Michele Toardik

Michele Toardik de Oliveira, 44 anos, é advogada, mãe, sócia ininterrupta há mais de uma década e obsessivamente apaixonada pelo Furacão. Contrariou as imposições geográficas, tornando-se a mais atleticana de todas as "fluminenses". É figurinha carimbada nas rodas de resenha futebolística, tendo como marca registrada a veemência e o otimismo incondicional quando o assunto é o nosso Furacão.

 

 

Um dia de cada vez

18/03/2008


- Meu nome é Michele e eu sou dependente...

Poderia ser o início daqueles relatos, nos quais pessoas desesperadas buscam ajuda em irmandades que auxiliam o tratamento de uma dependência, mas é apenas um desabafo:

Não tem sido um ano fácil, pois tive que aprender a lidar com situações que até então eram desconhecidas.

Recebi muitas bênçãos, levei uns choques de realidade e sofri uma perda irreparável, mas todos esses fatos me causaram grandes reflexões e também me conduziram a tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida!

Quem me conhece sabe muito bem da minha dedicação incondicional ao Atlético, da minha entrega total e até mesmo do quanto consigo ser chata quando o meu rubro-negro está em pauta.

Mas quem me conhece sabe também da minha sensibilidade e do quanto posso ser auto-destrutiva quando se trata dessa minha paixão.

São anos de fidelidade, nos quais abri mão de muita coisa, de muitos dias, de muitas companhias, de horas preciosas e tudo isso em prol de algo que talvez eu nem acredite mais.

Quartas, quintas, sábados, domingos, ou seja lá pra quando marcaram a partida... Risquei todos os esses dias do meu calendário "pessoal". Dias nos quais ninguém poderia contar comigo, porque eu tinha um compromisso “muito mais importante”.

Minha decisão não tem nada a ver com o momento conturbado que o Furacão vive, com o fato de estarmos lanternas do paranaense, da falta de identidade dos jogadores, da desvalorização do torcedor, da traição sofrida pelo excelente Ney Franco, da venda dos nossos ídolos; enfim, nada disso me tiraria a esperança e afirmo que tenho convicção que muito em breve todas essas questões serão superadas. Mas a questão é que eu não consigo mais cultivar o meu amor pelo Furacão em detrimento das pessoas que me amam!

Domingo, entre um soluço e outro resolvi criar vergonha na cara! Finalmente caí na real de que não posso continuar agindo de uma forma impotente e colocando as pessoas que eu amo em segundo plano.

Pois bem, deixar de freqüentar o nosso estádio é provar meu amor próprio e o amor que tenho pelas pessoas especiais que me cercam: família, namorado e amigos. Assim como um viciado eu preciso passar por um processo de desatleticanização e quem sabe assim me tornar apenas uma torcedora.

É tudo o que eu preciso. Um dia de cada vez, um jogo de cada vez...

Esse é o meu recomeço! Essa foi a minha escolha. Como alguém que perdeu bens materiais, perdeu a vida que tinha, perdeu o emprego, saiu da sarjeta, esteve no fundo do poço e agora deseja dar a volta por cima.

Um recomeço difícil. Uma nova luta a cada dia. O peito hiato. E driblando essa saudade que no mesmo dia iniciou o seu ritual sádico de tortura.

Sentirei saudades, mas sei que será melhor assim.

Até brincando é difícil se despedir... rs!


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.