Silvio Toaldo Júnior

Silvio Toaldo Júnior, 49 anos, é administrador, engenheiro mecânico e sócio furacão desde 2008. Sempre acompanhou o Atlético desde a época de vacas magras no Pinheirão e teve um sonho realizado em 2001 vendo ao vivo e a cores o Furacão ser campeão brasileiro.

 

 

O castelo de areia desmoronou

17/03/2008


Conte comigo torcedor atleticano. O jargão usado pelo narrador Marcelo Ortiz, da rádio Banda B, cabe bem nesse momento da vida do Furacão. Dezessete jogos, quatorze vitórias, um empate e duas derrotas. Uma campanha muito boa, acima da média, certo? Não, infelizmente a campanha do Atlético de líder disparado da primeira fase, transformou-se em pesadelo e agora, em apenas duas rodadas, o líder geral do Estadual 2008 tornou-se o lanterna dos lanternas. Das oito equipes que ainda concorrem ao título de 2008, o Atlético é a única equipe que não somou pontos ainda. Motivo para desespero? Que nada, não é mesmo? Afinal, o Atlético é o Atlético e ponto final.

Na prática a teoria é totalmente diferente. A entrevista coletiva da última sexta-feira pregou uma coisa e dentro do campo o que se viu? Nada. Um time sem vergonha e sem identidade. Infelizmente um time sem alma. O Atlético perdeu mais uma vez para o time das vilas e se complicou de vez no Paranaense 2008. O time pode recuperar-se? Só não pode como deve se recuperar, pois essa é a obrigação dos jogadores e da comissão técnica, mas que a missão será difícil, isso será.

Tem algumas coisas que eu sinceramente não entendo. Pode ser que a minha visão simplista e imediatista esteja me atrapalhando, mas gostaria que alguém me explicasse por que o Atlético tanto quer ser reconhecido internacionalmente se mal consegue manter-se vivo num campeonato falido como o Paranaense? Por que o Atlético quer ser grande na América do Sul se anda se arrastando nos Campeonatos Brasileiros e na Sul-americana? Chega desse papinho que todos os torcedores são imediatistas e que só querem saber de títulos. Se você come mortadela não pode arrotar caviar. Se você esconde toda a sua sujeira embaixo do tapete da sala não tente passar uma imagem de limpinho para as visitas, isso é ser mentiroso e a mentira tem perna curta. A diretoria do Atlético deveria refazer todo seu planejamento e antes de querer conquistar a América tente conquistar o Estado do Paraná. Um passo de cada vez. A soberba já nos tirou da Copa do Brasil deste ano, será que ficaremos fora da fase final do Paranaense também? Seria mais uma vergonha, não? Sinceramente, espero que estes jogadores suem a camisa e conquistem o título.

Outra coisa que não me entra na cabeça é o seguinte: qualquer ser humano que tem vínculo empregatício está sujeito às normas da empresa em que presta seus serviços. Pois bem, se um indivíduo estiver com um rendimento abaixo da média o que deve acontecer naturalmente é um desligamento da empresa onde trabalha. Pois bem, a maioria dos trabalhadores exerce as suas funções por salários muito abaixo do que deveria receber, isso gera certa desmotivação que deve ser superada dia-a-dia. No Atlético isso é diferente, vemos cada jogador vestindo o manto sagrado atleticano que dá até dó e pelo que me consta um jogador de futebol deve ganhar no mínimo dez vezes o que ganha um metalúrgico, citando este como exemplo. Ao invés de fazer uma limpa nas prateleiras do grande supermercado que é o CT do Caju, o clube vai juntando lixo e tenta se desfazer de alguns os colocando para jogar. É impressionante a compaixão que a diretoria atleticana tem com esses profissionais, isso chega a me comover.

E para encerrar as minhas dúvidas, gostaria de saber como a diretoria pretender trabalhar para angariar novos sócios, levando em consideração a má fase do time. Ou alguém ainda acha que o time não está tão mal assim? Somente acreditando que o torcedor irá consumir a sua paixão sem receber nada em troca? Não, isso não vai acontecer. Um casamento só acaba em separação quando uma das partes não faz nada para demonstrar todo seu amor e seu carinho pelo seu cônjuge. Caso contrário, mesmo aos trancos e barrancos, casais seguem a sua vida dentro de uma normalidade aceitável pela sociedade.

Somos todos partes de uma engrenagem, mas o Atlético insiste em pensar que isso não é verdade. Enquanto o torcedor for deixado de lado ou for colocado para escanteio, a reação será a mesma, ou seja, sem um time competente dentro de campo, esqueça torcida nas arquibancadas. Que a diretoria atleticana, a comissão técnica e principalmente os jogadores façam a sua parte nesse casamento com a torcida atleticana, caso contrário as vaias irão aparecer e a torcida vai se afastar. Espero que não seja necessária uma nova onda promocional dos preços dos ingressos, como foi feita em 2007 para salvar o time da degola.

A hora é de reflexão. Espero que tudo o que o Atlético passou nesses três primeiros meses do ano seja decisivo para um ano de sucesso do Furacão. Caso contrário, de nada adianta um planejamento vitorioso se as peças da engrenagem não estão em sintonia. Vamos abrir nossos olhos antes que seja tarde, antes que venha mais uma onda e acabe com o castelinho de areia atleticano. Esse mesmo castelinho que tantos insistem em dizer que está firme, forte e rijo.


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