Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

O preço que se paga

14/05/2008


Conceitualmente, esta coluna já está pronta há muito tempo. Isto é, há tempos venho pensando no assunto, mas preferi escrever sem os sentimentos fortes (e opostos) do início do estadual até o momento. Antes de continuar, recobro a importância do que está escrito aí no disclaimer desta página: essa coluna é minha e fala da minha opinião, não sendo este site, os editores ou outra pessoa responsável por ela. Dito isso, vamos em frente.

Não me custa nada ir aos jogos do Atlético na Arena. Vou porque é o momento de torcer, de apoiar o time não importa o quê. Coloco minhas roupas rubro-negras, meu brinco do Atlético e vou. Não vaio gente nossa. Eu torço, e muito! Se abordarmos a questão financeira posso dizer que graças a Deus tenho um trabalho que me paga o suficiente para não dar falta dos "cinquentão" mensais com os quais ajudo meu time. Falo cinquetão agora, mas já foi "cinquentinha". A analogia é simples: quando o show é bom, ninguém liga muito para o preço do ingresso. Digamos então que estou no limite entre achar que não faço um bom investimento e achar que cinquentinha é pouco, até porque já paguei "oitentão" por mês. De modo geral, é a forma como posso ajudar o time e se você também puder, seja sócio, não importa qual o seu perfil. Afinal, se você é daqueles que reclamam o tempo todo, pelo menos poderá fazer isso em assembléia e ninguém poderá falar nada contra. É o que a diretoria plantou e como sabemos o plantio não é obrigatório, mas a colheita sim. Este é o preço.

A realidade é que já não somos mais comovidos com nossa estrutura. Infelizmente para algumas pessoas já não é disso que sentimos falta ou que damos importância. Temos estrutura, conquistamos o Brasileiro antes do planejamento... E aí? Aí isso é passado. Quando você tem uma casa boa, quer também ter móveis a altura, um carro bacana certo? Alguém me mostra uma pessoa que quer dar um passo atrás e eu lhe mostro o que a administração do Atlético quer de nós torcedores. Tem muita razão aí por causa da verba curta, da supervalorização do pseudo craque e tudo mais. Só que não podemos esquecer que falamos de um povo inflamado por paixão que é esse povo que torce. Não dá pra gente esperar outra coisa! Queremos o resultado da estrutura e não ela por si só. Ninguém que já tenha ido ininterruptamente a uns 50 jogos como sócio vai à Arena só para ver aquela coisa linda de estádio. Eu quero ver gol, quero ver raça, quero ver time. Afinal, um amontoado "bem lindo" de tijolos não ganha títulos, e pelo menos na minha concepção é disto que é feito um time. Se os títulos não chegam, que pelo menos tenhamos a certeza de que foram tentados por todos, no máximo de seus esforços. Será que é isso que estamos tendo de todo mundo? A única parte que dá tudo o que pode é a torcida. Quem vai esquecer o espetáculo do último Atletiba? Só não precisa puxar o meu saco depois do espetáculo, porque espetáculo no Atlético, ultimamente, é só a torcida que dá.

Não adianta subir gente das categorias de base ou contratar novos se o time que vemos é sempre o mesmo, com as mesmas caras, a mesma falta de identidade rubro-negra. Se temos o melhor Centro de Treinamento (CT) do Brasil, onde estão nossos jogadores-revelação? Penso que não é um preço justo ter privilegiado um CT maravilhoso e não ter revelações há muito tempo... ou títulos (olha eles de novo). Tem alguma coisa errada nesta conta. O CT é do Atlético, deveria servir ao time com o seu propósito maior e não somente impressionar estrangeiros ou personal trainers de jogadores afastados ou em recuperação. Mas o pior mesmo é, juntamente com o nosso estádio, ser usado como massa de manobra "sossega leão" toda vez que somos eliminados de um torneio ou quando perdemos a taça dentro de casa. Eu sinto um desconforto incrível, como de quem recebe um carimbo de "bobinha" na testa, quando perdemos as coisas pelo caminho e logo vem a manchete: "A segunda etapa da arena pode ser iniciada ainda este ano!". Desculpe-me pela sinceridade, mas este é o preço que se paga por certas ações da diretoria: ouvir cobranças. Pois bem, faço parte dos que cobram com sinceridade e respeito, porque faço parte dos que dão o máximo que podem pelo time. E é bom que se diga que não existe só um atleticano sincero e respeitoso neste mundo e eles não estão todos na diretoria rubro-negra.

Sempre admirei o Atlético enquanto empresa depois do levante rubro-negro de 1995. O levante que foi comandando pelo atual presidente do Conselho. Mas o que dizer das últimas decisões? Não considero nem um pouco ilegítima a cobrança pelo direito de transmissão. Afinal, se futebol não desse dinheiro, não teríamos um monte de rádios transmitindo jogos. Também não considero que esteja errado querer o que é justo das emissoras de TV, as quais ganham rios de dinheiro com o futebol, mas não posso concordar com a forma como tudo foi feito. O conteúdo legítimo das petições foi relegado ao segundo plano por conta da forma como estas decisões foram tomadas e "postas em prática". Um desastre do ponto de vista político, com níveis absurdos de arrogância. A mensagem, para quem está do lado de cá, é que queremos ser o os primeiros e únicos em tudo, mas honestamente, em que isto nos ajuda? Só beneficiamos nossos rivais diretos e amealhamos a antipatia, inclusive entre nós. É isso que queremos para nós? Será que precisaríamos fazer apelos públicos de união se estivéssemos realmente unidos? O marketing do Atlético tem excelentes profissionais, mas de marketing entendo um pouco e tudo isso me parece uma péssima estratégia de branding, coisa que passa por identificação com a marca. A identificação com o Atlético é raça, paixão, peças principais no mosaico torcedor-diretoria-time. Só posso concluir que alguém não está levando isso em conta. Pois “raça”, só vi escrito nas arquibancadas do Atletiba.

O preço que tem sido físico e emocional. Físico porque dá úlcera ver um jogo nosso. Tem sido sofrido, para nós apaixonados, entender os caminhos do clube, a montagem (e desmontagem) do time, algumas decisões radicais tomadas em horas impróprias. E não estou falando que sei tudo, mas como acredito que pelos frutos se conhece uma árvore, posso dizer que as conseqüências não têm sido de decisões bem tomadas, bem pensadas. Parece que tudo de bom que foi feito pelo mentor da diretoria atual será esquecido porque estamos sem identidade e estamos sofrendo. Sinto falta daquele dirigente que foi até o vestiário demitir o lateral que não estava dando o seu melhor em campo. Sinto falta de ver jogador com a identidade atleticana. Não estou pedindo predadores mas, por favor, jogador para o qual não tenha bola perdida: este é o espírito do Atlético Paranaense. E de uma vez por todas quero deixar claro: eu não sou contra ninguém! Não sou oposição, mas não sou de ficar quieta até com as pessoas que mais amo nesse mundo se eu vejo que elas estão pisando na bola. Em contrapartida, é importante lembrar que dou liberdade para estas pessoas "puxarem minha orelha" quando preciso. Quanto a nós, quem se faz ouvir por "ele"?

O parágrafo acima tem um ponto importante: eu não sou oposição. Meu intuito é totalmente o contrário, é de união e renovação. Quem disse que renovação não pode ser feita com as mesmas pessoas que já fizeram tanta coisa boa, sensata e racional para o meu time? Então, gostaria de dizer àquela parte da imprensa "da quinta comarca", à parte da imprensa esportiva "marrom quase preta" deste estado, que vocês estão proibidos de usar meus textos como de uma pessoa que está "iniciando um movimento contra a atual diretoria do Atlético". Aconteceu em 2005 publicamente, acontece nos entremeios da Internet e não quero que aconteça de novo. Isto posto, vamos em frente.

A imprensa é um caso a parte. Tem pessoas que você sabe que torcem por outro time, mas que não usam o microfone para despejar suas frustrações e seus casos pessoais mal resolvidos contra uma torcida inteira. São jornalistas de alma e de fato. Já de outro lado, tem pessoas que não valem a pena serem ouvidas nem no dia de seus aniversários. Eu gostaria de citar um fato que ocorreu no último jogo na Arena. Tinha uma equipe de uma rádio FM (cuja audiência não conta comigo há mais de um ano) que estava lá montando seus equipamentos para trabalhar. Sem atitude ofensiva, quase em tom de brincadeira, um torcedor chega e diz ”Pô! Manda aquele velho chato ir jogar dama na praça e parar de encher nosso saco!” Ao que o técnico prontamente responde: "A gente paga o pato, mas não tenho culpa do que o fulano fala". A verdade é que tem gente boa e gente ruim em todo lugar, em todas as profissões, e o técnico de som não tem que ouvir nada. Isso é fácil de resolver: os atleticanos não devem permitir que sejam usados por esta banda podre da imprensa para serem jogados contra seu próprio time. Não dêem audiência para quem comemora "gols contra o Atlético Paranaense". O preço a ser pago é a medida de seu estômago para ouvir gente que não acrescenta nada, só instiga bobagens ainda nem entende de futebol. Portanto, não reclame, simplesmente não assista, não ouça.

E agora, para sacramentar toda essa inércia brasileira, seja na política, seja no futebol, também não podemos mais citar o péssimo nível de arbitragem que temos. Vira o famoso chororô. Há o caso de um jornalista famoso, apresentador, colunista e radialista que no momento em que seu grandioso time (agora na série B) é "operado" pelo juiz em pleno campo chorou por uma semana sem fim. Quando foi beneficiado descaradamente, começou a dizer que todos os outros choravam à toa. Ora, essa é a prova de que a onda vai e volta. O preço de ninguém reclamar de arbitragem é exatamente o que vemos: uma concordância pública em relação a esta pouca vergonha que vemos com o apito na mão. E tudo isso por ter medo de ser tachado de chorão ou com a esperança de que um dia o jogo vire. Tenha dó! Como não é o meu caso, até porque temos sido bastante prejudicados, posso dizer que continuo com minha campanha incansável de ressaltar os coisinhas que têm apitado jogos com imparcialidade duvidosa. Os Tardellis, Hebers, Mauricios da vida não serão poupados por mim enquanto eu puder escrever.

Não sei se tem um melhor momento de dizer todas estas coisa que estão aí, afinal está em início de campeonato e posso ser interpretada como desmotivadora. Garanto que não é minha intenção. É que eu tenho conversado com alguns dos torcedores mais apaixonadas que já conheci. Eles estão magoados. Magoados por uma antipatia que nós estamos sofrendo por conta dos últimos acontecimentos. Isso me entristece muito porque foram estas pessoas que me ajudaram a amar o Atlético. Este é o preço que se paga por tantas coisas que não têm nos ajudado. Creio que precisamos recuperar estas pessoas, trazer elas pra perto, pois o que vemos no estádio, meio longe dos batuques e da euforia, são muitas pessoas que se tornaram intolerantes pela falta de paixão. Precisamos repensar como cada um de nós vai agir daqui pra frente, incluindo os jogadores.

Nosso time sempre teve como combustível a paixão. Ela se mostrava nas boas jogadas do Paulo Rink ou nas defesas de nosso sempre amado Ricardo Pinto, sem falar nos tantos outros heróis do passado mais distante. E como futebol se resolve com a bola no pé, vamos privilegiar essa parte. E isso vale para a diretoria também, precisamos de olheiros visionários que cheguem antes de nossos rivais. Não basta ter bola no pé, tem que ter raça e alma atleticana. Fidelidade ao esquema tático e capacidade técnica são coisas básicas, mas o diferencial é a quantidade de paixão, e o quanto se gosta do que faz a ponto de lutar por aquela bola passada meio torta, acreditando nela até que ela saia de campo. Não adianta ser bom, tem que ter o que chamo de Atitude Furacão. O Atlético pelo qual me apaixonei atacava rápido, desconcertava o adversário, deixava-o tonto tocando a bola. Nossa casa, a mais temida. Em uma época em que a relação entre jogador e time é estritamente comercial, é preciso que pelo menos cada um deles entenda o que é vestir esta camisa. O caso do volante Claiton é um bom exemplo: foi porque precisa garantir o futuro da família, não sei se não faria diferente. Mas enquanto ficou, foi rubro-negro paranaense.

Quero ver esta atitude. Vou continuar cobrando.


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