Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Meu irmão, meu pai

28/02/2008


28 de fevereiro de 2008. Hoje eu voltei ao Joaquim Américo, a velha Baixada. Fiquei ali por aproximadamente uns 30 minutos, passeando na praça em frente ao estádio, andando pelo ginásio, observando o quadro na entrada mostrando as fotos e a história do Atlético. Sentei no “morrinho”, ao lado das iniciais “CAP” e ali permaneci por uns bons 10 minutos.

Levantei, olhei em volta, a reta, o gramado, as árvores ao fundo e desci até o alambrado. Fiquei por ali mais uns 5 minutos, vivendo aquele título de 1985 contra o Londrina, em tarde de sol, quando comemorei três gols e vesti a faixa de campeão ao lado do goleiro Marolla. Dei a volta e fui até o outro lado, até o meio de campo, onde assisti os dois gols de Agnaldo e o gol do meia Cristóvão. Que maravilha era aquele Atlético!

Dei a volta novamente no ginásio, passei pelas catracas e saí da Baixada. Olhei para o lado e percebi que ali, atento, estava alguém com as mãos no meu ombro. Como sempre, com a mão esquerda sobre o meu ombro esquerdo, me abraçando e me guiando. Me dizendo coisas bonitas, às vezes coisas duras, mas sempre ali, ao meu lado, ditando o ritmo do meu saudoso e eterno pai. Ao meu lado, na velha e boa Baixada, estava caminhando ao meu lado o meu irmão e meu sempre amigo Robinson de Andrade. Ou só Robi. Grande Robi!

Talvez, sem saber, eu tenha sido presenteado de alguma forma pelo meu próprio pai, quando ele me deixou e prematuramente destinou aos meus dois irmãos a missão de serem “pais”, substituindo a figura masculina dentro de casa. Cada um deles, Robinson e Ayrton, me deram um pouco do gostinho de ter um pai. Cada qual a seu modo, com seus estilos diferentes, regras diferentes, jeitos opostos, mas com um atleticanismo que certamente foi herdado com brilhantismo e precisão. Então, deixei de ter um pai e passei a ter dois. Um mais eufórico, mais desligado, outro mais sério, mais compenetrado. Um atleticano, outro também.

E quase sempre juntos, eu e meus pais (neste caso eu, meu pai e meu pai) fazíamos as caminhadas rumo à Baixada, ao Pinheirão ou ao Couto Pereira. Foi com eles que aprendi a gostar de futebol. Foram eles que me ensinaram a arte de torcer pelo meu time do coração. Me levaram ao Joaquim Américo, e de lá nunca mais saí. Então acabei sendo criado por dois pais e hoje sou um pouco de cada. Parte de mim é mais séria, mais concentrada, feito o Robi, e parte de mim é meio distraída, meio doida, feito o Ayrton.

Estilos a parte e sem rasgação de seda a essas duas pessoas bem sucedidas, extremamente competentes e fantásticas, peço licença ao meu irmão Ayrton porque hoje eu quero é falar do Robinson. Ou o Robi. Grande Robi!

Hoje é o dia do aniversário do Robi e ele está a alguns kilômetros de distância, acompanhando o nosso Furacão de longe e tenho certeza, sentindo uma saudade imensa da família e da Baixada. Não tenho dúvida disso. Faz tempo, muito tempo que não sento com o Robi para relembrar daqueles Atletibas infernais, daquele tempo em que o Atlético estava tão perto da gente e nos levava ao delírio com os títulos estaduais. O Atlético cresceu, eu cresci, a vida mudou, e o que trago na lembrança e no coração são as belas tardes de domingo que passamos assistindo aos jogos do Atlético.

Quanto tempo! Quanta saudade! Hoje o Robi mora longe, em Rio das Ostras/RJ, mas tenho absoluta convicção que ao mesmo tempo ele mora aqui, bem pertinho da gente, bem pertinho da família, dos amigos e do Atlético. E cada vez que vou à Baixada, olho ao meu redor e me lembro do ginásio, do “morrinho”, das árvores, do alambrado e das conquistas. Cada vez que saio da Baixada, gritando, pulando e cantando, sinto uma mão esquerda sobre o meu ombro esquerdo, que continua a me guiar, a me ensinar e a me encantar.

A você, meu amigo, meu pai, meu irmão Robi, meu eterno agradecimento, reconhecimento e admiração. Pra mim, você é “o cara”. Feliz aniversário e que Deus te abençoe, hoje e sempre!


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