Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

É claro que eu acredito no Atlético!

29/04/2008


“Clássico é clássico!”. Você, prezado amigo-leitor, já ouviu (e usou) muito essa frase. Se ela for bem analisada, você perceberá - no fundo, no fundo - que ela não diz nada com nada, pois é o famoso papo furado, baboseira, perda de tempo, lugar-comum ou, como diria, cheio de ódio, Pai Geraldo, meu amigo macumbeiro: “É um arremediável sofismo! Um descaramento felosófico. Verdadeira afronta à memória dos enciplopedistas franceses” (sic).

Movido por esse ódio à frase supracitada, meu amigo, o macumbeiro Pai Geraldo – inspirado, provavelmente, em Voltaire, Diderot, Rousseau ou mesmo em filósofos iluministas maiores como Airton Cordeiro e Djonga - resolveu emendá-la, criando a fabulosa sentença “Clássico é clássico e vice-versa!”. E dito isso, de uma vez por todas, não disse nada!

Não disse nada, mas a frase pegou. E acolhida pelo jargão do mundo da bola, passou a ser importante figura de retórica nos mais acalorados discursos e, ainda mais: virou recurso de estilo nas colunas futebolísticas de norte a sul do País, passando pelo leste, pelo oeste e, sobretudo, passando pelo estádio do Pinheirão, este, reconhecidamente, o ponto cardeal mais distante do Brasil uma vez que ninguém chega lá, há tempos!

Destarte, a coisa ficou da seguinte forma: se a célebre frase for dita com voz grave e séria inflexão, ganha ares de suprema verdade e é bem capaz de alguém a ela aderir com um solene comentário: “De fato, falou e disse! Clássico é clássico e vice-versa”.

Entretanto, se dita com deboche e escárnio, e se a autoria for atribuída a uma personagem folclórica qualquer do futebol, a exemplo de Vicente Mateus, de Giovani Gionédis e do Fessor Miranda, passa a ser divertida piada e é bem capaz de alguém a ela fazer adendo jocoso, ao melhor estilo Valmir Gomes ou à Djonga, se preferirem: “Clássico é clássico e vice-versa. Como diria o grande poeta Chacrinha!”. E dito isso, explodirá em gargalhadas qualquer estúdio de tevê ou de rádio, Brasil afora e Curitiba adentro.

Resumo da ópera: definir o que seja um Clássico, prever-lhe o resultado, antecipar-lhe os acontecimentos, apostar neste ou naquele jogador, neste ou naquele desenho tático são tarefas para comediantes, mães-dinás, pais-de-santo, desocupados, alucinados ou comentaristas esportivos (e todos esses, como se sabe, guardam entre si o traço comum de não terem lá grandes acertos ou grandes credibilidades).

Resumo da ópera, número II (o resumo é II; a ópera, a mesma): “O futuro a Deus pertence!” Você, prezado amigo-leitor, já ouviu muito essa frase. Se ela for bem analisada, você perceberá - no fundo, no fundo – que homem nenhum pode antecipar as coisas e os fatos que não lhe pertencem.

Deus é quem escreve o roteiro das nossas vidas. Domingo que vem, dia 04 de maio de 2008, ainda está sendo desenhado pelas mãos do Criador e ai daquele que disso duvidar. Ai daquele. Só Ele sabe o que será do futuro e quem ousar pregar o contrário não terá acertos, tampouco terá credibilidade, tampouco será digno dos Milagres.

Só Ele sabe o que será do futuro. O resto é achismo, chutômetro, encheção de lingüiça, papo furado, “felosofia” de Airton Cordeiro, de Facchinelo, de Valmir Gomes, de Djonga e de outros tantos “enciplopedistas”, como já nos alertou Pai Geraldo, meu amigo macumbeiro.

Somos torcedores, não somos adivinhos. Somos torcedores, feitos para sorrir e para sofrer. Resta-nos esperar, torcer e acreditar até o último ato. E como torcer é preciso, pois esse é o ofício de todos nós, arquibaldos e geraldinos, cabe aqui lembrar que a vantagem verde é algo que ainda pode ser desconstruído.

Eu poderia aqui relembrar uma dúzia de jogos dentro da Baixada que foram os mais deslavados milagres a se revelarem diante de milhares de olhos incrédulos. Poderia lhes dizer que em 1978 Ziquita fez quatro gols num clássico contra o Colorado, em apenas quinze minutos.

Talvez lhes falasse que, num certo dia de setembro de 1996, Oséas, sob apupos irônicos dos adversários verdes, meteu um golaço aos quarenta e sete minutos do segundo tempo, escalou alucinado três metros de alambrado e calou a boca de uma pequena massa cor de musgo e disforme que ameaçava crescer nas arquibancadas do velho estádio Joaquim Américo.

Poderia narrar aqui a façanha de um certo Alex que, em 2001, desembestou a fazer gols decisivos, vazando as defesas adversárias com uma "naturalidade sobrenatural". E a gente vendo o Alex Mineiro marcando aqueles gols inumanos, sentia a alma vibrar dentro da carne e isso nos fazia mais vivos, e isso nos fazia mais atleticanos.

Eu poderia aqui falar de tantos milagres, mas acho que é esforço vão: “O futuro a Deus pertence” e homem nenhum pode antecipar as coisas e os fatos que não lhe pertencem. Deus é quem escreve o roteiro das nossas vidas.

Domingo que vem, dia 04 de maio de 2008, está nas mãos de Deus e ai daquele que disso duvidar. Ai daquele! Só Ele sabe o que será do futuro e quem ousar pregar o contrário não terá acertos, tampouco terá credibilidade, tampouco será digno dos grandes Milagres.

Atleticano, só peço a você que acredite no Atlético, que acredite no título, que acredite na Fé: EU ACREDITO, SEMPRE!¹

P.S.: ¹ A propósito: Quem quiser participar da mobilização “EU ACREDITO” - autêntica corrente de força e de fé - pode enviar mensagens para o e-mail euacredito@atleticopr.com.br. Todos os textos serão encaminhados à comissão técnica e aos atletas rubro-negros. Se a galera preferir, pode encaminhar texto, frase e desenho para a sede do Clube, na Rua Petit Carneiro, 57, com o título "Eu acredito".

P.S.: ² O time verde, em conluio com sua nova fornecedora de materiais esportivos, veiculou peça publicitária onde se lê, in verbis:

“FAIR PLAY QUE NOS DESCULPE. MAS NOSSOS JOGADORES NÃO VÃO QUERER TROCAR A CAMISA NO FINAL DO JOGO”.

Vai daqui minha resposta. Quase um poema (Drummond que me perdoe. Desculpe-me Bilac...):

“FAIR PLAY E DESCULPAS À PARTE. NOSSOS JOGADORES NÃO ACEITARIAM AS CAMISAS VERDES NO FINAL DO JOGO POR FALTA DE NECESSIDADE, AFINAL DE CONTAS JÁ TEM PAPEL HIGIÊNICO DE SOBRA NOS BANHEIROS DA ARENA DA BAIXADA E DO CT DO CAJU E AS CAMISAS DE VOCÊS NÃO SERVEM NEM PARA LIMPAR O NOSSO CU”.

P.S.: ³ Ao meu amigo Paulo Ricardo, ex-aluno e leitor assíduo desta coluna, mando aqui um forte abraço o qual estendo a todos os demais ex-alunos que hoje, convertidos em amigos e amigas, ainda me enchem de carinho e de boas recordações.


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