Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Foie gras

12/03/2008


Essa iguaria típica da culinária francesa é altamente condenada pelos ambientalistas, ou ecochatos, como quiser. Gansos ainda novos são escolhidos e tratados a ração ultra reforçada de lipídios e carboidratos para que seus fígados cresçam de maneira anormal.

Tubos de até 25cm são colocados “guela abaixo” dos bichinhos para que o alimento não seja deglutido e quem tenha que pagar o pato do ganso seja seu pobre fígado. Atualmente me sinto um foie gras, ou melhor, o que restou dele, o ganso. Sendo ganso, sou um pato em acreditar que este ano seria diferente.

Tenho uma queda pela França e isso se explica. Vivi um romance com uma bela francesa em 2000 (depois ela veio novamente em 2004, mas já não foi a mesma coisa). Aquele monumento de 1,86 m de altura, cabelos claros e olhos verdes mexeu comigo e a paixonite que durou pouco mais de dois meses foi suficiente para me fazer interessado em muitas coisas sobre o país da Cidade Luz. Me interesso também por culinária e foie gras me causou um sentimento de culpa ao ser consumido. Hoje me sinto como o patê do fígado do ganso. Obrigado, Helene, pelas aulas de francês!

O ganso sofre porque seu destino já está traçado. Será alimentado, iludido que terá ração à vontade para depois se transformar no foie gras na mesa de bacanas, visto que o prato com este ingrediente é caro. Aliás, na verdade nem me sinto como o foie gras, me sinto como o resto do ganso, desprezado e que só tem utilidade para determinado fim por determinado tempo.

Hoje sei que o foie gras vale mais do que eu. Eu custo R$ 50, o famoso “cinqüentinha” para o clube, já o sofisticado prato francês, no mínimo 3 vezes isso. Pode-se comer um foie gras produzido no Brasil, mas com certeza o francês é mais caro, porque qualidade tem seu preço e não é vendendo bons jogadores e contratando dúvidas, promessas, que vamos conseguir avançar.

Nos vendem uma imagem de sofisticação, de luxo, de “primeiro mundo”, mas o conteúdo é ínfimo, pobre podre. Parcerias com times estrangeiros, parcerias nacionais que não nos rendem bons jogadores, patrocínios mil, economia tanto na venda de jogadores como de salários destes sem que a reposição à altura seja providenciada. É muito foie gras quando falta feijão com arroz na mesa, quando falta o que de mais simples nós torcedores do Clube Atlético Paranaense queremos: um time de futebol que se não for capaz de conquistar títulos, ao menos não humilhe tanto seu torcedor como as medíocres formações dos últimos 3 anos que tanto tem nos feito sofrer.

É tão difícil assim? E você torcedor influente, você sócio, principalmente você senhor conselheiro que deu carta branca para fazerem tudo que têm feito, vão continuar a ficar confortavelmente sentados, comendo seu foie gras enquanto o torcedor comum é tratado à farinha com água? Afinal, somos um time de futebol cuja ambição é conquistar títulos ou uma empresa que dá volta olímpica na apresentação de balanços, que vai buscar seu diretor de marketing no caminhão de bombeiros no aeroporto por termos ganho o deca campeonato do Top of Mind?


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