Wagner Ribas

Wagner Ribas, 42 anos, consultor, acima de tudo pai e atleticano, costuma viver na Baixada as suas maiores alegrias. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

Tudo era sonho

11/03/2008


Até 1995, no auge dos meus 13 anos, tudo era sonho.

Tudo o que eu precisava para ser feliz, era uma bola de capotão, meus amigos e minha imaginação. Afinal com minha bola de capotão, meus amigos e minha imaginação, eu podia ser Ricardo Pinto, podia ser Branco ou ainda podia ser Ruud Gullit em nossas disputas da taça “Charles Miller” onde o gol era o muro da casa da dona Maria.

Tudo o que eu precisava era que meu Furacão vencesse, não importava o adversário. Não me importava com estádio moderno, CT com tecnologia de primeira. Afinal, nem entendia pra que servia aquilo tudo. O que eu sonhava mesmo era ver meu Furacão campeão, paranaense, brasileiro, sul-americano, mundial e do universo.

Acreditava que meu sucesso dependia apenas de mim e de mais ninguém e acreditava que teria tudo o que eu quisesse, sozinho.

Mas o tempo foi passando, e então passei a acreditar em certas coisas e desacreditar em outras.

Percebi que alguns sonhos já não eram tão impossíveis, e outros realmente seriam quase impossíveis.

As brincadeiras com a bola de capotão já não tinham mais graça e eu queria logo completar meus 18 anos, queria poder tirar minha carteira de motorista, entrar nas baladas, minha liberdade de ir e vir sem ter que dar satisfação a ninguém.

Passei a ver que precisaria ter uma profissão estável para ganhar dinheiro o suficiente e pagar minhas estripulias, meus luxos, um carro próprio, e principalmente, poder trabalhar em algo que me desse prazer em acordar cedo todos, ou pelo menos quase todos os dias e ir à labuta. Mas pra isso, teria que me preparar.

Passei a acreditar que o Furacão, administrado seriamente e com profissionalismo, poderia sim, fazer frente aos grandes clubes que cresci vendo serem campeões de tudo.

E o principal, passei a ver que ninguém faz nada sozinho. Afinal, meu sucesso não dependia somente de mim, mas também de todas aquelas pessoas que estavam ao meu lado.

Eu cresci, deixei apenas de sonhar e passei também a ver a realidade.

Hoje, tenho uma profissão estável, que gosto muito, mas que ainda não me dá total liberdade financeira, mesmo tendo me preparado para isso.

Vi meu Furacão campeão paranaense, Brasileiro e vice-campeão da América, mas que vem lutando para se colocar numa posição ao sol diante dos outros grandes clubes do país, e enfrenta uma crise de identidade.

Entendo as dificuldades do dia-dia em fazer frente à clubes que tem suas receitas de até 5 vezes maiores que a nossa. Vejo as dificuldades de estarmos num estado-província, seja de gaúchos ou paulistas, e se não bastasse, ainda vivermos numa cidade extremamente autofagista.

Vejo também as dificuldades em atender os sonhos do torcedor, que quer ser campeão de tudo, vencer todos os grandes adversários, mas que ainda dá pouco de si.

Vejo tudo isso. Mas não entendo uma coisa. Por que nos fazem sonhar tanto com tudo aquilo que sabemos que podemos, mas na hora do vamos ver, é sempre o mesmo papo? Por que nos vendem uma imagem de campeão, quando na verdade entramos nos campeonatos para ver o que vai dar, com apostas e incertezas? Por que não se arrisca mais em futebol, quando já está comprovado que times com mais investimentos tem maiores chances de sucesso? Por que esse projeto, tão longo, é sempre a desculpa de tudo?

Antes tudo era sonho, mas hoje sabemos que com um pouco mais de arrojo, temos plenas condições de fazer frente aos grandes clubes. Com apenas um pouco mais de investimentos no futebol, podemos chegar a conquistas ainda maiores. É tão difícil assim?

Eu quero acreditar que o gás desses que tocam o projeto iniciado em 1995, ainda não acabou. Quero acreditar que o rumo que estamos tomando não é um retrocesso, mas sim um atalho. Quero mesmo, mas tá bem difícil.

Abre aspas

Sou grato a todo o bem que você me fez, mas seu amor já não é suficiente. Peço que você me faça mais, ou não me ame mais.

Feche aspas


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