Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Uma imagem para a História

20/02/2008


Uma imagem vale mais do que mil palavras. A História está aí – recheada de imagens - para não nos deixar mentir. Quem é beatlemaníaco não esquece que no dia 30 de janeiro de 1969, uma tarde fria em Londres, no alto do edifício sede da Apple Records, os Beatles realizaram sua última apresentação para o público.

Na realidade, os Beatles vinham de um trágico período de gravações e ensaios num estúdio londrino, onde gravavam o filme Let It Be. As sessões foram terríveis, pois além da figura insuportável de Yoko Ono (grudada em John Lennon 24 horas por dia, sem tréguas), a banda estava brigando muito entre si. Desde o primoroso Álbum Branco, os quatro já não se entendiam muito no estúdio.

Quando decidiram que Let it Be deveria ser gravado no novo, porém precário, Apple Studios, os Beatles também pensaram que poderiam agir normalmente. As sessões no prédio da Apple ocorreram com mais calma, tanto que a idéia de tocar no telhado do prédio veio do próprio Lennon. Antes, Paul McCartney tinha planejado realizar um concerto no final das gravações e, para isso, locais no mundo inteiro foram procurados, porém a Banda não obteve êxito nessa busca.

Assim, os Beatles decidiram tocar no telhado do prédio e até Harrison, avesso a shows, gostou da idéia. Naquela tarde fria, os primeiros acordes de Get Back foram fundamentais para que os moradores dos prédios vizinhos viessem até a sacada para dar uma olhada naqueles cabeludos tocando rock na fria cidade de Londres.

Os Beatles tocaram durante 40 minutos, até a Polícia bater na porta da Apple (na verdade a polícia nem sequer pediu o término do show, apenas solicitou que os Beatles abaixassem o volume dos instrumentos, mas não teve acordo e o show teve de acabar antes que o quarteto pudesse executar todo o set previsto).

O show do telhado foi adicionado ao filme Let it Be e nunca mais saiu das cabeças e dos corações dos milhões de beatlemaníacos. Quando a gente lembra deles, as imagens daquele distante 30 de janeiro de 1969 nos vêm à mente e é como se o sonho nunca tivesse acabado. Uma imagem vale mais do que mil palavras:

“There are places I remember all my life,
Though some have changed,
Some forever, not for better,
Some have gone and some remain”.

“Há lugares dos quais vou me lembrar
por toda a minha vida, embora alguns tenham mudado
Alguns para sempre, e não para melhor
Alguns se foram e outros permanecem”.

Os Beatles são terna eternidade.

Quem já passou dos 30 e poucos não esquece: Olimpíadas de Moscou, 1980. A União Soviética recebeu, em 1974, a notícia de que Moscou iria abrigar os Jogos Olímpicos de 1980. Para mostrar a supremacia contra o rival Estados Unidos, os soviéticos trataram de acertar todos os detalhes para que a organização dos Jogos fosse perfeita. Só não contavam que o governo iria mandar alguns soldados invadirem o Afeganistão, causando descontentamento nos EUA seguido de um grande boicote aos Jogos.

A decisão norte-americana provocou uma reação em cascata, sendo que outras 60 nações se recusaram a participar das Olimpíadas, entre elas Alemanha Ocidental, Japão, Coréia do Sul, Canadá, Argentina e Portugal.

Mesmo assim, os soviéticos conseguiram promover uma Olimpíada bem organizada, gastando US$ 9 bilhões. As cerimônias de abertura e encerramento contaram com a intensa participação do público. Porém, a grande imagem que ficou daquela Olimpíada se deve ao carismático mascote oficial, o ursinho Mischa.

No encerramento dos jogos de Moscou, por meio de uma performance de displays no Estádio Olímpico, surgiu gigantesca, diante dos olhos do Mundo, a imagem do ursinho Mischa - inocente, infantil, desarmado em meio à Guerra Fria - com uma lágrima nos olhos, despedindo-se de todos como se pedisse paz. Uma imagem vale mais do que mil palavras: a lágrima inocente é o antídoto da Guerra; é a chuva que molha a terra onde repousam as sementes da nossa esperança de vivermos dias melhores.

Hoje, 20 de fevereiro de 2008. Logo mais o Atlético escreverá mais um capítulo de ouro na sua História. Logo mais, o Atlético obterá sua 12ª vitória consecutiva no campeonato paranaense, superando o feito alcançado em 1949 pelo inesquecível Furacão de Caju, Laio, Délcio, Waldomiro, Waldir, Wilson, Sanguinetti, Viana, Rui, Neno, Jackson, Cireno, Motorzinho e outras feras que varreram este Paraná naquele mágico ano de 1949.

Hoje, 20 de fevereiro de 2008, mais de vinte mil atleticanos estarão na Arena da Baixada prontos para fazer e testemunhar a História. Hoje, 20 de fevereiro de 2008, o Atlético, ao bater sem dó no time do Cianorte, obterá sua 12ª vitória consecutiva no campeonato paranaense, superando o feito alcançado em 1949 pelo inesquecível Furacão.

E como a História é feita de imagens que valem mais do que mil palavras, proponho à Torcida do Clube Atlético Paranaense - a maior do Estado e a mais Fanática do Mundo - que crie, nas dependências da Baixada, neste dia memorável, uma imagem para não ser esquecida.

Quando o jogo alcançar os 40 minutos do segundo tempo, todos nós, irmãos por parte do Atlético, daremos as mãos e levantaremos os braços ao Céu. E unidos nessa corrente, cantaremos o Hino do Atlético, como homenagem ao time de 2008 que estará em campo escrevendo a História; como homenagem ao time de 1949 que naquele mesmo gramado escreveu uma das mais lindas páginas de nossas vidas; como prova de que o Atlético de ontem e de hoje está unido como sempre, ou mais do que nunca.

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Hoje à noite, a partir do quadragésimo minuto da etapa final, todos nós, irmãos por parte do Atlético, estaremos de mãos dadas, braços levantados para o Céu e cantando em uníssono:

“Atlético, Atlético!
Conhecemos teu valor
E a Camisa Rubro-Negra
Só se veste por amor!”...

... deixando uma imagem inesquecível na História, como é inesquecível o Furacão de 49, como será inesquecível o Furacão de 2008, como será inesquecível este dia 20 de fevereiro de 2008!


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