Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Fantasmas

13/03/2008


Quero pedir desculpas ao leitor, mas vou chorar sobre o leite derramado. Ou melhor, vou lamentar sobre o leite derramado, chorar já é demais e essa gente que manda no meu Atlético não merece as minhas lágrimas.

Vou falar sobre a saída do jogador Claiton. Fiquei muitos dias pensando, refletindo e tentando montar um quebra-cabeças. Hoje estou certo: Claiton não sairia do Atlético apenas por uma oferta milionária. Mas Rogério, você está dizendo “apenas” uma oferta milionária? Sim. Nada me tira da cabeça que Claiton tinha o maior dos desejos em continuar no Atlético.

Eu fui uma das pessoas privilegiadas. Pude conversar com o Claiton, cara a cara. Acompanhei desde o início todas as declarações do jogador. Pude acompanhar com detalhes a sua passagem e todos os seus momentos dentro do Atlético. Claiton cresceu, amadureceu, evoluiu como atleta e chegou ao posto máximo de ídolo. E ser ídolo no nosso Atlético não é pra qualquer Zé de Piracicaba, que chega aqui, entrega um currículo no portão do CT do Caju, se despede, vai embora e uma semana depois é chamado para assumir a condição de titular no Atlético.

Ser ídolo aqui no meu Atlético é duro. Tem que suar a camisa, tem que justificar o salário, tem que estar próximo do torcedor, tem que ter tesão pelas cores do Atlético. Claiton, estou convicto, não sairia do Atlético da maneira como saiu. Claiton é um cara cabeça, e percebeu que o Atlético possui um autoritarismo que não permite que os funcionários do clube exerçam suas funções de modo contrário ao da administração. Ou o cara obedece, ou sua vida vira um inferno. Ou o cara vira boneco do time, ou segue sua vida.

O cara que vem cheio de vontade de jogar no Atlético, se ilude de que vai encontrar um mundo de flores. Que nada, essa beleza e essa comodidade é tudo balela. O cara vai encontrar pela frente pessoas de poder, de negócios, de dinheiro no bolso e que depois lembram: “Ah, é mesmo, você veio para jogar futebol!” E aí o cara começa a ser o maior pau mandado da história do futebol. Se o elemento possui o mínimo de desejo de jogar futebol e ter uma carreira brilhante, vai se esforçar, não tenho dúvida. Mas em questão de tempo vai ser obrigado a entender que antes de jogar futebol, precisa aprender a trabalhar sob pressão. E qualquer ser humano, no alto de sua bondade e sua humildade, não agüenta conviver em um clube como o Atlético. Não pelo clube ou por sua estrutura fantástica, mas pelas pessoas que ditam as regras no CT e na Baixada.

Aos poucos, uns e outros vão percebendo que o mundo da fantasia dentro do Atlético é feito para pessoas que se submetem a viver de chicote. Uns aceitam, outros não. O clima é ruim, o ambiente é falso, é ilusório. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Ou você escala o Michel, ou sua batata vai começar a assar. Ou você deixa o Irênio (que recebe um salário muito maior que Thiaguinho do Beltrão) jogar o jogo inteiro, ou o bicho vai pegar. E assim segue a vida maldita dentro do Atlético. Atletas que apanham da bola, como Pedro Oldoni, podem ser titulares absolutos de uma vitrine que hoje em dia está “embaçada”, enquanto Wallyson treina e continua em tratamento (que tratamento? Alguém tem prova disso?) e não teve sequer “uma” (eu disse uma) oportunidade no ataque atleticano. Pelo amor de Deus, o que será que se passa na cabeça do Piauí quando Michel tropeça na bola pela lateral esquerda? Mas afinal, pra que serve o Piauí? E aposto com quem quiser que Marcelo Ramos está doido pra fazer as malas. Só não fez ainda para não causar a impressão de um verdadeiro estrago no Atlético.

A verdade é que ninguém mais quer jogar no Atlético. A verdade é que ao observar a primeira brecha, o cara dá no pé. Ninguém suporta, por algum motivo, conviver com as pessoas do Atlético. Está aí, na nossa cara, mais uma prova: Jancarlos. Perdemos, de novo, para o São Paulo. Erramos, ou algum cidadão, mais uma vez, errou. Deixou escapar novamente um jogador que não era lá essas coisas, mas perto do que temos, era um craque. A impressão que tenho é que aqui os atletas vivem acorrentados, enjaulados, marcados como gado, com seus valores cravados em suas peles. Quando é aberta a porta do CT, todos pensam: “agora é minha vez”, com a imagem da Nossa Senhora na mão e os dedos cruzados.

O único que apareceu e que teve sangue nos olhos, reergueu os ânimos no Atlético e deu ao Rubro-negro a cara de um Furacão, foi Claiton. Um jogador como o Claiton, que estava encostado e rejeitado no Flamengo, que nunca teve uma projeção tão boa por onde passou, soube fazer do Atlético, a sua casa. Bateu no peito e inflamou o grupo com sua ousadia e sua maneira de ser. Claiton não sairia do Atlético! Mas todos querem sair do Atlético.

E desde a saída do capitão, o Atlético desmontou. Acabou a vontade e o desejo de vencer. Por que será? E será que Ney Franco também vai perceber que a tal “quebra do planejamento” é algo habitual quando nos referimos a “este” Atlético?

A demora em normalizar o novo sistema de sócios (nada foi normalizado, todos os cadastros estão sendo feitos como foram feitos em 2007), Ferreira, Jancarlos, Claiton, eliminação da Copa do Brasil, possível perda do campeonato paranaense. O que mais falta para o Atlético?

A verdade é que ninguém suporta conviver neste ambiente que foi criado no Atlético.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.