Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Jofre-Evangelino-Petraglia

10/04/2008


“Há muito tempo, sim, não te escrevo/Ficaram velhas todas as notícias/Eu mesmo envelheci/Olha, em relevo/Estes sinais em mim, não das carícias/(tão leves) que fazias no meu rosto/são golpes, são espinhos, são lembranças da vida a teu menino/que ao sol-posto perde a sabedoria das crianças”.

(Carlos Drummond de Andrade).


Empresto a estrofe do Mestre Drummond para lhes dizer que estive ausente por conta dos golpes da vida – e da morte. Há muito tempo, sim, que não lhes escrevo. Ficaram velhas todas as notícias. Eu também envelheci.

Hoje, entristecido, trago, no coração e na alma, os golpes e os espinhos do longo caminho. Nesta vida, levarei comigo a lembrança de uma menina que, com apenas nove anos, soube viver, e lutar, e morrer, com a sabedoria, a resignação e a Fé que só as crianças e os anjos conseguem ter.

Aninha, olha aí do Céu pelo teu Pai, tua Mãe, teu irmãozinho, por este primo chorão e por todos nós que, um dia, estaremos juntos, uma vez mais, e para sempre, sob a proteção de Deus.

Há muito tempo, sim, que não lhes escrevo. Ficaram velhas todas as notícias. Evangelino partiu, depois de ter dado sua vida em prol das coisas do nosso mais tradicional adversário. Evangelino foi grande para o nosso rival histórico. Cabe, agora, ao time verde, ser grande na preservação da memória de seu maior Dirigente.

Confesso que li, estarrecido, a entrevista concedida por Nina, filha de Evangelino, à Gazeta do Povo. Transcrevo adiante, in verbis:

“Ele descansou. É muito egoísmo da nossa parte querer que ele continuasse a viver assim”, disse Nina à Gazeta do Povo. “Ele chegou bem ruim no domingo passado. A gente sempre teve esperanças, mas os médicos já tinham avisado que não tinha mais retorno. Éramos muito ligados e ele já não reconhecia mais ninguém”. Evangelino teve um novo Acidente Vascular Cerebral (AVC) antes de morrer por falência múltipla dos órgãos.

Segundo Nina, o “campeoníssimo” estava frustrado com o Coritiba nos últimos anos. “Com certeza ele estava magoado. Nunca ninguém do Coritiba o procurou – apenas os amigos – para levá-lo a um treino ou a um jogo. Não dá pra culpar ninguém por terem esquecido dele, mas até a Federação Paranaense homenageou mais meu pai do que o Coritiba”.

De acordo com a filha de Evangelino, o clube solicitou que o velório fosse no estádio Couto Pereira, mas a família não permitiu. Perguntada se os familiares esperavam algum tipo de homenagem póstuma ao ex-presidente, Nina se emocionou. “NÃO ESPERAMOS NADA DO CLUBE. A GENTE SEMPRE ESPEROU UM POUCO MAIS DE COMPAIXÃO ENQUANTO ELE ESTAVA VIVO. AGORA NÃO QUEREMOS MAIS NADA”.

Como desportista, peço aos atuais diretores do time verde que - em nome da gratidão - convoquem uma Assembléia Geral Extraordinária, para a data que for mais breve, tendo como único assunto de pauta rebatizar o estádio do Alto da Glória com o nome de Presidente Evangelino da Costa Neves.

Mais do que isso: peço que tenham vergonha na cara o suficiente para aprovar a pauta, por unanimidade, posto que dentre vocês – desde sempre – o Chinês foi o maior, em todos os aspectos e, mesmo que o time verde sobreviva mais 100 anos, não aparecerá pelas bandas da Ubaldino outro dirigente que faça sombra ao Evangelino.

Talvez assim vocês possam minimizar algumas das barbaridades cometidas contra o Evangelino por comandantes verdes, no final dos anos 80 e começo dos 90, que chegaram a barrar a entrada dele no estádio alegando atraso no pagamento de suas mensalidades de sócio!

Atitude ridícula, covarde, baixa, revanchista e que, infelizmente, ficou marcada na história e gravada no coração do ex-Presidente e de sua Família, como ficou evidenciado na reportagem da Gazeta do Povo. O Evangelino jamais poderia ter sido tratado como um simples sócio. Deveria, sim, ter sido tratado como lenda, com respeito, com pompa e circunstância. Mas se, em vida, isso não aconteceu, que aconteça agora, na forma da justa homenagem póstuma que propus.

E se defendi a memória do Evangelino, pelas mesmas razões, já deixo aqui consignado o pedido, a ser analisado numa Assembléia Geral Extraordinária do Atlético (em data bem remota, espero, sinceramente) que o estádio Joaquim Américo seja rebatizado com o nome de Presidente Mário Celso Petraglia, posto que entre nós - e cá entre nós – desde 1924, o Petraglia foi nosso maior comandante e não aparecerá pelas bandas da Buenos Aires – ou da Petit Carneiro - outro dirigente que faça sombra ao nosso companheiro Petraglia.

E se defendi a memória do Evangelino e a futura homenagem ao Petraglia, peço, finalmente, que a atual Diretoria do Atlético Paranaense se reúna para aprovar uma homenagem de GRANDE PORTE ao eterno Presidente atleticano Jofre Cabral e Silva, que é brilhantemente retratado em reportagem deste site, adiante transcrita, sendo que as expressões em caixa-alta são de minha autoria e responsabilidade:

“O advogado Jofre Cabral e Silva foi sem dúvida um dos maiores dirigentes que já passou pelo Atlético. Esteve sempre ligado do clube. JOGOU NAS CATEGORIAS DE BASE DO CLUBE, TRABALHOU COMO ADVOGADO PARA O RUBRO-NEGRO, e era filho do ex-presidente João Alfredo.

Também foi presidente do Clube Curitibano e do Santa Mônica Clube de Campo, o que lhe dava bastante poder e status na sociedade paranaense.

Assumiu em dezembro de 67 e SALVOU O ATLÉTICO da vergonhosa queda para a segunda divisão do Campeonato Paranaense. Rasgou o regulamento da competição diante das câmeras de TV e do presidente de Federação Paranaense de Futebol, José Milani.

Mexeu com a opinião pública paranaense deixando-a a favor do rubro-negro, MOBILIZOU POLÍTICOS E MEMBROS IMPORTANTES DA COMUNIDADE CURITIBANA E NÃO DEIXOU O ATLÉTICO CAIR. Em seguida, para provar que o Furacão merecia permanecer na primeira divisão, revolucionou o futebol paranaense com grandes contratações – como Nilson Borges, Djalma Santos, Sicupira e Bellini – e DEVOLVEU O ORGULHO AO TORCEDOR ATLETICANO.

Foi ele quem deu o apelido de “coxa-branca” ao Coritiba. Durante um Atletiba na década de 30, Jofre se irritou e soltou o grito de “coxa-branca” para um atleta de origem germânica. Isso não agradou os jogadores e nem a todos ligados ao rival no início, mas com passar do tempo eles acabaram incorporando o termo ao clube. No entanto, a torcida atleticana ainda utiliza o apelido “coxa” em tom pejorativo.

SÓ NÃO FEZ MAIS PELO ATLÉTICO PORQUE O DESTINO NÃO O DEIXOU. EM 2 DE JUNHO DE 1968, JOFRE SOFREU UM ATAQUE CARDÍACO E MORREU NO ESTÁDIO VGD, EM LONDRINA, ENQUANTO O RUBRO-NEGRO ENFRENTAVA O EXTINTO PARANÁ. SEU VELÓRIO FOI REALIZADO NO ANTIGO GINÁSIO DA BAIXADA, COM MILHARES DE ATLETICANOS DANDO O SEU ADEUS. PORÉM, NENHUM TORCEDOR ESQUECE O DIRIGENTE, QUE ACABOU IMORTALIZANDO SUA CÉLEBRE FRASE: NÃO DEIXEM – NUNCA – MORRER O MEU ATLÉTICO!”.

Mas, e nós? O que nós fizemos em memória dele? Jofre não permitiu que o Atlético morresse, mas nós, atleticanos, permitimos a segunda morte do Jofre: a morte do esquecimento, a morte da ingratidão, a morte daquele que – verdadeiramente – deu-nos a vida!

E nossa memória é tão fraca, e nossa gratidão é tão escassa, que chegamos a esquecer que Evangelino e Petraglia – inegáveis fenômenos à frente de seus Clubes - são, em última análise, réplica e tréplica aos brados e à revolução do Presidente Jofre Cabral e Silva, que só não foi o maior dirigente do futebol do Paraná, em todos os tempos, e sob todas as hipóteses e condições, porque morreu, pelo Atlético, em 02 de Junho de 1968. Porque morreu de amor ao Atlético que era dele e que, também por ele, hoje é de todos nós!


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