Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Jogador é humano

11/03/2008


Meu pai foi jogador de futebol profissional. Conseguiu algum destaque principalmente no futebol catarinense e aqui no Paraná participou de uma das últimas campanhas do extinto Ferroviário, formando dupla de zaga com Zequinha, de grande história junto ao Atlético. Diz ele que formavam a dupla “Nariz e Cabeça”, cabendo o primeiro apelido ao Zequinha devido a sua avantajada “nasa" e o segundo por ele ser inteligente. Ponho em dúvida essa última parte.

Pois bem, ele atuou numa época em que tudo era muito diferente. Se hoje vemos mamães quase que oferecendo suas filhas aos boleiros em busca do famoso golpe da barriga, outrora era quase um pecado se envolver com jogador de futebol. Jogador de futebol e músico era tido como a pior espécie de homens, eram exatamente tudo o que uma família não queria para suas princesas. Naquele tempo de chuteiras que causavam calos, bola de capotão e camisas que pesavam como halteres, ainda mais quando molhadas de suor, pagava-se pouco, tendo o futebol perdido vários bons atletas para bancos, cursos de medicina ou fóruns e escritórios de advocacia.

A vida de jogador requer, ainda hoje, privações. Esse mundo glamourizado que vemos pela TV, de carrões, festas, badalações, Europa, roupas de grife e relógios e correntes de ouro é para uma minoria. Minoria essa, que em começo de carreira teve as mesmas dificuldades que alguns enfrentam durante toda a carreira. Para estar ali em campo, mesmo que seja sem muita aptidão como temos visto alguns dentro do próprio Atlético nos últimos 3 anos, o cara ralou muito, passou por muitas privações, passou muita noite de frio, talvez fome, teve que ouvir muito desaforo ou ver protegidos tomarem seu lugar em categorias de base em busca de seu sonho.

Eles são tão humanos como nós, são pessoas normais, de carne e osso, profissionais, na maioria que sustentam famílias de origem pobre (iria escrever humilde, mas o sujeito pode ser pobre e arrogante, assim como rico e humilde). Quantas horas longe da família, quanto tempo em quarto de hotel, viajando, vendo irmãos, pais e mesmo seus filhos por fotos ou via webcam?

Gostei da matéria que vi no site oficial neste começo de semana. Lá mostrava a satisfação dos garotos das equipes de base num parque aquático no interior de Santa Catarina. Nas fotos é possível ver a alegria incontida, o sorriso, a felicidade na bela tarde de sol desses futuros atletas, por enquanto somente garotos. Ali, em cada brincadeira, em cada gesto de felicidade dos meninos, viu-se um Atlético preocupado com o ser humano, com lado menos lógico e mais coração desses jogadores.

Jogador, inclusive os profissionais também precisam disso, dessa atenção, dessa maneira de saber lidar, inclusive com as cobranças. Talvez o Atlético, profissionalizado ao máximo, esteja errando aí, tratando seus atletas, seus “operários” com muita frieza, de uma maneira em que eles pouco se apegam ao clube. O jogador, tratado por vezes como mero produto, usa o clube como mera prateleira. O jogador que está lutando como nunca para ter a chance de vir para cá é o mesmo que meses depois faz de tudo para sair do clube, por vezes através de medida judicial.

O Atlético precisa de mão de obra e nossos peões são os jogadores. Mas qualquer empresa, em qualquer ramo que possamos pensar, rende muito mais quando seus funcionários trabalham satisfeitos e pensando no bem do todo, não somente no individual.



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