Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Clube Atlético Paranaense: nada pode ser maior!

12/05/2008


A exemplo do Sol, o Clube Atlético Paranaense também é um só e nasceu para todos nós atleticanos, indistintamente. Não existe o Atlético do Petraglia, o Atlético do Fleury, o Atlético do Renato Sozzi, o Atlético do Renato Adur, o Atlético do Rafael Fonseca Lemos.

O que existe, sim, é o Atlético de todos nós, o Atlético que pertence a um milhão e trezentos mil atleticanos e que emociona, fortemente, cada coração Rubro-Negro.

Ocorre que, de uns tempos para cá, linhas ideológicas antagonistas vêm surgindo na vida do Atlético e são tão contundentes que chegam a separar aqueles que deveriam estar unidos pelo elo indissolúvel da paixão atleticana.

De uns tempos para cá, a gente atleticana deu para brigar entre si numa espécie de fratricídio onde a vítima maior acaba sendo o Atlético Paranaense.

A gente atleticana, envolvida nessa guerra mais do que burra, não tem se dado conta que está jogando contra o seu maior patrimônio. As discussões, acusações e críticas feitas por nós contra o clube e contra seus dirigentes só enfraquecem a saúde do Atlético e só municiam nossos reais adversários na luta que travam, há tempos, contra nós (coxas, paranistas e cronistas esportivos, esses, sim, nossos reais inimigos).

É preciso que acabemos com essa bobagem de criarmos facções dentro do Atlético. É preciso, de uma vez por todas, que nos unamos em prol do Atlético, contra tudo e contra todos, mas nunca contra nós mesmos, pois isso é burrice.

Tenho ouvido torcedores dizendo que o Atlético já não pertence mais a eles, que o Atlético se elitizou, que o Atlético deixou de ser o time do povo, que o Atlético pertence ao Petraglia, mas isso não é verdade.

O que é verdade é que o Atlético é um estado de espírito, é um estado de alma, é uma força indomável da natureza, assim como o Sol. E, a exemplo do Sol, o Clube Atlético Paranaense nasceu para todos nós atleticanos, indistintamente.

Não existe o Atlético do Farinhaque, o Atlético do Sicupira, o Atlético do Mário Celso Cunha, o Atlético do Gustavo Alexandre Maran, o Atlético do Paulo César Teixeira, o Atlético do Joel Bley Raitani.

O que existe, sim, é o Atlético de todos nós, o Atlético que pertence a um milhão e trezentos mil atleticanos e que emociona, fortemente, cada coração Rubro-Negro. E que cada um de nós, atleticanos, faça de sua vida uma obra dedicada ao Atlético Paranaense. Talvez, você pense que nem possa fazer tanto, mas faça alguma coisa pelo Atlético, independente de grupos, independente de resultados.

Faça alguma coisa pelo Atlético preso somente à paixão. Agindo assim, você terá contribuído, e muito, na construção do nosso futuro de vitórias.

E para inspirar o amigo leitor nessa jornada de amor que é nossa vida dedicada ao Atlético Paranaense, deixo aqui uma historinha – real – acontecida comigo, há muitos anos, mas numa época nem tão remota assim, onde as glórias eram coisas do passado, onde o presente era feito de penúria, onde era impossível sonhar com um futuro de vitórias.

Naqueles dias sofridos, éramos todos um só, e por isso éramos fortes, e por isso vencemos a tudo e a todos, e por isso nos tornamos uma potência do futebol brasileiro. Que a historinha de hoje nos sirva de exemplo, de uma vez por todas. A todos, um forte abraço.

Curitiba, sábado, 26 de março de 1994. Naquela época, eu cursava Direito na Faculdade de Direito de Curitiba e todos os sábados tinha de ir ao ginásio da instituição fazer educação física. Eu tinha pouco mais que dezoito anos e havia doze anos que torcia pelo Atlético Paranaense. Dias difíceis aqueles, lembro-me bem: faltava grana, faltava emprego, faltava mulher, faltava time e só o que me sobrava era uma esperança daquelas grandes, capazes de me fazer acreditar na vinda de dias melhores. De resto, tudo era difícil, como lhes disse.

Na citada manhã, acordei com os primeiros raios de sol, tomei um rápido café, acendi um cigarro e me concentrei num único pensamento: hoje o Atlético faz 70 anos e eu vou fazer um gol durante a educação física para homenagear o meu Furacão! Era esse o meu objetivo e eu iria persegui-lo a qualquer custo, com obstinação.

Decisão tomada, vesti o sagrado manto Rubro-Negro, saí de casa, peguei o primeiro ônibus rumo à praça Rui Barbosa e desembarquei com os olhos rútilos de determinação: eu faria aquele gol nem que fosse a última coisa que fizesse na vida, pois era o gol dos 70 anos. Ainda na praça, detive-me por alguns instantes na leitura das manchetes dos jornais afixados no exterior da banca do Santos e os jornais aludiam aos 70 anos do Atlético fazendo questão de frisar que vivíamos uma crise. De fato, havia pouco a se comemorar.

Lidas as manchetes, adentrei o ginásio de esportes como se ali me esperasse uma final de copa do mundo e eu precisava fazer aquele gol naquele dia, pois não haveria outro dia para se comemorar 70 anos, isto porque há coisas na vida que não se repetem jamais. E naquela manhã não sosseguei um só instante, e joguei todas as partidas, e dividi cada bola no meio da cancha, e fui buscar cada lance perdido, e fui atrás de cada jogada, e solei sei lá quantas canelas, e empurrei cada adversário como se disso dependesse minha sobrevivência, e cada minuto que passava me afastava ainda mais da meta pretendida: passavam-se os minutos e nada de o meu gol sair e nada de minha disposição arrefecer, pois dali não sairia sem o meu gol redentor.

E foi quando faltava um minuto, nem mais, nem menos, foi quando faltava exatamente um minuto que se operou o deslavado milagre: eu recebi a bola a poucos passos da demarcatória da metade da cancha. Driblei um marcador, depois outro, conduzi caprichosamente a bola até a cara do gol e com um canudaço rasteiro fuzilei o canto esquerdo do goleiro que saiu da meta sem poder fazer nada.

Pronto: estava ganho o meu dia, estava cumprida minha promessa, estava lavada a minha alma, pois eu conseguira marcar o gol dos 70 anos e honrar as cores do meu Furacão! E lembro-me que comemorei com um beijo na camisa, com um sinal da cruz e com um olhar voltado aos Céus, como se implorasse a ajuda divina tão necessária quanto urgente, pois vivíamos dias difíceis.

Pronto: estava ganho o meu dia, estava cumprida minha promessa, estava feita a minha parte! E lhes contei tudo isso só por um motivo: provar que um atleticano de verdade faz qualquer coisa pelo seu time de coração. E lhes disse tudo isso por outro motivo: você, exatamente você que está aí em frente ao computador lendo esta coluna, é fundamental na vida do Atlético. Acredite nisso, faça a sua parte, seja lá como for, mas faça tudo – sempre – em prol da boa causa atleticana, pois o Atlético Paranaense somos todos nós!

Faça a sua parte, seja lá como for, pois, na Terra, diante do Atlético Paranaense, nada pode ser maior!


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