Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Perder faz parte

13/03/2008


Nenhum torcedor com dois neurônios funcionando relativamente bem pode exigir que o seu time vença sempre. Se considerarmos a frieza dos resultados, nós os Atleticanos teríamos muito pouco para reclamar deste início de ano, afinal vencemos quase todos os jogos e até o momento o desastre maior foi a eliminação da Copa do Brasil por causa de dois empates. Poderiam ter sido coisas do esporte, mas não foram.

Mesmo vencendo ou empatando, o que tem incomodado aos torcedores mais atentos e mais críticos, é a visível queda do desempenho do time. Não é possível deixar de observar, com ou sem paixão, a evidência clara e absoluta de que após a saída de três titulares o time despencou, primeiro no aspecto técnico e agora, aparentemente e como conseqüência, também no motivacional.

Enfim, jogadores se vão e talvez esse fenômeno, causado pela Lei Pelé, seja realmente de difícil controle. De novo, poderiam ser coisas normais, mas não são.

O que realmente não é normal e muito menos aceitável, é a maneira com a qual a nossa diretoria reage contra estes percalços. Falar da inevitabilidade do constante (e bem sucedido) assédio aos nossos craques, soa estranho e carece de maiores explicações quando nós, simples e desinformados torcedores, nos recordamos que uma cota de algumas centenas de milhares de reais foi rejeitada pelo nosso Clube a título de pagamento pelo direito de transmitir os jogos do interessantíssimo Campeonato Paranaense. Era pouco para o que oferece o Atlético em termos de imagem, mas talvez tivesse sido importante para tentar segurar alguns jogadores, adiar a saída de outros ou por fim, trazer substitutos à altura para aqueles que inevitavelmente acabassem por sair no meio do caminho.

Quando se espera uma palavra de esperança, de conforto e até de cumplicidade, vem um diretor e com tremenda arrogância tenta demonstrar (ainda que sem nenhum argumento técnico) que a falta de Ferreira, Claiton e Jancarlos não influenciou na performance do time. Ora, senhores leitores, qualquer time, por melhor que seja, sente a falta de três titulares, o que então se dirá do time do Atlético que tinha nestes elementos mais do que simples titulares. Eram peças que tinham um papel importantíssimo naquilo que o treinador havia planejado para arrumar taticamente a equipe.

Na busca de algum alento, este modesto Atleticano que lhes escreve, incentivado pela própria direção, que encoraja os acessos ao sitio oficial como uma das formas de ajudar o Clube, ao abrir a dita página, acabou por dar de cara com a inoportuna e desinteressante notícia da visita da Seleção da Jamaica ao CT do Caju. E como fico eu, que entrei ali com a expectativa de ver uma mensagem de nossos diretores, admitindo a gravidade do momento e contando, ainda que sem detalhes, que estavam empenhados em mudar o rumo que as coisas estão tomando? E eu, que queria ler que a poeira está sendo sacudida e agora tenho que me contentar com o conformismo implícito nas frases feitas de treinador e jogadores? Como posso deixar de ficar, primeiro preocupado e logo em seguida, desanimado?

Perder jogos, perder jogadores, é parte da vida de um time de futebol, mas que pelo menos os torcedores possam ter, através das manifestações daqueles que comandam, a consciência de que existe a intenção firme e objetiva de resolver o problema. Declarações (mais uma vez) infelizes, assim como a falta de manifestações claras, servem apenas para dar forças à especulação e à revolta, geradas que são pela insegurança transmitida por aqueles que deviam pelo menos mostrar que estão preocupados e empenhados em diminuir as expectativas negativas.

Se entenderem que estou sendo injusto com a diretoria, ao atribuir a ela uma postura de inação, peço desculpas. A culpa seguramente não é minha e nem daqueles que têm a mesma sensação que eu. É mais uma vez da péssima comunicação que existe entre o Clube e seus torcedores.

N.do A.: Esta coluna foi publicada às 13h17 do dia 13/03/2008 e às 16h24 do mesmo dia, o sítio oficial do Clube Atlético Paranaense publicou a notícia de que a diretoria concederia uma entrevista coletiva no dia 14/03. Deste modo as considerações do texto foram baseadas no quadro anterior à divulgação da intenção da diretoria em prestar esclarecimentos públicos. O autor felicita aos senhores dirigentes pela iniciativa, esperando que esta não seja uma atitude isolada e que cada vez mais se incremente a comunicação e a transparência no nosso Clube.


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