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Rafael Lemos
Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.
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Se gritar: “Pega ladrão!”
02/06/2008
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“Se gritar: pega ladrão!; não fica um, meu irmão. Se gritar: pega ladrão!; não fica um!”. Esse é um dos refrões mais famosos de Os Originais do Samba¹, grupo de sambistas que fez e aconteceu no Brasil, lá pela década de 70, e cujo integrante mais célebre foi o queridíssimo e inesquecível Mussum que, após deixar o grupo de samba, integrou a formação clássica do quarteto Os Trapalhões. Sou fã dos Originais do Samba e dos Trapalhões, desde a década de 70.
Sim, amigos, “Eu era um garoto que, como ninguém, ouvia os Originais do Samba e assistia aos Trapalhões. Não era belo, mas, mesmo assim, minha Mãe de dó cuidava de mim...” e, convenhamos, não tivesse sido minha Mãe e sei lá o que teria sido deste que vos escreve. Já pensou? Um piá, na tenra idade de 4 anos, ouvindo Os Originais do Samba e assistindo aos Trapalhões?
Por pouco não virei um Bandido da Luz Vermelha², um Chico Picadinho² ou coisa pior. Por pouco, não virei um Giuliano Bozzano que, a golpes de apito, fez e faz mais estrago que o “Homem da lanterna vermelha” e o “Cara da gilete, da tesoura e da faca”.
É como diz o ditado: “Tal pai, tal filho” e o Giuliano – Safadão! Canalha! – é a cara (de pau) do papai, o famigerado Dalmo Bozzano que, na base do passo do elefantinho, metia a mão nos Clubes aqui do Paraná, nas décadas de 80 e 90. “Se gritar: pega ladrão!; não fica um, meu irmão. Se gritar: pega ladrão!; não fica um!”.
É como dizia o Bezerra da Silva “Cuidado que o bicho, mais cedo ou mais tarde pode te pegar!”. Alô, Hélio Cury³, cadê você?”: operaram os verdes dentro e fora de casa, duas vezes, em uma semana! Alô, Hélio Cury, cadê você?”: meteram o garfo no Atlético dentro do Parque Antártica e vai ficar por isso mesmo? O bicho já tá pegando, Hélio Cury! “Se gritar: pega ladrão!; não fica um, meu irmão”, e você vai ficar aí calado? Camarão que dorme a onda leva, malandragem! Alô, Hélio Cury, acorda, Majestade!
P.S.: ¹ Os Originais do Samba: Grupo formado na década de 60 no Rio de Janeiro por ritmistas de escolas de samba, começou a se apresentar em teatros e show, incluindo o palco do Copacabana Palace, onde realizou o espetáculo "O Teu Cabelo Não Nega". Fixaram-se em São Paulo depois de excursionar pelo México, e em 1968 acompanharam Elis Regina na música vencedora da I Bienal do Samba, "Lapinha", de Baden Powell e P.C. Pinheiro. No ano seguinte gravaram a música "Cadê Teresa", de Jorge Ben, que fez grande sucesso. Participaram de festivais e ganharam discos de ouro pela vendas de suas gravações, principalmente nos anos 70, combinando o canto uníssono, a roupa padronizada e boa dose de humor. Um dos integrantes do grupo, Mussum, sairia para formar Os Trapalhões ao lado de Renato Aragão e Dedé Santana. Tocaram com grandes nomes da música brasileira - como Chico Buarque, Jair Rodrigues, Vinicius de Moraes - e mundial - Earl Grant. Excursionaram pela Europa e Estados Unidos, e foram o primeiro conjunto de samba a se apresentar no Olympia de Paris. Alguns de seus maiores sucessos são "Tá Chegando Fevereiro" (Jorge Ben/ João Melo), "Do Lado Direito da Rua Direita" - esta é a minha favorita! - (Luiz Carlos/ Chiquinho), "A Dona do Primeiro Andar", "O Aniversário do Tarzan", "Esperanças Perdidas" (Adeilton Alves/ Délcio Carvalho), "E Lá se Vão Meus Anéis" (Eduardo Gudin/ P.C. Pinheiro), "Tragédia no Fundo do Mar (Assassinato do Camarão)" (Zeré/ Ibrahim), "Se Papai Gira" (Jorge Ben), "Nego Véio Quando Morre". Em 1997 gravaram um CD comemorativo pelos 30 anos de carreira, e atualmente continuam se apresentando no Brasil. Fizeram parte do grupo: Mussum, Rubão, Bigode, Bide, Chiquinho, Lelei, Zeca do Cavaquinho, Sócrates, Rubinho Lima, Valtinho Tato e Gibi.
P.S.: ² O Bandido da Luz Vermelha vestia terno, colete, chapéu de feltro, luvas de couro, lenço para cobrir o rosto, portava uma lanterna com luz vermelha e dois revólveres. Era um ladrão solitário que aterrorizou as noites da capital paulistana na década de 60. Só atacava mansões. Roubava e obrigava as vítimas a cozinhar de madrugada para ele. Estuprava e, às vezes, assassinava. Começou a ser chamado de "Bandido da Luz Vermelha" em referência a um assaltante e homicida norte-americano que ficou conhecido mundialmente (Caryl Chessman) que tinha este apelido e foi executado na câmara de gás de San Quentin, Califórnia, por força de 17 acusações de estupros e seqüestros. Chessman agia sempre sob uma Lâmpada vermelha igual dos carros de polícia e sempre alegou ser inocente. O Bandido da Luz Vermelha brasileiro agiu impunemente durante seis anos. A polícia de São Paulo só o identificou após recolher um fragmento de impressão digital no vidro da janela de uma mansão assaltada: João Acácio Pereira da Costa, 25 anos. Era fascinado pela cor vermelha. Dizia que era "a cor do diabo". Cometeu oficialmente 88 delitos: 77 assaltos, dois homicídios, dois latrocínios e sete tentativas de morte. Suspeita-se de que ele tenha estuprado mais de 100 mulheres. As vítimas nunca deram queixa. João Acácio Pereira da Costa, o "Bandido da Luz Vermelha", mantinha uma vida dupla. Nas folgas dos assaltos, era um pacato morador de um edifício na cidade de Santos, amável com os vizinhos. O apartamento era todo decorado de vermelho. Sempre viajava de ônibus de Santos para assaltar na capital paulista. Gostava de imitar o jeito de se vestir e de cantar de Roberto Carlos, então no auge da Jovem Guarda, e usar ternos semelhantes aos Beatles. Gastava o dinheiro dos roubos com mulheres e boates. Era apaixonado por filmes de faroeste: "Pistoleiros ao Entardecer", estrelado pelo ator inglês Randolph Scott, era o seu predileto. Preso no Paraná, em 1967, foi condenado a 351 anos de prisão. Na cadeia, recebeu flores e bilhetes apaixonados de algumas de suas vítimas de estupro. Em 1968, virou personagem do filme homônimo, do diretor Rogério Sganzerla. Cumpriu os 30 anos de prisão previstos na Constituição e foi libertado no final de 1997. Estava completamente desdentado (tinha perdido 11 dentes) e sofrendo de sérios problemas psiquiátricos. "Luz Vermelha" foi assassinado com um tiro de espingarda quatro meses e cinco dias depois de ser solto, durante uma briga com um pescador na cidade de Joinville, Santa Catarina.
Chico Picadinho, alcunha de Francisco Costa Rocha, foi um assassino em série brasileiro que esquartejou várias mulheres entre 1966 e 1976. Foi detido e condenado pela primeira vez por ter matado e esquartejado uma bailarina. Para se livrar do corpo, colocou os pedaços dentro de uma caixa de papelão em um apartamento alugado em São Paulo, fugindo em seguida para o Rio de Janeiro, algumas semanas depois o proprietário do apartamento foi cobrar o aluguel e sentiu um forte odor, descobrindo então o corpo. Nessa primeira vez ficou preso até 1974. Após ter sido liberado por bom comportamento, voltou a cometer um crime semelhante, porém dessa vez destrinchou sua vítima com um cuidado muito maior, para em seguida tentar despejá-la pela descarga do vaso sanitário. Essa tentativa não deu certo e o assassino foi preso novamente, dois anos depois de ter sido liberado por bom comportamento (no entretempo entre ter sido liberado e ter sido preso novamente houve uma outra tentativa de assassinato que falhou, pois sua vítima conseguiu fugir antes de Chico finalizar o ato). Na época, a exibição pela imprensa das fotos de suas vítimas cortadas em pedaços sensibilizou bastante a opinião pública, fazendo com que o criminoso fosse condenado 30 anos de prisão. Por ser considerado perigoso, Chico Picadinho continua preso até hoje, apesar de já ter cumprido a pena máxima prevista pelo Código Penal brasileiro, que corresponde a um período de trinta anos. Hoje, encontra-se no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Arnaldo Amado Ferreira, na cidade de Taubaté de onde, espero, só saia morto! Estudante de Direito na época dos crimes, Chico Picadinho era um homem muito culto. Até hoje passa seus dias na prisão praticando a pintura. Nos seus crimes ele agiu sobre influência do romance Crime e Castigo de Dostoiévsky, a quem chamou de Deus numa entrevista. Também é um grande fã da obra de Kafka, e espero, honestamente, que não seja leitor da Furacao.com!
P.S.: ³ Hélio Cury foi eleito para presidir a Federação Paranaense de Futebol (FPF) pelos próximos quatro anos (2008/2012), mas até agora: nada! Continuamos sem representatividade nenhuma perante a CBF, perante o STJD, perante a Grande Crônica Esportiva Nacional, perante as demais Federações, etc., etc., etc.
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