Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

O Campo dos Sonhos

05/06/2008


Verdadeiramente emocionado, li, ontem, as notícias acerca do início das obras da segunda fase da Arena da Baixada, fase de conclusão. Li as notícias e vi as fotos, até onde meus olhos permitiram. Depois vieram as lágrimas a comprometer o foco e toda nitidez foi, realmente, por água abaixo. Quem é atleticano sabe o que eu senti, não me prenderei a detalhes e descrições mais minudentes: a paixão a gente sente, não explica.

Fechei os olhos. Engraçado como, de olhos fechados, a gente passa a (re)ver o passado, como se o cérebro engatasse marcha ré a nos proporcionar longa viagem pelas estradas que nos conduzem, uma vez mais, ao encontro de tudo que vivemos. Recordar é viver. Ontem (re)vivi.

E na viagem de volta ao meu passado, flagrei-me na calçada da Rua Buenos Aires, 1270, a observar, em 1983, as obras de reforma e ampliação das arquibancadas contíguas ao velho Ginásio. Nos meus oito anos, eu parava para ver a entrada e saída de operários que, com seu admirável trabalho, iam dando novas formas e dimensões à querida Baixada.

Carrinhos-de-mão repletos de terra escura saíam levados pelos trabalhadores. Entravam carrinhos carregados de areia, de brita, de sonhos. O velho estádio ia ganhando corpo à medida que a gente ia ganhando alma. Quem era atleticano naquele inesquecível 1983 sabe bem o que eu vi, não me prenderei a detalhes e descrições mais minudentes: alma é a parte do corpo que não morre nunca e nela ficam gravadas todas as memórias do coração. Alma também é Espírito. Espírito é o veículo que um dia nos leva de volta a Deus.

Ficou linda a Baixada em 1983. Pra mim, não existia no Mundo Estádio que fosse mais bonito. Eu gostava de tudo: dos tijolos à vista ao musgo que rompia o cimento dos cinzentos degraus para ir espiar o Atlético em campo; das acomodações modestas às sociais, também franciscanas, onde se podia ler a orgulhosa frase “A Maior Torcida do Estado do Paraná” – e se a frase não era bem essa, perdoem-me, pois a memória, após os 32 anos, já não é a mesma.

Em novembro de 1985, o Atlético desativou a Baixada. Nem mesmo o abaixo-assinado, que reuniu mais de 20.000 torcedores, foi capaz de demover a Diretoria de seu propósito de adotar o Pinheirão como palco para os jogos do Atlético. Aquele Atlético 3 X 0 Londrina, jogo no qual levantamos o caneco de 85, seria o último jogo na Velha Baixada e as assinaturas – inclusive a minha e a do meu Pai – ficaram esquecidas em folhas de papel que amarelaram com o tempo, longo tempo aliás.

Em fevereiro de 1992, num sábado à tarde, a Massa explodiu pedindo a volta para a Baixada. Eu e meu Pai – na ocasião – engrossamos o coro: “Baixada! Baixada!” – gritado a plenos pulmões e amplificado por conta dos gestos quase marciais que fazíamos. Era uma ordem, não era um pedido. Ou o Atlético voltava à Baixada por vontade de sua Diretoria, ou o Atlético voltava nos braços do Povo, sem sua Diretoria. Dada a ordem, iniciou-se o retorno.

Até maio de 1994, cada atleticano se converteu num fiscal de obras, num engenheiro, num arquiteto, num sonhador. A Baixada, aos poucos – e como demorou o renascimento – ia ganhando vida, quase que por milagre. Doações chegavam de todos os lados e até mesmo Antônio Ermírio de Moraes mandou generosa contribuição de cal e cimento. Após dois anos de obras, a Baixada estava de volta, ou o Atlético estava de volta, nem sei como explicar, aliás, nem precisa: o Amor pelo Atlético não requer explicação, precisa apenas ser vivido, como a gente vive, viveu e viverá.

Naquela nova-velha Baixada, vivemos as mais fortes emoções, que tiveram seu ápice, talvez, na partida em que nos sagramos campeões brasileiros da Série-B, ao batermos o Central de Caruaru-PE, por 4 a 1. Naquele dezembro de 1995, voltávamos à Série A do Nacional para nunca mais provar as agruras de um rebaixamento.

Já em 1996 ficou claro que a hipertrofia do Atlético dentro de campo impunha a inadiável hipertrofia de suas estruturas físicas. Um Estádio com capacidade para 18 mil pessoas não era mais suficiente. Em 1996, arquibancadas tubulares foram acopladas às pressas para que o Atlético pudesse realizar, no Joaquim Américo, seus jogos de dimensões eloqüentes, em termos de nível técnico e de espectadores. Em 1996 ficou evidente: a nova-velha Baixada precisava crescer para ser a casa do Atlético Gigante.

Em face da necessidade, vieram os projetos: tobogã no lugar do Ginásio; tobogãs atrás dos gols; tobogãs atrás dos gols e estrutura tubular; demolir tudo, adquirir boa parte dos imóveis lindeiros e construir uma moderníssima Arena, coisa inédita na América Latina.

O QUÊ? Demolir um Estádio recém inaugurado??? Esse Petraglia ficou maluco??? Construir uma Arena??? Nem o Flamengo, nem o Corinthians, nem o River Plate possuem uma Arena??? O Atlético conseguirá tal feito??? Uma Arena de milhões de dólares??? Pois era isso mesmo! Era e foi. Era, foi, está sendo e será, pois, queridos Amigos e desprezíveis inimigos da causa Atleticana, as obras da segunda Fase da Arena estão começando, diante dos olhos marejados de milhares de Atleticanos, diante do olho-gordo de milhares de invejosos que conspiram contra o nosso Atlético!

Inevitável constatação: enquanto o Clube Atlético Paranaense lança mais uma pedra-fundamental, seus detratores continuam atirando pedras sem fundamentos.

Inevitável conclusão: a cada dia é mais real - para nós, Atleticanos - o Campo dos Sonhos!


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