Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

A partida do Capitão Gancho

25/02/2008


Deu na Furacao.com – o melhor site do Clube Atlético Paranaense – a notícia que a seguir transcrevo em seus trechos principais:

“Antes da partida entre o Atlético e o J. Malucelli, neste domingo, no Janguito Malucelli, as emissoras de rádio Banda B, Difusora, Transamérica e CBN trouxeram a informação de que o volante Claiton pode deixar o Rubro-Negro. Segundo as rádios, o jogador pode trocar a Baixada pelo futebol do Japão. A diretoria atleticana não se pronunciou sobre uma possível transferência de Claiton.

Se a diretoria não quis confirmar a proposta, o próprio volante revelou que foi procurado pelo Consadole Sapporo, time da Ilha de Hokkaido, do Japão. Claiton foi poupado do jogo deste domingo, mas marcou presença no Ecoestádio Janguito Malucelli. “Pintou uma proposta de um clube japonês, o Consadole Sapporo. Houve um contato, uma proposta que é interessante pela idade que eu tenho. Sempre falei que a minha vontade era ficar aqui o resto da minha vida, mas temos que ter discernimento para saber que envelhecemos e as coisas ficam complicadas. Vamos esperar uma conversa com o Atlético para definir se fico ou não”, afirmou o jogador, de 30 anos.

Pelo tom de seu discurso, Claiton dificilmente permanecerá no Rubro-Negro, apesar de ter contrato até dezembro deste ano”.

Pois bem: li e reli a notícia. Fosse eu ainda um fumante, teria acendido um marlboro vermelho e dado uma daquelas tragadas fundas, pra depois exclamar, esmurrando o teclado: “Mercenário, fdp!”, como fiz tantas vezes nos casos de Dagoberto, Aloísio e outras figuras que andaram usando o Atlético como trampolim.

Li e reli a notícia. Fosse eu ainda um torcedor inocente, teria chorado de ódio em frente ao computador, como fazia quando era criança, ao perder um clássico no qual tínhamos sido garfados pelo homem do apito (sim, muitas vezes chorei de ódio – tinha sete, oito anos – e me cortava o peito ver o meu Atlético sendo roubado Atletiba após Atletiba).

Li e reli a notícia: e não fiquei espantado, nem enfurecido, nem nada. “Marcela me amou durante quinze meses e onze contos de réis” – disse Brás Cubas, personagem de Machado de Assis. Claiton amou o Atlético por alguns meses e sabe-se lá quantas dezenas de milhares de reais, nem me dei o trabalho de levantar os números dessa sentença literária, filosófica e futebolística.

Claiton se converte em mais um que usa o Atlético como trampolim, mas quer sair – de fininho – numa boa, bancando o bom-moço “Pintou uma proposta de um clube japonês, o Consadole Sapporo. Houve um contato, uma proposta que é interessante pela idade que eu tenho. Sempre falei que a minha vontade era ficar aqui o resto da minha vida, mas temos que ter discernimento para saber que envelhecemos e as coisas ficam complicadas. Vamos esperar uma conversa com o Atlético para definir se fico ou não”.

Claiton, esperar o quê? Vai duma vez, rapaz! Não me encha o saco com esse papo de querer ficar no Atlético o resto da vida! Se amasse tanto o Atlético você ficava! Você ama mesmo é o dinheiro! Se por acaso o time verde tivesse a mesma força financeira do Consadole Sapporo e te oferecesse essa grana, você trocava a Arena pelo Pinga-Mijo com a velocidade de um trem bala japonês.

E a coisa causa ainda mais nojo quando a gente lembra que você é o Capitão do time que conseguiu superar a façanha do inesquecível Furacão de 49! Você é o Capitão do time que está caminhando a passos largos para ser brilhantemente campeão estadual 2008 e mesmo assim você se vende às moedas japonesas em nome da necessidade de ter discernimento!

“Tu é” Capitão, Claiton: Capitão Gancho, mais um pirata, mais um lamento.

A gente envelhece e a coisa vai ficando complicada. Eu que o diga, já não acredito mais em quase nada. Mas ainda fica intocada uma certeza que não perece: o atleticano – e só ele – sabe amar o Atlético com a intensidade, e a verdade, que ele merece!


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