Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Parabéns a vocês!

26/03/2008


Parabéns a vocês, pobres, ricos, ricos metidos a pobre e pobres metidos a ricos. Parabéns a toda gente Atleticana, independentemente de sexo, etnia ou condição social. Parabéns àqueles que pela idade já se acostumaram a entender o sofrimento para depois valorizar mais as explosões de alegria e para os outros, que ainda parecem crer que só existem conquistas.

Todas as nossas diferenças se anulam quando sentimos o orgulho de termos, por um motivo ou por outro, escolhido o Atlético como paixão comum. Paixão por este velhinho já oitentão, mas que teima em manter a vitalidade de quem acaba de chegar aos vinte.

Eu, que tive a oportunidade de conviver com meu querido avô, um dos membros da primeira diretoria do então recém- fundado Club Athletico Paranaense, ao lembrar de suas histórias, imagino o quanto teria sido importante para todos aqueles idealistas de 24, a possibilidade de chegar a conhecer este Atlético pujante, que mata de inveja os seus rivais Brasil afora.

Como neto orgulhoso de um dos pioneiros e filho de um ex-presidente, nos meus cinqüenta anos de existência vermelha e preta, pude acompanhar o Atlético por todos os caminhos pelos quais ele teve que passar. Não era fácil, e não há como esquecer dos tempos magros, porém não menos românticos por isso. Recordo-me das churrascadas no fundo do bosque dos pinheiros, hoje Setor Madre Maria, iniciativa de alguns poucos diretores e conselheiros para arrecadar dinheiro destinado ao custeio das despesas mais simples do Clube. Saboreávamos a carne bem assada, tendo como cenário uma meia-água de madeira e um varal, no qual balançavam ao vento as camisas listradas em vermelho e preto que viriam a ser usadas pelos jogadores na partida do dia seguinte. Uma outra vez, foi organizada uma caravana composta de carros de dirigentes e conselheiros, para transportar os jogadores desde a Sede da Buenos Aires até o Hotel Atlântico de Pontal do Sul, uma construção em madeira de frente para o mar, aonde os atletas ficariam concentrados e protegidos da pressão dos coxas em véspera de Atletiba decisivo. Não havia dinheiro sobrando para alugar um ônibus. Lembro ainda do meu pai, comprando na bilheteria seis ou sete ingressos para um jogo, bem como da minha sensação de aceitação e entendimento, quando ele ao perceber minha perplexidade infantil pelo aparentemente injustificado exagero, apressava-se em me responder, mesmo sem eu ter perguntado:“é para ajudar o time”.

Neste dia festivo é tempo também de refletir. Refletir sobre a importância e o heroísmo daqueles homens que contando somente com o seu amor pelo Atlético, conseguiram com muito sacrifício manter o gigante vivo para que então, através do talento e abnegação de outros, pudesse surgir um Atlético maior, imponente e até sofisticado.

Enganam-se aqueles que pensam que os tempos são outros, pois não são. Apesar de não parecer existem muito mais semelhanças do que diferenças entre o Atlético do passado e o Atlético de hoje, começando pelo idealismo dos homens que o dirigiram ontem e que o conduzem hoje. De Arcésio até Petraglia é claro que algo mudou, mas creiam em alguém que já nasceu em berço Rubro-Negro, a essência é absolutamente a mesma e nunca vai mudar, pois transcende às pessoas.

Neste momento de festa, de celebração, tomo a liberdade de pedir um presente em nome do meu querido Atlético. Se associem ao Clube, façam um sacrifício e mostrem que chegou o momento de participarmos de modo mais prático e real daquilo que já nos fez tanto bem.

O Atlético sempre foi e continuará sendo o produto da mistura entre todos aqueles, incluindo vocês, meus caros leitores, que em algum momento se apaixonaram por este símbolo da raça e da superação chamado Clube Atlético Paranaense.

Parabéns a vocês!


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