia de Copacabana. Naquele ano não seo Renato, mas no ano seguinte caiu!

E no seguinte caiu de novo e numa canetada dos cartolas foi alçado da terceira direto para a primeira divisão e lá permaneceu quieto, incógnito como que com vergonha. E foi ficando, aos poucos se ajeitou, fez por merecer a Copa do Brasil do ano passado e agora já se intitula campeão da Libertadores. O que me alegra ao ver o êxtase dos tricolores hoje, é saber que a decepção será ainda maior quando perderem o título.

Na última cena do “Conde de Monte Cristo” , Edmond Dantes aparece ao lado de sua esposa Mercedes e o filho que recém conhecera na ilha que outrora era sua prisão agora por ele comprada e que terá um destino mais digno. E lá ainda está escrito, com as marcas do tempo que “Deus me fará Justiça”.

Nada pessoal com os amigos Washington e Diego, mas a justiça será feita com o Fluminense e a todos aqueles que ousarem desafiar o Clube Atlético Paranaense.


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