Marcel Costa

Marcel Ferreira da Costa, 45 anos, é advogado por vocação e atleticano por convicção. Freqüenta estádios, não só em Curitiba, quase sempre acompanhado de seu pai, outro fanático rubro-negro. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Quebra de paradigmas

14/04/2008


Na última quinta-feira o Atlético anunciou que cobrará 15 mil reais por jogo pelo direito de transmissão radiofônica de suas partidas no Campeonato Brasileiro. A notícia chamou atenção de todo o país, pois no dia seguinte, os principais jornais brasileiros estamparam a nota oficial do clube anunciando esta decisão. Nunca tinha visto uma nota de um quarto de página no caderno de esportes da Folha de São Paulo de um time não paulista. O Atlético o fez!

Encontrei uma citação do professor Antônio Sérgio Lins de Carvalho sobre quebra de paradigmas, como esta que o Atlético está impondo com sua decisão de cobrar pelo direito de transmissão radiofônica: “No ambiente de negócios da atualidade, cada vez mais, as mudanças exigem quebra de paradigmas que implicam em verdadeira revolução na cultura das organizações. Esta revolução reordena prioridades, redireciona valores, muda conceito de certo e errado, apresenta novos focos de interesse, e indica maneiras diferentes de reagir quando metas não são alcançadas”.

A expressão quebra de paradigma é freqüentemente utilizada para explicar mudanças na maneira de ver e pensar um determinado assunto. No futebol um destes exemplos foi a iniciativa de cobrar-se pela transmissão dos jogos pela televisão. Algo parecido com o que o Atlético anunciou na semana passada e que na época causou tanta repercussão como agora. As televisões não faliram, pagam cada ano mais pelos direitos de transmissão e fecham cotas de patrocínios altíssimas de seus anunciantes nos horários dos jogos. Portanto, não só os clubes recebem cada vez mais pela transmissão televisiva de seus jogos como este tornou-se um negócio lucrativo para a própria televisão, tamanho aumento nos valores cobrados pelas suas cotas de propaganda.

A iniciativa atleticana não é tão inovadora como parece, pois já se cobra das rádios para transmitir futebol na Europa e em eventos mundiais como Eurocopa e Copa do Mundo. Algumas destas mesmas rádios paranaenses que execram o Atlético desde a última quinta-feira, pagaram para transmitir a Copa do Mundo da Alemanha em 2006. Aposto que as que assim fizeram, receberam bons valores dos anunciantes em troca.

As rádios vendem espaços publicitários durante os jogos de futebol, utilizam-se da imagem, estrutura e tecnologia dos clubes para transmitir as partidas e o mínimo é que preste uma contrapartida à estes. Não sei qual valor é justo, pois desconheço este mercado e sua possibilidade de auferir receitas, mas me parece indiscutível que as rádios, como a televisão, precisem pagar aos clubes pela exploração de sua imagem. É uma nova era, uma quebra de um velho paradigma, que se inicia a partir de agora no futebol brasileiro, mas que logo soará tão natural como a venda dos direitos de televisão.

Talvez esta medida seja até benéfica aos profissionais de rádio, pois qualificará as transmissões e as pessoas envolvidas nelas, já que a partir do momento que se paga por alguma coisa o nível de exigência aumenta e assim diminui a quantidade de aventureiros e profissionais de baixo nível.

Uma reunião entre Atlético e as rádios deve ser o desfecho natural da “polêmica”, ajustando o clube valores compatíveis com o mercado radiofônico e as emissoras entendendo que a cobrança é apenas o prenúncio de uma nova era, nem melhor nem pior, apenas adequada às exigências das atuais leis de mercado.


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