Jean Claude Lima

Jean Claude Lima, 57 anos, é publicitário e jornalista, sócio-proprietário da W3OL Comunicação Ltda. Compreende o fato de ser atleticano como uma complementação da sua própria existência e professa essa fé por todos os lugares do mundo onde já esteve ou estará. É pai de uma menininha, Mariana, que antes mesmo de nascer, já esteve no gramado da Arena, e agora de um menino, Rodolfo, batizado com uma camisa onde se lia "nasci atleticano".

 

 

Vivemos o começo do fim da era do rádio?

11/04/2008


Em conversas com amigos que trabalham na área de comunicação, eu já havia dito que o Atlético em breve adotaria a política de cobrar pelos direitos de transmissão das partidas de futebol pelas equipes de rádio. E não se assustem se essa decisão for acompanhada por boa parte das grandes equipes do futebol brasileiro, se não seguindo o mesmo modelo, acompanhado alguns tópicos semelhantes aos apresentados pelo Atlético. O romantismo das transmissões radiofônicas, que segundo alguns já não existe há tempos, pode estar chegando ao seu ocaso. Porém, não acredito que os outros clubes de Curitiba acompanhem essa decisão. Escrevo sobre isso mais adiante.

As rádios de fato faturam com o futebol. A que eu escuto tem vários “breaks” publicitários de 30´, que são tabelados e não exatamente baratos. É uma fabricante de camisas esportivas, uma pizzaria, uma imobiliária, uma empresa disso e outra daquilo. A relação que o Atlético faz é simples, já que na condição de “dono” do espetáculo deveria ele Atlético, também participar da arrecadação que as rádios conseguem com os seus departamentos comerciais.

O caso é ver se alguém está disposto a pagar pelos jogos do Atlético, o que o Clube está pedindo. Conhecendo a receita do mercado publicitário, num primeiro momento eu acho que a resposta é um singelo “não”. Não pelo valor cobrado, não pelos princípios que as rádios vão alegar, não pela tradição que acompanha a história do rádio brasileiro, sempre misturada ao futebol, não, não e não. Vão surgir liminares, ações judiciais ou coisas do gênero. O Atlético apanhará dos radialistas por todo Brasil, será amaldiçoado do Oiapoque ao Chuí e considerado o representante do Diabo na terra.

Outro aspecto é que as rádios colaboram na promoção dos espetáculos. Todos os dias muitas delas levam ao ar programas com uma ou duas horas de programação, boletins ao longo do dia, flashs e programetes informativos que informam o torcedor sobre tudo. Todos nós conhecemos o mantra. Pela mesma relação, quando o Clube posicionou seus jogos como um espetáculo, também as rádios podem agora só falar das partidas do Atlético mediante remuneração. É uma contrapartida justa e razoável, uma vez que a rádio agora tem que pagar para estar no evento. Tente você organizar um evento qualquer e pedir a rádio mídia gratuita para divulgá-lo. Se a rádio não for sua parceira e estiver diretamente envolvida nele, não acontecerá.

Tudo caminha para que fiquemos sem nenhuma rádio transmitindo as nossas partidas, pelo menos nesse primeiro momento. Isso pode apressar a criação de uma rádio própria, oficial, que só transmitirá os nossos jogos, assim como futuramente um programa de TV, como já acontece com o site oficial. Se o Atlético tira uma alternativa imediata de seu torcedor, deve pensar em como preencher as lacunas que eventualmente venham a existir. Quando o Clube jogar fora então, só vão nos restar os canais da TV por assinatura. Mas eu insisto: há sempre a possibilidade remota de alguém “bancar” a aposta.

Duvido que os outros clubes da capital acompanhem a decisão. Nosso maior rival sempre marca posições contrárias às adotadas pelo Atlético, embora por lá existam caras preparados. E o Paraná Clube tem a necessidade de sobreviver. Para isso precisa e muito da mídia, promovendo seus jogos, vivenciando o seu dia a dia, tornando o Paraná notícia. Mas nós, atleticanos ao contrário do Paraná, não precisamos de ninguém não é mesmo? Somos independentes e fortes e, sem querer, acabamos ficando um pouco arrogantes. Ou não?

Minha resposta a essa pergunta é “sim”. Somos uma ilha de sapiência que sequer debateu um modelo de transição com as rádios, para que elas se organizassem, passando por um período de adaptação. Isso seria prudente. As rádios iriam espernear da mesma forma, mas a discussão poderia ser em alto nível.

Mas tudo no Atlético é unilateral não é mesmo? Se o princípio estiver correto, a forma está errada.

O marketing do Atlético vai nos tornar o Clube mais odiado do Brasil. Se o Flamengo é o "mais querido", nós seremos o "mais antipático". Temos tudo e estamos caminhando a passos largos para conquistar esse troféu. Quem sabe até possamos bordar mais uma estrela na camisa.


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