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Juarez Villela Filho
Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.
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Mudança e evolução
30/05/2008
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Há coisas que parecem eternas, imutáveis e que serão sempre assim. A caneta Bic, todo mundo já teve, comprou, ganhou ou achou uma. Surgiu a Kilométrica (a caneta simpática por um preço milimétrico), as modernas Pilot e as quatro cores. Hoje vemos que as canetas Made in China são vendidas em larga escala, mas ninguém tirou o lugar da boa e velha Bic.
Muitas outras coisas, entretanto tem que se modificar, são obrigadas a mudanças e se adaptarem aos novos tempos. Lembro na pré-adolescência que vivia pra lá e pra cá com meu walkman, passava o fio dos fones por dentro da blusa do colégio para ouvir mesmo em sala de aula e colava com silver tape na cintura para escutar música enquanto andava de skate. Depois vieram os discman que consumiam pilha adoidado e tinha-se que tomar cuidado pro cd não pular enquanto se movimentava. Com o tempo apareceram os tocadores digitais do tamanho de uma carteira de cigarro e hoje se armazenam centenas de músicas, facilmente selecionáveis e classificadas em pastas em aparelhos do tamanho da tampa de uma caneta Bic, a mesma que eu usava para rebobinar as fitas K-7 do meu walkman.
A evolução é constante e quem pára no tempo fica pra trás. Assim o telefone via satélite Iridiun mal surgiu e desapareceu e os pagers perderam espaço facilmente para os aparelhos celulares. O mercado não perdoa!
Na segunda metade da década passada, com o CT do Caju muito menos equipado que hoje em dia, o Atlético parecia ter descoberto a fórmula mágica do sucesso no futebol brasileiro. Como uma receita, seria algo mais ou menos assim:
- estrutura com campos de treino e acompanhamento fisiológico, fisioterápico, médico e odontológico;
- atenção ao jogador como ser humano, não só atleta;
- jogadores desconhecidos, novos e vindos de times menores, com disposição para vencerem na vida (Adriano Gabiru e Flávio do CSA, Lucas, Cocito e Gustavo do Botafogo de Ribeirão Preto, Kléber do Moto Clube do Maranhão);
- mescla destes jogadores com outros de sabida qualidade técnica e já experientes (Axel, Sandoval, Fabiano, o zagueiro e volante que foi nosso capitão, Souza e Nem)
- entrada de jogadores da categoria de base, aos poucos para não queimá-los, deixando jogador de base ser uma boa opção, mas nunca a solução dos eventuais problemas (o lateral Fabiano, Kléberson, Jadson, Fernandinho e até mesmo o atacante de caráter duvidoso recém eliminado da Libertadores).
Não tinha como dar errado, era o que parecia! A realidade financeira da época nos ajudou e essa estrutura se fomentou com a venda de alguns bons jogadores, precursores do mito de que o Atlético era ótimo negociador e transformou Oseas, Paulo Rink, Alberto, Warley e Paulo Miranda no melhor, mais moderno e belo estádio brasileiro, além de estruturar ainda mais o já excelente Centro de Treinamentos do Atlético Paranaense, ambos referência nacional.
A lei do passe mudou e os demais clubes do Brasil também montaram seus centros de treinamentos, alguns modestos com somente campos de futebol e instalações básicas e outros com estrutura tão boa quanto o Furacão, como o Galo, Cruzeiro e São Paulo, além de outros com estrutura intermediária como Coxa, Palmeiras e Santos. A coisa mudou tanto, que há vários clubes voltados somente para a revelação de valores, com CT´s também bem equipados e estrutura empresarial como o CFZ do Zico, o Campinas FC do ex-jogador Careca e até mesmo o TCW da cidade de Toledo, com um interessante projeto.
Neste ponto o Atlético fez mais, fez o diferencial e minha crítica recai sobre o baixo aproveitamento do que o CT do Caju poderia e na verdade deveria nos ofertar. A última geração talentosa saiu de lá há quase meia década e os destaques posteriores nunca foram unanimidade. Vimos o surgimento do bom meia Pimba, mas dar-lhe a camisa 10 e querer que ele com 17 anos fosse o cérebro do time e resolvesse o crônico problema da falta de criação pesou demais, até por ele não ter ninguém mais experiente a seu lado para dividir e responsabilidade. Surgiu ano passado o bom zagueiro Rhodolfo, firme e decidido, mas ele só cresceu quando teve o experiente e magistral Antonio Carlos a seu lado. E assim como o rápido e habilidoso avante William, parece ter se perdido com os elogios e ambos andaram se preocupando mais com o penteado e a cor das chuteiras do que com o bom futebol que chegaram a apresentar.
A solução? A curto prazo é contratar menos e com mais qualidade. Mas muito mais qualidade. No fórum de debates da Furacao.com surgem de duas a três páginas por dia de alternativas, sendo ao menos 1/3 delas viáveis sob o ponto de vista financeiro do clube, desde que este tivesse disposição de contratar sem ficar sempre pensando em futura negociação. No Atlético urge a contratação de um ala esquerda, um meia de criação e mais um atacante. Na pior hipótese um ala que chegue e já jogue logo ou um meia que vista a camisa 10 de pronto e desloque Netinho para a marginal canhota do campo.
A médio prazo, desinchar o elenco e emprestar ou fazer negócios na base da troca dos vários jogadores que vestiram a camisa rubro-negra por muito e intermináveis períodos e que infelizmente não corresponderam. Michel, João Leonardo e Roberto são exemplos de atletas que poderiam ir para um Paraná Clube por exemplo, onde teríamos muito mais oportunidade de acompanhar como estão e que em troca nos mandaria um ala como Everton.
O que não dá mais é ver um clube que cada vez arrecada mais e das mais variáveis formas, se mostrar competente nos negócios e trazer tantos jogadores com tão baixa qualidade. Parece que quanto mais se tem para investir, mais se economiza! Chega de jogador em litígio com ex-clube, de brigas intermináveis nos Tribunais onde invariavelmente temos perdido, de trazer caminhões de times de “parceiros” pra ver se um ou outro dá certo, pagar o prejuízo com o nível dos demais e ainda ter que rachar meio a meio com a futura venda ou achar que atletas disputando campeonatos como o emocionante certame potiguar, o niveladíssimo acreano ou a sensacional série B-2 do Paulista com seus times/empresa que jogam domingo pela manhã com transmissão ao vivo da Rede Vida é que vão nos fazer voltar a conquistar algo.
O Atlético deu um imenso passo a frente dos outros, viu-os se aproximar e seguiu adiante, percebeu que muitos já o ultrapassaram e ainda não se rendeu à nova realidade do futebol. Ou se reforça com qualidade, ou ficaremos parados no tempo, não como o caneta Bic que tem seu lugar cativo no mercado, mas talvez como o disquete de 366MB, onde cabiam três textos de Word e uma planilha de Excel, que deu lugar ao disquete do drive A com seus 1,4 KB (tamanho de uma foto digital de tamanho razoavelmente bom), deixado de lado pelo advento dos zip drives que logo perderam o reinado para os CDs graváveis, depois para os regraváveis e que hoje vêem que por menos de R$ 30 se compra um pen drive de 1 GB. A evolução é implacável e o mercado não perdoa!
ARREMATE
“Chegou na hora de voltar
Voltou na hora de ir.” NA HORA DE IR, Nação Zumbi
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