Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Quando será Abril outra vez?

21/05/2008


Era Abril de 1995 quando eclodiu a Grande Revolução. Não lhes falarei sobre ela: tudo já foi dito. Revolução Gloriosa, Redentora, Inadiável. Era Abril de 1995 quando eclodiu a Grande Revolução, capitaneada pelo Grande Homem, General do Grande Exército.

Grandes Homens fazem a História. O Grande Homem, Comandante-em-Chefe do Grande Exército Rubro-Negro, fez História com sua Revolução. Grande Homem Rubro-Negro. Não lhes falarei sobre ele, pois tudo já foi dito: Homem de Coragem, de Visão, de Pulso, de Conquistas, de Realizações.

Sou admirador e defensor do Grande Homem, ele sabe bem disso, mas até mesmo as Grandes Revoluções ficam pequenas, e até mesmo os Grandes Homens ficam exaustos. É Maio de 2008, pergunto: quando eclodirá a Segunda Grande Revolução?

Mesmo sendo o menor dos soldados do Grande Exército Vermelho e Preto, falarei, doravante, sobre a Segunda Grande Revolução, ou sobre sua imperiosa necessidade. Falarei sobre o Grande Homem e seu Grande Exército, falarei sobre outros tantos Generais, sobre outros tantos soldados, sobre as batalhas vencidas, as batalhas perdidas e sobre a Guerra geral onde lutamos, a cada dia, nova e duríssima batalha.

Falarei sobre o Atlético Paranaense, sobre o seu destino de vitórias, sobre sua grandeza e seu crescimento. Falarei do Atlético Paranaense aos Atleticanos, soldados Fanáticos, peito repleto de amor incondicional ao Furacão. Braço forte. Rubro-Negro é quem tem Raça e não teme a própria morte. E no amor ao Atlético, somos todos verdadeiramente iguais, sem exceção.

O eterno Presidente, Mário Celso Petraglia, e o atual Presidente, Dr. João Augusto Fleury, ainda que críticas eu lhes faça, são Atleticanos que fizeram – e fazem – nossa História. Cumpre-me, por dever moral, dizer a verdade, recolhida ao longo do tempo, verdade que é fruto de tantas coisas que vi e vivi nesses 26 anos de Atlético e quase 33 anos de vida. Eis aqui as minhas verdades, com humilde respeito às verdades que cada um traz pelo caminho.

Conheci o Dr. Fleury em 1990, durante a campanha política na qual o saudoso neurocirurgião curitibano, Dr. José Faria Ratton, disputava uma das cadeiras na Assembléia Legislativa do Paraná. O Dr. Fleury e o Dr. Ratton eram sócios naquela época, além de serem amigos cordiais.

Nas vezes em que estive com o Dr. Fleury, conversamos sobre o nosso Atlético e ele me contou sua História de amor ao Clube e sua História de associado desde 1970. Contou-me sobre as defesas jurídicas que fez em prol do Atlético, sempre gratuitas e brilhantes, e chegou a me presentear com um kit contendo brindes do Furacão (kit modesto, pois os tempos eram modestos, mas que me foi dado com carinho e amizade. Guardo comigo, até hoje).

O Dr. Fleury é um notável Atleticano e hoje ocupa a Presidência com toda a legitimidade. Tem honrado sua função e as Cores do Atlético, mas, parece-me, a paixão, por si só, não é qualidade suficiente para guindar alguém ao Posto máximo de um Clube. É preciso muito mais que paixão; para ser Presidente de um Clube, grande como é o Atlético, é preciso: carisma, empatia, dinamismo, arrojo, conhecimento de futebol (dentro e fora de campo, em profundidade abissal) e é preciso, sobretudo, humildade.

Eu, apaixonado pelo Atlético, não tenho capacidade para presidi-lo e é bem provável que não tenha capacidade nem sequer para tecer os comentários que, ousadamente, tenho feito por meio das colunas escritas desde janeiro de 2004. Humildemente, reconheço ser soldado raso, nada mais.

E escrevi tudo isso para confluir meu raciocínio a um ponto geral (quase uma constatação): o Atlético presidido pelo Fleury, em termos de futebol, não tem sido feliz, ao menos desde a final da Libertadores de 2005, quando obtivemos o grandiloqüente e honroso Vice-Campeonato das Américas. Desde lá, infelizmente, acostumamo-nos a sofrer diante de um Atlético sofrível dentro das quatro linhas do gramado.

Desde lá, e notadamente após janeiro de 2006, acostumamo-nos a assistir, boquiabertos, à sucessão desvairada de treinadores entrando e saindo do Clube, e não deixando nada de bom para as coisas do Atlético. Notadamente após janeiro de 2006, acostumamo-nos a assistir, espantados, à saída de jogadores que eram peças vitais para o time; acostumamo-nos a perder, dentro da Arena, títulos e classificações contra adversários absolutamente mais fracos do que nós.

Concomitantemente, a Alta Direção Atleticana passou a se distanciar dos seus Torcedores e a impressão que ficou é que a gente gritava uma coisa nas arquibancadas, e eles entendiam outra, quase que numa brincadeira de telefone-sem-fio. Os Grandes Homens da Revolução derrubaram muros para expandir fronteiras e horizontes, mas também cavaram trincheiras que trouxeram indesejáveis separações. Com isso, o Atlético saiu perdendo e ainda não deu mostras de que vá virar o jogo.

Até mesmo as Grandes Revoluções ficam pequenas, até mesmo os Grandes Homens ficam exaustos. Para ser Presidente de um Clube, grande como é o Atlético, é preciso carisma, empatia, dinamismo, arrojo, conhecimento de futebol (dentro e fora de campo, em profundidade abissal) e é preciso, sobretudo, humildade (para ouvir e ser ouvido; para escrever e para reescrever a História). É Maio de 2008 e eu pergunto: quando eclodirá a Segunda Grande Revolução?

Não dá mais para:

1. Experimentar treinadores com pouca bagagem;
2. Contratar jogadores com base em DVDs editados por empresários, onde se gravam as doze melhores jogadas da vida do “craque” e onde se reprisam os quinze gols de sua “promissora” carreira; ou contratar jogadores com base em testemunhos de pessoas que não sabem nem sequer escrever “bola”;
3. Adotar posturas antipáticas, externadas em atos que não traduzem o pensamento (e o comportamento) majoritário da Torcida;
4. Brigar contra o Mundo, sob a justificativa de defender nossos direitos, se esses direitos, depois, nos são negados ou suprimidos por conta de qualquer Ação que contra nós é proposta (muitos dos atletas que nosso Jurídico garantia, peremptoriamente, que eram nossos, acabaram deixando o Atlético – quase a preço de banana - por força de Liminares posteriormente convertidas em sentenças transitadas em julgado);
5. Aceitar que o melhor CT do Brasil, dirigido por cientista com bagagem internacional, não produza jogadores de qualidade para serem aproveitados pelo Atlético!
6. Abrir mão do trabalho e do conhecimento dos Atleticanos que estavam, ombro a ombro, lutando na Grande Revolução de Abril de 1995;
7. Perder tempo;
8. Perder títulos que eram certos;
9. Perder. Não dá mais!

É Maio de 2008, cabe a pergunta: quando eclodirá a Segunda Grande Revolução? Quando será Abril outra vez?

P.S.: Ao meu ex-Aluno, Diego de Paula Farias, mando meu forte abraço por ocasião de seu Aniversário comemorado ontem. Guri, você é genial! Guri, você vai longe! Guri, o Atlético ainda vai nos dar muitas alegrias...


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.