|
|
Patricia Bahr
Patricia Caroline Bahr, 43 anos, é jornalista e se descobriu atleticana nas arquibancadas do Pinheirão, no meio da torcida, quando pôde sentir o que era o Atlético através dos gritos dos torcedores, que no berro fazem do Furacão o melhor time do mundo. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2010.
|
|
Só a torcida é a mesma
16/06/2003
|
|
|
Eu acompanho o time do Atlético há treze anos. Nesse perÃodo, vi o time vencer, empatar e até perder muitos Atletibas. Mas, em treze anos, eu nunca vi um Atlético tão apático, tão frio, tão sem vontade num clássico, tão covarde diante de seu maior rival.
Muitas vezes me pergunto porque eu me tornei atleticana. Provavelmente tenha sido porque o Atlético era um time que mostrava vontade em superar os próprios limites e uma força em ultrapassar cada barreira - e quanto maior ela fosse, mais vontade os jogadores tinham em vencê-la. E é claro, por causa da fantástica torcida do Atlético, que independente do momento, sempre foi cúmplice do time, sempre apoiou, incentivou, cantou, empurrou os jogadores, não importando se eles eram pernas de paus ou estrelas da seleção.
Às vezes, eu tenho saudades dos tempos da velha Baixada, dos treinamentos em qualquer campinho de várzea da cidade, dos jogadores com salários atrasados, mas que honravam, respeitavam e tinham amor em vestir a camisa do Atlético. Naquela época, nossos atletas sabiam o que era um Atletiba, o que significava a vitória num clássico (muitas vezes, mais importante que conquistar um tÃtulo), e principalmente: tinham vergonha na cara.
Talvez, nos tempos das vacas magras, muito mais interessados em seus carrões importados e nas festas mais badaladas da cidade, nossos jogadores estavam centrados em fazer do Atlético o melhor time do planeta. Eles não eram funcionários do clube (que trabalham durante a semana e recebem no final do mês). Os jogadores eram, acima de tudo, torcedores do Atlético. Por isso, a identificação do time com a torcida, que a cada dia crescia mais e mais e levava a fama de "fanática".
O que falta no Atlético de agora, Campeão Brasileiro, dono do melhor CT e do melhor estádio do Brasil, com atletas super-valorizados, jogadores da seleção, estrutura de primeiro mundo e toda aquela ladainha que a gente sabe de cor e repete para mostrar a superioridade Rubro-Negra para nossos adversários, é os jogadores conhecerem um pouco da história do Atlético. Uma história que tem o eterno Ãdolo Caju levantando tijolo no Joaquim Américo. Uma história que tem Jackson doando o dinheiro de sua transferência para o Corinthians, numa época que nem existia lei do passe, numa prova de gratidão ao time do seu coração. Uma história que tem inúmeros outros exemplos de gratidão, amor e, o que é mais importante, respeito ao torcedor e ao Clube Atlético Paranaense.
Talvez, nossos craques de agora não saibam o esforço que Oséas, Paulo Rink, Ricardo Pinto, Leomar, Luiz Eduardo, João Antonio e companhia fizeram para levar o Atlético de volta à elite do futebol nacional. E, provavelmente, seja isso que falte a Alessandro, Rogério Corrêa, Dagoberto, Rodriguinho, Ivan, Ricardinho e companhia: um pouquinho de Segunda Divisão, um pouquinho do pão que o diabo amassou, para que eles possam disputar com orgulho, dignidade, humildade e, principalmente, vontade, os jogos da Primeira Divisão do futebol brasileiro.
E eu tenho certeza: com timinhos ou timões, na primeira ou na segunda divisão, na moderna Arena ou no campinho da várzea, com jogadores da seleção ou cabeças de bagre, a torcida do Atlético vai estar lá, cantando, pulando, gritando, vaiando, incentivando, empurrando o time, na ilusão de transformar o Furacão, no grito, o melhor time do planeta. Porque foi isso que me fez ser atleticana: a certeza de que, independente do momento, a camisa Rubro-Negra, só se veste por amor.
|
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.